Category: Santo Tomás de Aquino
O segundo discute-se assim. – Parece que o objeto da fé nada tem de complexo, a modo do objeto do juízo.
1. – Pois, é o objeto da fé a verdade primeira, como já se disse. Ora, a verdade primeira é algo de incomplexo. Logo, o objeto da fé nada tem de complexo.
2. Demais. – A exposição da fé está contida no símbolo. Ora, o símbolo não se compõe de objetos de juízo, mas de realidades. Assim, não diz, que Deus é omnipotente, mas: Creio em Deus omnipotente. Logo, o objeto da fé não é o do juízo, mas, a realidade.
3. Demais. – À fé sucede a visão, conforme aquilo da Escritura: Nós agora vemos como por um espelho, em enigmas; mas então face a face. Ora, o objeto da visão celeste, sendo a mesma essência divina, é incomplexo. Logo, também o da fé, nesta vida.
Mas, em contrário. – A fé é termo médio entre a ciência e a opinião. Ora, meio e extremo pertencem ao mesmo gênero. Por onde, versando a ciência e a opinião sobre os objetos dos juízos, resulta, por semelhança, que também sobre eles versa a fé. Portanto, o objeto da fé, versando sobre tais objetos, é complexo.
SOLUÇÃO. – O objeto conhecido está no sujeito, que o conhece, ao modo do sujeito. Ora, o modo próprio do intelecto humano é conhecer a verdade compondo e dividindo, como já dissemos. Por onde, objetos em si mesmos simples o intelecto os conhece segundo uma certa complexidade; assim como, inversamente, o intelecto divino conhece, incomplexamente, objetos em si mesmos complexos. Portanto, o objeto da fé pode ser considerado à dupla luz. - De um modo, quanto à realidade mesma crida. E então, o objeto da fé é algo de incomplexo, a saber, a realidade mesma na qual temos fé. De outro modo, quanto a quem crê. E, a esta luz, o objeto da fé é algo de complexo, a modo do objeto do juízo. - Por isso, num e noutro caso, os antigos opinaram, com verdade, sendo ambas as opiniões verdadeiras, de certo modo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A objeção procede quanto ao objeto da fé relativamente à realidade mesma crida.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O símbolo exprime o que é de fé, enquanto que nisso termina o ato do crente, como aparece do modo mesmo da expressão. Ora, o ato do crente não termina num juízo, mas numa realidade; pois, não formamos juízos senão para, desse modo, chegarmos ao conhecimento da realidade, tanto na ciência como na fé.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A visão, na pátria, será a da verdade primeira, como ela em si mesma é, conforme a Escritura: Quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele; porquanto nós outros o veremos bem como ele é. Por onde, essa visão será, não a modo de juízo, mas, de simples inteligência. Ao passo que, pela fé, não apreendemos a verdade primeira em si mesma. Portanto, não há semelhança de razões.
O primeiro discute-se assim. – Parece que o objeto da fé não é a verdade primeira.
1. – Pois, objeto da fé é o proposto para crermos. Ora, é nos proposto a crer, não só o respeitante à divindade, que é uma verdade primeira, mas também o pertencente à humanidade de Cristo, aos sacramentos da Igreja e à condição das criaturas. Logo, nem só a verdade primeira é objeto da fé.
2. Demais. – A fé e a infidelidade, sendo contrárias, referem-se ao mesmo objeto. Ora, pode haver infidelidade relativamente a todo o conteúdo da Sagrada Escritura; pois, considera-se infiel quem negar qualquer parte dele. Logo, também é a fé relativa a todo o conteúdo da Sagrada Escritura. Ora, esta contém muitas disposições relativas aos homens e aos demais seres criados. Logo, o objeto da fé não é só a verdade primeira, mas também a verdade criada.
3. Demais. – A fé entra na mesma divisão que a caridade, como já se disse. Ora, pela caridade não só amamos a Deus, suma bondade, mas também ao próximo. Logo, o objeto da fé não é só a verdade primeira.
Mas, em contrário, diz Dionísio: a fé tem por objeto a verdade simples e sempre existente. Ora, esta é a verdade primeira. Logo, é o objeto da fé a verdade primeira.
SOLUÇÃO. – O objeto de qualquer hábito cognoscitivo encerra dois elementos: o conhecido materialmente, que é como o objeto material; e aquilo pelo que se conhece, que é a razão formal do objeto. Assim, na ciência da geometria, as conclusões são materialmente conhecidas; mas a razão formal desse conhecimento são os meios da demonstração, por onde se conhecem as conclusões. Assim também, se considerarmos a razão formal do objeto da fé, esse não é senão a verdade primeira. Pois a fé, de que tratamos, não adere a um objeto senão enquanto revelado por Deus. Por onde, apoia-se na verdade divina, como meio. Se porém considerarmos materialmente os objetos aos quais a fé adere, esses incluem, não só Deus, mas ainda muitos outros. Os quais, porém, não obtêm a adesão da fé, senão na medida em que se ordenam de algum modo para Deus; isto é, enquanto certos efeitos da divindade auxiliam o homem a tender para a fruição divina. Por onde, ainda por este lado, é o objeto da fé, de certo modo, a verdade primeira, porque nada cai sob o domínio da fé senão enquanto ordenado para Deus; assim como o objeto da medicina é a saúde, por nada considerar ela senão em ordem à saúde.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O pertencente à humanidade de Cristo, aos sacramentos da Igreja ou a quaisquer criaturas, constitui objeto da fé enquanto meios pelos quais nos ordenamos para Deus, aos quais também assentimos por causa da verdade divina.
E o mesmo se deve RESPONDER À SEGUNDA OBJEÇÃO, quanto a tudo o que é transmitido pela Sagrada Escritura.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Também a caridade ama ao próximo por causa de Deus. Por onde, Deus mesmo é o objeto próprio dela, como a seguir se dirá.
Em seguida devemos tratar dos preceitos pertinentes à prudência. E nesta questão discutem-se dois artigos:
Em seguida devemos tratar dos vícios opostos à prudência, que têm semelhança com ela.
E nesta questão, discutem-se oito artigos:
Em seguida devemos tratar dos vícios opostos à prudência. Pois, como diz Agostinho a todas as virtudes não só há vícios que lhes são manifestamente contrários, assim, à prudência a temeridade; mas também certos que lhe são vizinhos, que lhe tomam falsamente a aparência, assim, ainda à prudência, a astúcia. Por onde, devemos, primeiro, tratar dos vícios manifestamente contrários à prudência, vícios esses provenientes da falta de prudência ou das condições que ela exige. Segundo, dos vícios que tem alguma falsa semelhança com a prudência, os quais procedem do abuso do que é próprio da prudência.
Ora, como a solicitude pertence à prudência, sobre o primeiro ponto devemos tratar de duas questões. Primeiro, da imprudência. Segundo, da negligência, oposta à solicitude.
E na primeira questão discutem-se seis artigos:
Em seguida devemos tratar do dom do conselho, que corresponde à prudência.
E sobre este assunto discutem-se quatro artigos:
Em seguida devemos tratar das virtudes anexas à prudência, que são como as partes potenciais dela.
E nesta questão discutem-se quatro artigos:
Em seguida devemos tratar das partes subjetivas da prudência. E, como já tratamos da prudência, pela qual nos dirigimos a nós mesmos, resta agora dizer das espécies de prudência, pelas quais é governada a multidão.
Em relação a elas, discutem-se quatro artigos:
Em seguida devemos tratar de cada uma das como que partes integrantes da prudência.
E, nesta questão, discutem-se oito artigos: