(Infra. q. 73. a . 6; III Ethic., lect. I).
O quinto discute-se assim. ― Parece que a violência não causa o involuntário.
1. ― Pois, voluntário e involuntário procedem da vontade. Ora, esta, como já se disse, não pode ser violentada. Logo, a violência não pode causar o involuntário.
2. Demais. ― O involuntário é acompanhado de tristeza, como diz Damasceno e o Filósofo. Ora, podemos às vezes sofrer violência sem nos contristarmos. Logo, ela não causa o involuntário.
3. Demais. ― O que procede da vontade não pode ser involuntário. Ora, há certa violência procedente da vontade; assim quando alguém sobe, carregando um corpo pesado; e quando inflecte os membros contra a flexibilidade natural deles. Logo, a violência não causa o involuntário.
Mas, em contrário, diz Damasceno e o Filósofo, que há involuntário por violência.
Solução. ― A violência se opõe diretamente ao voluntário, como também ao natural. Pois a um e outro é comum proceder de princípio intrínseco, pela razão seguinte. Assim como no ser carente de conhecimento, a violência causa o que vai contra a natureza; assim, nos seres que conhecem, a violência produz o que vai contra a vontade. Ora, assim como o que vai contra a natureza se chama inatural, assim, o que vai contra a vontade, involuntário. Por onde, a violência causa o involuntário.
Donde a resposta à primeira objeção. — O involuntário se opõe ao voluntário; pois, como já se disse, voluntário se chama não só o ato procedente, imediatamente, da vontade mesma, mas também o imperado por ela. Quanto ao primeiro, a vontade não pode ser violentada, como já se disse; por onde, a violência não pode tornar tal ato involuntário. Mas, quanto ao ato imperado, a vontade pode padecer violência e então, relativamente a tal ato, a violência causa o involuntário.
Resposta à segunda. ― Assim como se chama natural ao que é conforme a inclinação da natureza, assim, voluntário ao que é conforme à da vontade. Ora, natural se toma em dupla acepção. Numa, significa o procedente da natureza como princípio ativo; assim; aquecer é natural ao fogo. Noutra, como princípio passivo, e isso porque há, em a natureza, inclinação a receber a ação de princípio extrínseco; assim, diz-se que é natural o movimento do céu, por causa da aptidão natural do corpo celeste a tal movimento. Embora seja motor voluntário. E semelhantemente, voluntário pode ser tomado em dupla acepção. Numa, relativo à ação, como quando alguém quer fazer alguma coisa; noutra, relativo à paixão, como quando alguém quer sofrer alguma coisa, de outrem. Por onde, sendo a ação causada por algo exterior, e permanecendo, no qual sofre, a vontade de sofrer, não há, no caso, violento em si; porque, embora o que sofre não contribua para a ação, contribui contudo, querendo sofrer e, por isso, não pode ser considerado involuntário.
Resposta à terceira. ― Como diz o Filósofo, o movimento do animal pelo qual às vezes se move contra a inclinação natural do corpo, embora não seja natural a este, é contudo de certo modo natural ao animal, porque lho é o ser movido conforme o apetite. E portanto, não há violento, absoluta, mas relativamente falando. E o mesmo devemos dizer quando inflectimos os membros contra a disposição natural. Pois isto é violento relativamente, a saber, quanto ao membro particular; não porém absolutamente, quanto ao homem agente, em si mesmo.