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A perseguição contra Mons. Lefebvre

A LEI FUNDAMENTAL DA IGREJA
“A lei fundamental da Igreja é a salvação das almas”. Mons. Lefebvre diz: “Nós agimos segundo a lei fundamental da Igreja para salvar as almas, salvar o sacerdócio, continuar a Igreja. E é bem isso que está em jogo. Nós nos opomos a certas leis disciplinares para salvar as leis fundamentais da Igreja. Utilizando contra nós leis disciplinares é a destruição das leis fundamentais que ocorre. (...). O novo código de Direito Canônico contém artigos que vão contra os fins da Igreja. Quando se permite dar a comunhão a um protestante, não se pode dizer que isso não seja contra a finalidade da Igreja. Quando se diz que há na Igreja dois poderes supremos, não se pode dizer que isso não vai contra a finalidade da Igreja. A definição da Igreja como “povo de Deus” em que se encontram confundidos todos os ministérios e não se faz mais distinção entre o clero e os leigos, é contrária ao dogma. Tudo isso é contra os fins da Igreja. Destroem os princípios fundamentais do Direito e querem que nos submetamos a isso. Para salvar as leis fundamentais da Igreja fomos obrigados a ir contra leis disciplinares. Em tudo isto, quem está errado, quem tem razão? Evidentemente, têm razão os que salvam as leis fundamentais da Igreja. As leis disciplinares são feitas para servir às leis fundamentais, isto é, a salvação das almas, a glória de Deus, a continuação da Igreja. É perfeitamente claro. (...). O que nós preferiríamos, é claro, é que tudo fosse normal, que nós não nos encontrássemos nessa situação aparentemente ilegal. Mas não nos podem censurar de ter querido mudar seja o que for na Igreja. E por que continuamos? Por que buscamos os fins da Igreja. Se podem nos acusar de faltar a certas leis disciplinares, ninguém pode dizer que a Fraternidade não age segundo as finalidades da Igreja”. E Mons. Lefebvre continua mostrando que mesmo no caso de leis disciplinares a Igreja sempre deixou uma porta aberta, levando em conta a salvação das almas e cita três exemplos: o cânon 2261 que permite, em certas situações, que até mesmo a um padre excomungado se procure para confessar; os que são autorizados a se darem em casamento se não encontram padre idôneo que os case dentro de 30 dias e também para a confirmação, há casos em que um simples padre pode dá-la, por exemplo, em caso de risco de morte iminente (Fideliter número 55).

A PERSEGUIÇÃO CONTRA ECONE É ILEGAL
Mons. Lefebvre explica ainda no mesmo número de “Fideliter” que a fundação da Fraternidade S. Pio X e a do Seminário de Econe foram canonicamente legitimadas. Com efeito, Mons. Charrière, bispo de Friburgo, Suíça, aprovou a fundação em 06.06.1969 e em 01.11.1970. Em seguida esses atos foram confirmados por Roma, Sagrada Congregação para os Religiosos, em documento oficial datado de 18.02.1971, assinado pelo Cardeal Wright, prefeito da Congregação, e pelo seu secretário, hoje Cardeal Palazzini. Este documento romano elogiava a “sabedoria das normas” dos Estatutos da Fraternidade. Ora, a Fraternidade, o Seminário, não mudaram nada de suas normas e de seu ensino. Por que são, então, perseguidos hoje? Por que a autorização para sua fundação foi retirada pelo novo bispo de Friburgo, Mons. Mamie, em 6 de maio de 1975? Esta retirada sem motivo decente, sem motivo confessável, é ILEGAL pois contraria o Cânon 493 do Código de Direito Canônico. O que todos sabem é que a Fraternidade hoje é perseguida e Mons. Lefebvre suspenso de ordens porque quer continuar a fazer o que a Igreja sempre fez e manter seu comportamento que até ontem era elogiado pelas próprias autoridades da Igreja. E é possível que a Igreja mude?
  
A QUE PONTO SE TRANSVIARAM
Se o Seminário de Mons. Lefebvre não modificou as normas de seus Estatutos e de seus procedimentos que, em 1970, foram elogiadas como sábias pelas autoridades do Vaticano; se, não obstante em 1975, a fidelidade a essas mesmas normas e procedimentos foi julgada infração punível com penalidade tão grave quanto suspender de ordens um Arcebispo que tinha ocupado funções tão altas na Igreja quanto Mons. Lefebvre, então, são elas mesmas, as autoridades do Vaticano que estão nos dizendo duas coisas: a) que foram elas, as autoridades do Vaticano, o Papa, seus Cardeais que mudaram e, b) que eles mesmos consideram seu afastamento das normas e procedimentos, antes julgados “sábios”, tão grave, tão profundo, que não hesitam em aplicar tal punição a quem se recusa a segui-los nesse afastamento.
 
UMA CARTA INTERESSANTE
Esta carta foi publicada recentemente na Alemanha. Data de 3 de dezembro de 1986. seu autor é o Vigário-Geral de Berlim e responde a um leigo, o Sr. Gieczyk que, um mês antes, havia escrito ao Santo Padre perguntando se podia assistir a Missas celebradas por padres católicos da Fraternidade São Pio X na capela de São Pedro em Berlim. Eis a resposta: “Prezado Sr. Gierczyk — O Secretário de Estado do Papa João Paulo II enviou-me a carta que o Sr. endereçou ao Santo Padre em 9 de novembro de 1986 pedindo-me que a respondesse. À pergunta que o sr. formulou ao Santo Padre: se os padres da Sociedade São Pio X são validamente ordenados como padres católicos respondo que os católicos que seguem o Arcebispo Lefebvre pertencem à Igreja Católica. Quem quer que assista à Missa na capela São Pedro cumpre realmente sua obrigação dominical mas, ao mesmo tempo, está agindo contra a unidade da Igreja da qual o Sacramento da Santa Eucaristia é sinal e causa. Conseqüentemente o sr. não pode ser proibido de assistir à Missa na capela de São Pedro mas tampouco pode ser aconselhado a faze-lo. Tendo assim cumprido as ordens de meu superior, sou, cordialmente, seu, Johannes Tobei, Vigário-Geral”. Comentários do Superior da Fraternidade na Alemanha: “Quem quer que conheça os ensinamentos da Igreja sempre soube que os padres da Fraternidade São Pio X são verdadeiros padres validamente ordenados; que aqueles que seguem Mons. Lefebvre estão na Igreja Católica e que ninguém pode ser proibido de assistir às missas celebradas por padres da Sociedade. O que é pouco usual naquela carta é que um alto dignitário da Nova Igreja conciliar tenha admitido tudo isso. Naturalmente ele também insere sua crítica aos Tradicionalistas por agirem contra a “unidade” da Igreja mas a conclusão que tira disso, a de que eles “não podem ser aconselhados” a assistir à Missa numa capela da Fraternidade é notavelmente fraca se comparada com as proibições fulminantes que temos ouvido até agora de tantos bispos da Nova Ordem e Vigários-Gerais. Deo Gratias”. Traduzido do jornal “Catholic” número 54 — Austrália.
  
SE É MEU DEVER, SAGRAREI BISPOS
Mons. Lefebvre deu uma entrevista decisiva à revista italiana: “Trenta Giorni” da qual extraímos algumas perguntas e suas respostas:
 
Pergunta: “Mas o Sr. celebrou durante alguns anos a missa segundo o novo rito...”
 
Mons. Lefebvre: “Celebrei a missa segundo as normas litúrgicas novas de 1965 mas jamais as definitivas de 1968 que foram assinadas por Mons. Bugnini. De qualquer modo é a Declaração sobre a Liberdade Religiosa que é o verdadeiro ponto da discórdia porque da introdução desse princípio liberal na Igreja decorrem os outros erros. A ruptura com a Tradição da Igreja é evidente neste caso: onze papas, de Pio VI a Pio XII condenaram o liberalismo, o Concílio o aprovou. Ninguém poderá me convencer de que não haja aí uma contradição. Quando, durante a audiência que tive em Castelgandolfo, em setembro de 1976 eu apresentei a pergunta ao Papa Paulo VI, ele me respondeu: ‘Não temos tempo agora para tratar de teologia’. Como se se tratasse de uma questão puramente acadêmica!”
 
Pergunta: “E o Cardeal Ratzinger, que resposta vos deu?”
 
Monsenhor Lefebvre: “O Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé me tinha pedido que formulasse por escrito minhas dúvidas e minhas opiniões sobre esse tema. Foi o que fiz e enviei-lhe em Novembro de 1985 um estudo de 150 páginas datilografadas. Em janeiro de 1986 ele me respondeu que tinha recebido este documento e havia apreciado seu cuidado filológico. Sabemos que a Santa Sé pediu a todos os episcopados que enviassem a Roma um estudo sobre o tema da liberdade religiosa e que o episcopado francês já enviou sua contribuição. O padre jesuíta que foi o redator dessa resposta escreveu: ‘É trágico que todos os papas do século XIX não tenham compreendido a verdade cristã que se encontra nos princípios da Revolução Francesa’. Como vêm, há ruptura e como!” (...)
 
Pergunta: “Vosso isolamento crescente na Igreja não faz surgir alguma dúvida em vós?”
 
Mons. Lefebvre: “Nosso isolamento é mais aparente que real. Numerosos bispos e, pelo menos, uma dezena de cardeais me disseram em particular que partilham nossas posições. Poderia dizer seus nomes e prenomes. Nós sabemos, por exemplo, que um certo número de cardeais não estava de acordo com a reunião de Assis e manifestou suas reservas ao papa. Mas, por outro lado e principalmente, nós não nos sentimos isolados relativamente ao passado, à Tradição da Igreja. Nós temos consciência de nossa força pelas palavras e pelo Magistério da Igreja que nos precedeu”. (...)
 
Pergunta: “Admitamos, como simples hipótese, que tendes razão. Será que a história da Igreja e a Tradição de seus santos não nos ensinam precisamente que a reta via de obediência é a única que, com o tempo, dá seus frutos?”
 
Mons. Lefebvre: “Se se tratasse de uma simples questão disciplinar. Se Pio XII estivesse vivo e me pedisse que fechasse o seminário de Econe, minha obediência seria imediata e sem problema. Mas hoje, é a própria Fé que está em jogo. Vejo que a Igreja “conciliar” muda e põe em perigo o centro da Fé católica. Por isso a obediência não é possível. Mesmo o Papa não tem o poder de mudar a Fé, ele é apenas o servidor dela. Aceitar a liberdade religiosa, o ecumenismo, as reformas conciliares significaria para mim contribuir para a obra de ‘auto-demolição’ da Igreja. Em consciência, isso não me é possível. O liberalismo do Papa destrói por dentro a Fé católica”.
 
Pergunta: “Monsenhor, o Sr. ameaçou diversas vezes, sagrar um bispo que continue sua obra. Alguns pensam que o Sr. já fez isso secretamente. O Sr. pode, em consciência, desmentir isso?”
 
Mons. Lefebvre: “Sim, da maneira mais categórica. Se o fizer, farei isso publicamente”.
 
Pergunta: “Quais circunstâncias o Sr. espera para dar esse passo gravíssimo que acarreta ‘ipso facto’ a excomunhão?”
 
Mons. Lefebvre: “Espero um sinal da Providência. Qual, não sei. Não estou pronto a fazê-lo imediatamente... pode ser daqui a um ano. Mas quero esclarecer uma coisa: os bispos que eu sagrar, se o fizer, não terão nenhuma autoridade especial dentro da Fraternidade. Eles terão por única tarefa administrar as ordenações e dar a Crisma. Eles não terão um território, uma região: a Jurisdição de Ordem pertence ao Superior Geral: é ele o chefe da Fraternidade que envia as pessoas e funda os priorados. Atualmente, o Superior Geral é o Padre Schmidberger que foi eleito pelo capítulo geral de 1982 com um mandato de doze anos, portanto até 1994. É ele que me sucede como autoridade no interior da Fraternidade”.
 
Pergunta: “Salvo erro nosso o Sr. utilizou o plural falando de sagração episcopal...”
 
Mons. Lefebvre: “Se, em consciência, eu julgar necessário para o bem da Obra que fundei dar esse passo, eu farei não uma mas três, quatro, talvez cinco sagrações episcopais. A Obra tem casas no mundo inteiro e devo levar isso em conta pensando no futuro.” (...)
 
Pergunta: “O simples pensamento de terminar vossa vida não reconciliado com a Igreja, isso que sentimentos vos faz experimentar?”
 
Monsenhor Lefebvre: “Não se pode considerar como fora da Igreja senão aqueles que não têm a Fé, porque a razão fundamental da unidade da Igreja Católica é a Fé. Aqueles que provocam o cisma são aqueles que mudam a Fé. Eu estou certo de pertencer à Igreja Católica de sempre, à Igreja eterna...”
 
Pergunta: “Em vossa ótica, o Papa seria então cismático?”
 
Mons. Lefebvre: “Sim... talvez... mais ou menos. Mas a reunião de Assis constitui um fato gravíssimo. E se o Papa, cuja função é confirmar a Fé, não cumpre seu dever, que fazer? A situação atinge seu mais alto grau de importância. Não vejo precedentes análogos na história da Igreja. No século XIV um Papa, João XXII, foi condenado e deposto por um Concílio especial porque, em determinado ponto, não foi achado conforme à doutrina católica. Hoje é ainda pior: não é mais um artigo só, mas todo um contexto que não é mais católico”.
 
Pergunta: “Será que a ameaça de excomunhão por parte da hierarquia católica atual deixaria V. Excia. verdadeiramente indiferente?”
 
Mons. Lefebvre: “Absolutamente indiferente. Que valor teria uma excomunhão decidida pelo atual governo liberal da Igreja? Durante mais de um século papas conservadores condenaram e excomungaram os Lammenais, os Buonaiuti, os Loisy porque eram liberais e modernistas. São eles que agora detêm o poder na Igreja e querem excomungar os tradicionalistas, isto é, os verdadeiros católicos”. (Traduzido de “Fideliter” número 57).
 
Permanência, número 224-225, Julho-Agosto de 1987.

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