Padre Louis-Marie Berthe, FSSPX
“Outros grãos caíram em boa terra e produziram frutos à razão de cem, ou sessenta, ou trinta para um. »
Mt 9.13
A parábola do semeador, que a liturgia propõe antes do tempo da Quaresma, evoca diversos casos em que as sementes caem sem produzir frutos. Mas quando a semente cai em boa terra, a parábola evoca ainda uma possível tripla fecundidade: 30, 60 ou 100 para um!
São números que ultrapassam em muito o normal.
Um rendimento de 10 era considerado uma bela colheita. Por estes números hiperbólicos, Jesus demonstra a extraordinária fecundidade que pode ter a palavra divina quando ouvida, acolhida com bom coração e generosamente posta em prática.
Os Padres da Igreja tentaram descobrir quais eram esses três graus de fecundidade. Por vezes, fizeram tal rendimento corresponder a cada classe de homens. Assim, para as pessoas casadas, 30 para um; para virgens e monges, 60 para um; para os mártires, 100 para um.
São Jerônimo também propõe ver ali os rendimentos em vários momentos da salvação: sob a Lei, 30 para um; nos dias dos profetas, 60 para um; na atual era do Evangelho, 100 para um.
Outras vezes, equipararam este ou aquele desempenho aos méritos pessoais. Produzir 30, 60 ou 100 frutos para um, equivaleria a salvar, pela santidade da própria vida, 30, 60 ou 100 almas da condenação eterna!
Quanto a Santo Agostinho, ele interpreta assim: quando é preciso lutar contra o amor dos bens temporais para deles tirar a vitória, dá-se uma retribuição de 30; quando o amor dos bens terrenos está domesticado e submisso, de modo que facilmente reprimimos seus menores movimentos, o retorno é de 60; quando, finalmente, o amor das coisas do mundo está totalmente dominado, de modo que não mais suscita a menor emoção em nossa alma, alcançamos o rendimento máximo de 100 para um.
Seja como for, Jesus convida-nos a fazer frutificar a palavra divina segundo a medida dada a cada qual.