“Huic omnes prophetae testimonium perhibent” (At 10, 43) — Todos os profetas dão testemunho d’Ele.
“Deves ser o único de passagem em Jerusalém que não sabes o que se passou lá nestes dias!" disse Cléofas. "Que foi?" — perguntou-lhes o misterioso homem que se aproximara. Era Jesus ressuscitado quem lhes falava, mas seus olhos estavam como que fechados, e não O puderam reconhecer. "Foi o que aconteceu a Jesus de Nazaré, um autêntico profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante do povo... foi crucificado, morto e sepultado — esperávamos que fosse Ele libertar Israel... mas fato é que hoje é o terceiro dia desde que estas coisas sucederam!" Disse-lhes Jesus: "Ó estultos e tardos de espírito para acreditar em tudo o que anunciaram os Profetas!". E começando por Moisés e discorrendo sobre todos os Profetas, explicou-lhes o que Lhe dizia respeito em todas as Escrituras...
Qual terá sido esta divina lição, que lhes abriu as Páginas Sagradas e fez com que exclamassem os discípulos, um para o outro: "Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração, enquanto falava conosco pelo caminho, explicando-nos as Escrituras"?
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"Um feito insólito na literatura universal — diz o Pe. José María Mestre — é o da redação, no intervalo de mais de mil anos, de uma série de livros escritos por homens de diferentes culturas, épocas, condições e que, não obstante, conservam a mais absoluta unidade de pensamento. Porém, mais insólito é que nesses livros sagrados encontremos uma série de predições relativas a um personagem futuro, que definem não apenas seu caráter pessoal, como também as circunstâncias históricas em que deve aparecer e a obra grandiosa que deve realizar. São as profecias messiânicas, assim chamadas por se referirem à pessoa e à obra do Messias."
Que é o Messias? A palavra Messias — equivalente em grego a "Cristo" ou "Ungido" — refere-se ao Redentor, Àquele cuja esperança está no centro mesmo da religião do povo hebreu e é o fio condutor de toda a história do Antigo Testamento. Diz-nos o autor citado:
"Assim como se ungiam os sacerdotes, reis e profetas, assim o futuro Redentor deveria ser o "Ungido" por antonomásia, quer dizer, deveria ser no mais alto grau Sacerdote, Rei e profeta, porquanto deveria receber a plenitude da unção, não já litúrgica e material, mas a unção por ela simbolizada, isto é, a efusão plena dos dons do Espírito Santo.
"Messias é, pois, um nome representativo de todos os títulos que há de reunir o futuro Redentor. O Messias, porque deverá ser ungido com a plenitude dos dons de Deus, será o Rei por antonomásia, o Sacerdote, o Profeta, o Mestre do povo redimido; será o Filho de Deus, o Filho do homem, o Filho de Davi, o Enviado, o Emanuel, o Admirável, o Deus forte, o Pai do século futuro, o Príncipe da paz.
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As profecias messiânicas, pois, estão presentes por todo o Antigo Testamento e apresentam as características seguintes: são numerosas, abrangentes — mesmo pormenores da vida do messias estão especificados; concordantes, precisas e, o que é mais, cumprem-se todas, sem exceção, na vida de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma informação importante: ao contrário do que se poderia imaginar, estas profecias não foram determinadas a posteriori. Como diz o mesmo autor, "não se aplicaram as profecias à Jesus buscando na literatura de Israel os traços que coincidissem com Ele e com os episódios de sua vida. Ao contrário, antes mesmo que Jesus viesse, a própria tradição judaica já havia reunido todas as profecias que falavam do Messias para formar na mente do povo um retrato bastante preciso do Salvador futuro que esperavam." Os grifos são nossos.
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Voltemos agora à estrada de Emaús e, lado-a-lado com os discípulos, aprendamos com o misterioso homem que se aproximara, o que anunciaram os profetas a respeito do Messias, Nosso Senhor.
[A relação das profecias abaixo a tiramos do artigo do Pe. José María Mestre, professor de Escritura Sagrada, publicado na revista Tradicion Catolica. Atenção: a relação não se pretende exaustiva, antes quer apresentar apenas as principais profecias a respeito da vinda do Messias. Todas as citações Bíblicas foram copiadas da tradução da Vulgata, do Pe. Matos Soares. Recomendamos seguir lentamente, lendo todas as notas.]
1. Profecias messiânicas contidas no Pentateuco, isto é, desde o começo até o tempo de Moisés: "o Messias é o Filho da Mulher que esmagará a cabeça da serpente, descendente de Sem, de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Judá, e virá ao mundo quando o cetro de Israel tiver saído da casa deste Patriarca, será vencedor de Satanás, uma fonte de benção para todos os povos, a estrela que iluminará a todas as nações, o Profeta anunciado por Moisés, isto é, interprete das vontades de Deus sobre a terra, como Moisés e, como ele, Libertador, Mediador e Legislador, ainda que superior a Moisés"
2. "Durante o tempo dos juízes e dos reis até Davi, encontramos as seguintes indicações sobre o Messias: será o Ungido de Deus; nascerá da família real de Davi; será Filho de Deus, Rei de todos os povos, Juiz de todas as nações; Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec; oferecer-se-á Ele mesmo em holocausto a Deus, sofrerá as dores de uma paixão atrocíssima, descrita com muitos detalhes: crucifixão, repartição de suas vestes, sorteio de sua túnica; não sofrerá a corrupção do sepulcro; seu reino será eterno, um reino de justiça, mansidão e equidade.
3. "Se passamos aos profetas, os detalhes são muito abundantes: o Messias nascerá menino, de uma Mãe Virgem, na cidade de Belém; é Deus; será cheio do Espírito do Senhor; aparecerá quando tenham passado as setenta semanas de anos anunciadas por Daniel; terá um precursor, começará a predicar nos confins de Zabulão e Neftali, anunciará o reino de Deus aos pobres e aos humildes, abrirá os olhos dos cegos e devolverá a saúde aos enfermos, e converterá as Gentes, as quais serão também chamadas à salvação; entrará em Jerusalém montado em um jumentinho; instituirá um novo sacrifício; será vendido por trinta moedas, com as quais se comprará o campo de um oleiro; será levado perante os tribunais, porque é o Justo e se chama Filho de Deus; sofrerá uma dolorosíssima paixão, minuciosamente descrita: flagelação, cusparadas e bofetadas, seu silêncio e mansidão, julgado com juízo iníquo, condenado a morte, contado entre malfeitores, sepultado em um sepulcro de rico, tendo oferecido sua vida para a expiação de nossos pecados; glória de seu sepulcro e sua próprio glorificação; expansão de seu reino etc.
"Todas as profecias citadas se realizam ao pé a letra em uma única pessoa histórica da qual falam os Evangelhos: a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, Ele é o Messias esperado, o Filho de Deus, o Filho do homem, o Redentor da humanidade.
"Nosso Senhor mesmo afirmou seu título de Messias perante a mulher samaritana, perante os judeus incrédulos, ao afirmar-lhes que Moisés e as Escrituras falavam d’Ele, e perante seus discípulos, aceitando o título de “Cristo” que lhe davam, e ao demonstrar-lhes como n’Ele se cumpriam as Escrituras. Assim, por exemplo, lançava no rosto de seus adversários: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e elas são as que dão testemunho de mim... Porque, se vos crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim; porque ele escreveu de mim.” Louva a confissão de Pedro e de Marta, que o chamam “o Cristo, Filho de Deus vivo” ; e, depois de sua ressurreição, fala a seus discípulos: “Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, e que assim entrasse na sua glória? E começando por Moisés, e (discorrendo) por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se encontrava dito em todas as Escrituras” .
"Os Evangelistas, especialmente São Mateus e São João, demonstram que os acontecimentos da vida de Jesus são o cumprimento das profecias: sua concepção virginal, seu nascimento em Belém, sua fuga para o Egito, sua habitação em Nazaré, seu precursor, o início de sua predicação nos confins de Zabulão e Neftali, seu zelo pela casa de seu Pai, sua exaltação sobre a cruz, simbolizada pela serpente de bronze, a Eucaristia, simbolizada pelo maná, as curas dos enfermos, seus milagres, que Isaías atribuía ao Messias, sua mansidão, sua futura ressurreição, sua pregação em parábolas, sua entrada em Jerusalém sobre um jumentinho, sua divindade, a traição de Judas, as trinta moedas pelas quais será vendido, repartição de suas vestes, sua sede na cruz, sua transfixão.
"Ademais, depois da Ascensão de Jesus, os mesmos Apóstolos uniram definitivamente ao nome de Jesus o de Messias ou Cristo; Jesus será para sempre Jesus Cristo. São Mateus e São Marcos o chamaram assim desde as primeiras linhas de seus respectivos Evangelhos; São Paulo chamará Jesus em suas Epístolas 399 vezes com o nome de Cristo."
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"Era necessário que se cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." (Lc 24, 44).
Aproximávamo-nos da aldeia, mas o homem que nos acompanha disse que ia mais para diante. "Permanece Conosco", rogamos. Ele consentiu e logo sentamo-nos à mesa. Ora, aconteceu que, após termos sentado, ele tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e ofereceu-lho. Nossos olhos, já cheios de lágrimas, abriram-se — é o Senhor! — reconhecemos — mas já tinha Ele desaparecido de nossa vista.
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PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO E SUA REALIZAÇÃO NO NOVO
ANTIGO TESTAMENTO
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PROFECIAS
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NOVO TESTAMENTO
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Mq 5, 2.
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1a. Pátria do Messias: Belém.
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Mt 2, 6; Jo 7, 42.
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Gn 12, 3; 22, 18; 26, 4; 28, 14; 49, 8-12; 1 Pr 17, 11.
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2a. Antepassados (em linha direta): Abraão, Isaac, Judá, Davi.
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Mt 1, 2-6; Lc 3, 31-34.
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Is 7, 14.
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3a. Mãe: uma virgem. Pai: Deus.
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Mt 1, 18-25; Lc 1, 27-34.
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Nm 24, 17.
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4a. Estrela e nascimento.
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Mt 2, 2, 7, 9, 10.
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Gn 49, 10; Ag 2, 8-10.
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5a. Data de nascimento: fim do poder de Judá.
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Lc 2, 1; Jo 19, 15.
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Sl 71, 10, 11, 19; Is 40, 3-6.
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6a. Adoração dos Magos.
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Mt 2, 1-11.
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Is 40, 3; Mt 3, 1; 4, 5.
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7a.O Precursos: o novo Elias (São João Batista).
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Mt 3, 1-3; Lc 1, 5-25, 57-80.
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Jr 31, 15.
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8a. Lamentos de Raquel (matança dos inocentes)
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Mt 2, 18.
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Os 11, 1.
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9a. Fuga para o Egito.
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Mt 2, 15.
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Gn 49, 26; Dt 33, 16.
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10a. Habitação em Nazaré.
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Mt 2, 23.
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Is 40, 3-4.
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11a. Pregação de S. João Batista.
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Mt 3, 1; 14, 1-10; Mc 1, 4; Lc 3, 3.
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Sl 34, 13; 68, 11.
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12a. Jejum no deserto.
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Mt 4, 2; Mc 1, 13.
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Is 9, 1.
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13a. Princípio da pregação e dos milagres nos confins da terra de Neftali e de Zabulão.
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Mt 4, 13-15.
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Ez 47, 8ss; Is 29, 14.
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14a. Escolha de homens simples para Apóstolos.
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Mt 4, 18-21; Mc 1, 16; Lc 5, 2-11.
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Is 35, 4-10.
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15a. Cura dos cegos, surdo-mudos e de todo tipo de enfermidades.
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Mt 11, 5.
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Is 53, 7; 16, 1; 31, 1.
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16 a. Doce como o cordeiro, forte como o leão.
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Jo 1, 19; 16, 33; Ap 5, 5.
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Is 53, 2-3; Sb 2, 12-20.
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17 a. Humilde, desprezado e odiado, porque a mão de Deus estava com Ele.
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Mt 11, 29; Lc 16, 14; Jo 15, 18.
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Is 29, 14; 61, 1.
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18a. Confunde aos sábios, prega aos pobres e aos pequenos.
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Mt 11, 5; 1 Cor 1, 28.
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Dt 18, 15ss; 1 Mc 14, 41.
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19a. O Profeta fiel.
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Mt 21, 11; Lc 7, 16; Jo 4, 19.
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Is 11, 12; Ez 37.
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20a. Incredulidade dos judeus.
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Jo 22, 37-38; 1 Pd 2, 7-9.
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Zc 9, 9.
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21a. Entrada em Jerusalém sobre um Jumentinho.
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Mt 21, 4-5.
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Ml 1, 11; Sl 109, 4.
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22a. Instituição dos novos sacrifício e sacerdócio.
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Mt 26, 26-29; 1 Cor 11, 23-29.
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Sl 17, 5-6; 54, 4-5.
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23a. Agonia: suor de sangue.
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Mc 14, 33; Lc 22, 42.
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Sl 40, 10; 68, 9.
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24a. Traição por parte de um amigo.
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Mt 26, 14-15; Jo 13, 18, 26, 30.
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Zc 11, 12-13.
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25a. Vendido por 30 moedas empregadas na compra do campo de um oleiro.
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Mt 26, 15; 27, 3-10.
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Sb 2, 10-20.
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26a. Levado aos tribunais porque é o Justo e se chama Filho de Deus.
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Mt 26, 64-65; 27, 4-19.
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Sl 2, 2.
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27a. Condenado à morte por judeus e gentios.
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Lc 23, 6-24.
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Lm 4, 20
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28a. Abandonado pelos Apóstolos.
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Mt 26, 56.
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Sl 34, 11; 108, 1; Is 53, 7.
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29a. Falsas testemunhas; silêncio do acusado.
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Mt 26, 59-60; 27, 12; Mc. 14, 56.
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Is 50, 6.
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30a. Cusparadas e Bofetadas
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Mt 26, 67-68.
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Is 53, 12.
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31a. Colocado entre os malfeitores
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Mc 15, 7ss.
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Sb 2, 10-20.
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32a. Condenado à morte, apesar de sua inocência reconhecida.
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Mt 27, 24-26.
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Gn 22, 6.
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33a. Carrega o madeiro do sacrifício.
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Jo 19, 17.
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Sl 21, 18; Is 53, 12.
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34a. Crucificado com cravos nas mãos e pés, entre dois ladrões.
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Mt 27, 38; Mc 15, 24-27; Lc 23, 22.
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Sl 21, 8; 34, 14.
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35a. Os que passam meneiam a cabeça: insultos, provocações.
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Mt 27, 39; Mc 15, 29.
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Sl 21, 19.
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36a. Repartição das vestes e sorteio de sua túnica.
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Mt 27, 35; Lc 23, 34; Jo 19, 24.
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Sl 68, 22.
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37a. Fel e vinagre.
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Mt 27, 34.
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Sl 17, 7.
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38a. Morre fora de Jerusalém dando um grande bramido.
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Mt 27, 32, 50; Jo 19, 30.
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Ex 12; Sl 40, 10.
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39a. Morre depois de ter celebrado a Páscoa.
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Mt 25, 19ss
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Ex 12; Is 53, 7.
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40a. É o Cordeiro Pascal.
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Jo 19, 33; 1 Cor 5, 7.
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Ex 17, 12.
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41a. Permanece na cruz até a tarde.
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Mt 27, 57.
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Gn 2, 21.
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42a. Seu lado aberto.
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Jo 19, 34.
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Dn 9, 25-26.
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43a. Data de sua morte.
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Mt 24, 1-2.
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Is 53, 9.
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44a. Sepultura de rico, não de criminoso.
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Jo 19, 38-39; Mt 27, 57.
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Jn 2, 1; Is 11, 19.
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45a. Ressurreição no terceiro dia.
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Mt 28, 6-9; Jo 20, 14.
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Is 11, 10; Nm 21, 8-9; Dt 33, 17.
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46a. A cruz, estandarte e remédio.
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Lc 2, 34; Jo 3, 14-15.
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Ez 36, 25; Zc 13,1.
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47a. Remissão dos pecados por seu sangue.
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Mt 26, 27-28; Lc 24, 45-46.
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Zc 13, 1.
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48a. Poder de perdoar os pecados.
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Mt 28, 18; At 2, 38; 8, 36.
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Sl 23, 7; 46, 6; 109,1.
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49a. Ascensão: o Vencedor sentado à direita do Pai.
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Mc 16, 19; At 1, 9; 2, 23ss
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Jl 2, 28; Is 44, 3.
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50a. Missão do Espírito Santo.
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Lc 24, 49; Jo 7, 37ss; 16, 7; 20, 22; At 2, 2ss.
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Is 49, 18; e muitos outros.
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51a. Conversão dos Gentios
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1 Tm 2, 4-7.
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Is 54, 12-13.
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52a. A religião, fonte de santidade.
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Mt 19, 28.
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Is 53; Sl 109.
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53a. A religião, vitoriosa de todos os ataques.
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Jo 16, 33.
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Sl 2; 44; 67 25-26; 109; Is 9, 7; Dn 9
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54a. Reino eterno de Cristo
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Mt 16, 18; Ap 19, 15; Heb 13, 8
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