Depois de termos considerado a Santíssima Virgem em seu maior título de glória, o de Mãe de Deus, na plenitude de graça que lhe foi concedida e em todos os seus privilégios para que fosse a digna Mãe de Deus, é necessário considerá-la em suas relações conosco.
A partir desse ponto de vista, a Tradição atribui a Maria os títulos de Mãe do Redentor, Mãe de todos os homens e Mediadora, com respeito a todos aqueles que estão em viagem para a eternidade, e de Rainha universal com relação sobretudo aos bem-aventurados.
A teologia1 tem demonstrado que esses títulos correspondem aos do Cristo Redentor. Este cumpriu, com efeito, Sua obra redentora como Cabeça da humanidade irredenta, como primeiro Mediador que tem o poder de sacrificar e santificar por Seu sacerdócio, de ensinar por Seu magistério, e como Rei universal, com poder de fazer leis para todos os homens, de julgar os vivos e os mortos e de governar todas as criaturas, incluindo também os anjos.
Maria, como Mãe do Redentor, está associada a Ele nesse tríplice aspecto. Está associada a Cristo, Cabeça da Igreja, como Mãe espiritual de todos os homens; a Cristo, primeiro Mediador, como Mediadora secundária e subordinada; a Cristo Rei, como Rainha do universo. Essa é a tríplice missão da Mãe de Deus com relação a nós, e que consideraremos a partir de agora.
Trataremos primeiro de seus títulos de Mãe do Redentor como tal, e de Mãe de todos os homens; em seguida, de sua mediação universal, primeiro aqui na Terra e depois no Céu; e finalmente de sua realeza universal. Todos esses títulos, mas sobretudo o de Mãe de Deus, formam a base do culto de hiperdulia de que falaremos em último lugar.
Nessas questões, como nas precedentes, não buscaremos as opiniões originais, particulares e interessantes deste ou daquele autor, mas a doutrina comum da Igreja, transmitida pelos Padres e explicada pelos teólogos. Somente sobre esse fundamento certo é que se pode edificar; não se começa uma catedral por suas torres ou por suas agulhas, mas por suas fundações.
Lida superficialmente, essa exposição pareceria, à primeira vista, banal ou muito elementar, mas convém recordar que as verdades filosóficas mais elementares, como os princípios de causalidade e de finalidade, e também as verdades religiosas mais básicas, como as contidas no Pai Nosso, revelam-se, quando examinadas e postas em prática, as mais profundas e vitais. Aqui, como em todas as coisas, devemos ir do certo e mais conhecido ao menos conhecido, do fácil ao difícil; caso contrário, se quisermos abordar logo as coisas difíceis sob uma forma dramática e atraente por suas antinomias, terminaremos talvez, como tem acontecido muitas vezes aos protestantes, por negar as mais fáceis e certas. A história da teologia, como a da filosofia, ensina-nos que assim sucedeu muitas vezes. Deve-se notar também que, se nos assuntos humanos, em que o verdadeiro e o falso, o bem e o mal, estão amalgamados, a simplicidade permanece superficial e exposta ao erro, nas coisas divinas, ao contrário, onde não há nada além da verdade e do bem, a simplicidade se une perfeitamente à profundidade e à grande elevação, e mais ainda, somente ela pode conduzir a essa elevação 2.