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Category: Pe. Bernard MaréchauxConteúdo sindicalizado

Discípulo do célebre pe. Emmanuel-André, a quem substitui na paróquia de Mesnil-St.-Loup.

O número dos eleitos

 

Pe. Bernard Marechaux

 

 

 

Domine, si pauci sunt qui salvantur?

Senhor, são poucos os que se salvam? (Lc 13, 23.)

 

 

Primeira Parte: A Tradição

I – A fé e a razão

A fé em nada se assemelha às opiniões humanas: ela prescinde da concepção subjetiva do espírito – que variaria segundo os indivíduos – e corresponde à substância duma verdade firme e imutável.

A fé se fez a si mesma; por isso, a razão humana tem de aceitá-la como Deus a apresentou e não julgá-la, pois não é capaz disso; ademais, deduzir e coordenar as conseqüências que decorrem dela é um ministério belíssimo.

Em suma, a fé não é objeto submisso à razão, mas tem princípios que ultrapassam a razão, sem com isso contradizê-la. A fé tem regras e elementos de tal amplitude que deixam a razão (o termo, acreditamos, é de Bossuet) desconcertada, como as parábolas cuja imensa abertura escapa a qualquer medida. Por isso, a razão não se deve retirar ou isentar, menos ainda se insurgir, se na fé existem elementos que excedem a compreensão e a deixam escandalizada, por causa duma como incompatibilidade que a razão acredita haver encontrado. Nestes lances é obrigatório que a razão se imponha silêncio a si, humilhe-se e adore. Tão logo se humilhe e adore, decerto descobrirá, na obscuridade do mistério, as luzes que lhe hão de saciar a legítima necessidade de conhecimento, pacificar a inquietação – e quiçá deliciá-la.

Essas reflexões nos vêm ao espírito, no momento em que tratamos da temível questão do número – do reduzido número – dos eleitos, pois é este um dos problemas que mais incomodam as susceptibilidades e causam repugnância à razão humana.

Pois bem!, exclama a razão, poucos serão os eleitos? Perder-se-á eternamente a multidão do gênero humano? Seria frustra para a maioria da humanidade a redenção que o sangue de Jesus Cristo operou? Seria a misericórdia de Deus dalgum modo vencida pela justiça divina? Recolheria ela apenas poucos eleitos e deixaria cair no abismo eterno a avalancha dos condenados?

Assim fala a razão, seguindo o impulso da sensibilidade natural. Ora essa linguagem não é sóbria nem judiciosa. O número dos eleitos é uma questão de fato, sobre que o raciocínio perde todos os direitos. Dá-nos a Sagrada Escritura – expressão do pensamento divino – algum esclarecimento sobre o problema dos destinos humanos? Eis o que se deve buscar com espírito submisso, e uma vez exposta à luz meridiana a resposta da Sagrada Escritura, à razão só lhe cabe inclinar-se e adorar.

Na Sagrada Escritura se encontram a respeito do problema dos eleitos textos concordantes que sempre nos pareceram peremptórios.

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela. Que estreira é a porta, e que apertado o caminho que conduz à vida, e quão poucos são os que acertam com ele. (Mt 7, 13-14).

São muitos os chamados, e poucos os escolhidos (Mt 20, 16 e 22, 14).

E alguém lhe perguntou: “Senhor, são poucos os que se salvam?” E ele disse-lhes: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita (da penitência); porque vos digo que muitos procurarão entrar, e não o poderão”. (Lc 13, 23-25).

Ao nosso ver, as declarações do Salvador são duma clareza indubitável. Como negar que não se está falando da salvação das almas? Estão abertos os dois caminhos: o largo que conduz à perdição, e o apertado que conduz à vida. E é com dor que Nosso Senhor atesta, numa concepção abrangente, que muitos caminham no primeiro e poucos seguem o segundo.

E se alguém alegar que a misericórdia divina há de impedir à beira do abismo a maioria dos homens que nele se precipita? Nosso Senhor destroçou essa ilusão, quando à pergunta dos discípulos: “São poucos os homens que se salvam?”, respondeu ele: “Procurai entrar pela porta estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não o conseguirão.” Assim quem não se esforça a fim de entrar pela porta estreita, não há de ser um esforço tardio que lhe vai permitir a entrada, ficando deste modo do lado de fora.

Esses textos se nos apresentam – nunca é demais repetir – com tal clareza que nenhuma agudeza os poderia obscurecer.

Mas é preciso interpretar a Sagrada Escritura de acordo com o ensinamento da Igreja que, revigorando-se a cada época, constitui a chamada Tradição. Em qualquer ponto em que haja ambigüidade, a Tradição em último caso fixa a doutrina que os fiéis devem considerar de fato como a palavra de Deus.

Se o problema é o número dos eleitos – consultemos a Tradição.

Se a voz dos primeiros padres, dos doutores da Igreja, dos escolásticos da Idade Média, dos teólogos e dos célebres pregadores modernos nos declara que os eleitos, i. e. os salvos, são poucos em relação aos condenados, é evidente que o problema está resolvido. A Sagrada Escritura de per si já era bem clara; por seu lado, a Tradição não permite que nos desviemos do sentido óbvio dos textos, por isso estabelece duma vez para sempre a interpretação e a impõe como regra para os cristãos.

Eis como o Concílio de Trento estabelece a autoridade da Igreja e dos Padres, em relação à interpretação da Sagrada Escritura:

Para reprimir a petulância de certos espíritos, o Santo Concílio não permite que ninguém – apoiando-se sobre a prudência pessoal, nas coisas relativas à fé e aos costumes – ouse amoldar a Sagrada Escritura aos próprios sentimentos, e interpretá-la de encontro ao sentido que apregoou e apregoa a Nossa Madre Igreja, à qual pertence julgar o verdadeiro sentido e a verdadeira interpretação das Sagradas Escrituras, ou ainda contra o unânime e concordante ensinamento dos Padres.

Assim o espírito humano não está livre para seguir os próprios sentimentos em questões escriturárias: deve ele consultar a Tradição da Igreja e também o ensinamento dos Padres, que constitui uma parte importantíssima da Tradição. No momento em que se reconheça que a Tradição fixou o sentido dum texto, não é mais lícito buscar e abraçar outra interpretação.

Ora, já se pronunciou a Tradição sobre o problema do número dos eleitos? Têm os Padres um ensinamento unânime? É o que vamos estudar e relevar. Após analisarmos os Padres da Igreja, seguiremos o influxo da Tradição nos grandes teólogos da Idade Média, e depois nos autores mais santos e reputados da modernidade, que estão de pleno acordo com os Padres acerca do ensinamento do pequeno número dos eleitos, como iremos constatar. (Continue a ler)

As santas, mães dos santos

Pequena introdução da matéria
Gostaríamos, contemplando as santas, mães dos santos, tecer uma coroa à maternidade divina da Virgem Maria.
 
Quando Deus resolveu unir nossa natureza humana à pessoa de seu Filho único, entre todas as filhas de Adão, destinou, escolheu uma mãe, foi Maria. Assim a predestinação de Maria está inseparavelmente unida à predestinação de Jesus. Ao lado do homem Deus, está a mulher eleita, bendita entre todas; essa mulher é sua Mãe.

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