Skip to content

À luz da verdade

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

 

 

À luz da verdade

Tentando compreender a loucura

 

 

Queridos fiéis,

Parece haver um impressionante aumento de conflitos e de loucura generalizados na sociedade hoje. Um zeitgeist frenético de ideologias enlouquecidas está acelerando a morte da Igreja Católica e da civilização ocidental; liberalismo, feminismo, construtivismo, amor livre, ideologia de gênero, direitos reprodutivos, ambientalismo, ideologia pandêmica, teoria racial crítica e outros.

Tudo isso é promovido e, então, imposto pelos pilares do poder mundial: governos, universidades, multinacionais, mercado financeiro, mídia e celebridades. Nunca antes estiveram tão coordenados e encontraram tão poouca oposição aos seus esforços. A hierarquia da Igreja Católica, anteriormente poderosa no palco mundial como a guardiã da verdade e moralidade naturais e sobrenaturais, pateticamente repete essa mensagem em linguagem pseudoteológica para não ser deixara para trás.

Como é possível que tantos aceitem a loucura? De onde ela vem?

 

Motivos para aceitar a loucura

Que os novos ideólogos do zeitgeist são loucos é fácil de perceber, pois eles trazem contradições internas, que produzem consequências catastróficas na sociedade quando implementadas (ver Figura 1).

ideologia

Exemplo de contradição interna

consequências

liberalismo

tolerância para todos, exceto para os que discordarem

totalitarismo

construtivismo

a criança é o seu melhor professor

ignorância

amor livre

amor livre = amor infiel

egoísmo escravizante

ideologia de gênero

o gênero independe do sexo biológico, portanto devemos ajudar as pessoas a mudarem seu sexo para que se conforme a seu gênero

mutilação, depressão, suicídio

direitos reprodutivos

o aborto é um direito humano

40 milhões de seres humanos mortos por ano

ambientalismo

Defesa da contracepção e do aborto para preservação do planeta para nossos filhos

violência contra a natureza

ideologia pandêmica

a única maneira de voltarmos ao normal é redefinirmos o normal

totalitarismo

teoria racial crítica

a discriminação racial será resolvida com outra discriminação racial, que forçará um resultado igual

discriminação racial

 

Alguns não se importam se o zeitgeist é um leve vento ou uma iniquidade, mas cinicamente adotam várias ideologias loucas visando seu ganho pessoal – desde que a ideologia do mundo seja “boa para mim” eu a adotarei.

Alguns apenas querem sobreviver no mundo e, então, apesar de suas reservas quanto a essas ideologias, entregam-se às suas demandas.

Alguns, desconhecendo o amor de Deus, desejam o amor do mundo e, portanto, estão prontos para acreditar no mundo. Pensadores nesse grupo vão tentar malabarismos intelectuais elaborados para tentar dar algum sentido às ideologias, mas, ao falharem na tentativa de reconciliar proposições contraditórias, vão aceitá-las como fé, pois querem que o mundo os aceite.

Finalmente, há aqueles que querem reduzir o mundo inteiro à servidão. Esses são os que propõem e impõem ideologias malucas para desafiar (e com o objetivo de romper) a ordem estabelecida. Quando indagados quanto à natureza irreconciliável de suas ideologias enlouquecidas, eles estão prontos para mentir sem o menor escrúpulo e a proclamar “É a minha verdade!” e, então, partem para a destruição de qualquer oposição.

Esse ultimo grupo é diferente dos outros, pois eles não aceitam a loucura, mas, na realidade, eles mesmos são loucos. Nessa sua retorsão “é a minha verdade” nós temos a prova disso, além de uma explicação do zeitgeist.

o problema

motivo profundo

como erram

vício

remédio

muitas pessoas aceitam ideologias malucas

Querem “tirar proveito”

Não se importam com a verdade

concupiscência

temperança

muitas pessoas aceitam ideologias malucas

Querem sobreviver

Seguem o mundo

fraqueza

fortaleza

muitas pessoas aceitam ideologias malucas

Querem ser amadas pelo mundo

Acreditam no mundo

ignorância

prudência

muitas pessoas aceitam ideologias malucas

Querem ser os senhores do mundo

Reivindicam domínio da verdade

malícia

justiça

 

"É a minha verdade"

Explicando: o único ser que pode dizer “É a minha verdade” como expressão de domínio sobre a verdade é Deus. “Deus é o dono da verdade”, podemos dizer.

Assim como um carpinteiro pode contemplar sua obra e dizer com satisfação “essa porta é verdadeira”, pois ela se conforma perfeitamente ao plano, Deus pode olhar para uma de suas criaturas e dizer “essa criatura é verdadeira”, pois se conforma ao seu plano. Como Criador de todas as coisas, Deus é o autor de toda a verdade porque é o autor do plano que é a medida de todas as criaturas. Chamamos a isso verdade ontológica: a conformidade de um ser com o Plano Divino.

Como criaturas intelectuais, não podemos ser autores da verdade, mas podemos ser iluminados pela verdade. Isso acontece quando o intelecto é suficientemente informado por um objeto sob consideração, ou quando o intelecto se conforma ao seu objeto. Chamamos essa verdade de verdade lógica. Em Filosofia, verdade lógica é definida como “a conformidade do intelecto a uma coisa compreendida” (adequatio intellectus cum re intellecta).

É dessa verdade que precisamos, se pretendemos atingir nossa perfeição natural e sobrenatural. Devemos conhecer a Deus e conhecer todas as coisas em relação a Deus. Verdades naturais são possuídas pela simples apreensão, julgamento ou pela reflexão sobre as informações recebidas através dos sentidos. As verdades sobrenaturais são possuídas pela virtude sobrenatural da fé aplicada à Revelação Divina, contida na Escritura e na Tradição e ensinada a nós pela Igreja.

 

A natureza da loucura

A ironia naqueles que alegam domínio sobre a  verdade é que, ao reivindicarem uma prerrogativa divina para eles, ao invés de se tornarem mestres do universo como gostariam, limitam-se a um universo pessoal bastante restrito, separado de toda e qualquer outra criatura. Ao buscarem libertar-se de Deus, adentram uma prisão criada por eles mesmos e jogam a chave fora. Eles se enquadram perfeitamente na definição que Chesterton dava para o homem louco: “Um homem louco não é alguém que perdeu sua razão, mas alguém que perdeu tudo, menos a razão”1. Eles renunciam a qualquer referencial exterior; perdem o senso de proporção, porque não há modelos com os quais possam comparar as coisas (o que também explica por que não têm senso de humor); eles não têm qualquer ponto de partida sobre o qual possam ter consenso, nenhum fundamento comum sobre o qual possam construir um edifício universal de pensamento.

Como tal, sua recusa de aceitar a ordem da realidade – a ordem da verdade – é, simplesmente, um eco daquele coro de Lúcifer no princípio do tempo: “non serviam!”. Eles poderiam muito bem ter gritado “Eu não aceitarei Seu universo, Sua realidade, Sua verdade, mas criarei uma para mim!” Com Lúcifer, rejeitam a âncora da realidade e encontram-se sozinhos, recusando-se a aceitar que há uma referência suprema para todas as coisas, uma medida de todas as coisas exterior a eles, pela qual algo é objetivamente verdadeiro ou falso, bom ou mau. Eles semeiam o zeitgeist e colhem um turbilhão de males.

 

O remédio

Só há uma maneira através das quais essas pobres, isoladas e enganadas almas podem ser ajudadas. Apelar à razão danificada para restaurar a razão não ajudará: elas só podem ser auxiliadas pela graça sobrenatural.

O mesmo vale para os outros grupos: os escravos do prazer, os escravos do medo e aqueles que querem tão desesperadamente ser amados pelo mundo. Todos eles precisam das virtudes teologais e morais para retornar à sanidade da Verdade e à segurança do Bem.

Segundo cálculos meramente humanos, a loucura que testemunhamos aumentará até que a Igreja seja destruída, e a sociedade humana atinja a tirania para se tornar o inferno na terra. Pelo cálculo Divino, porém, a vitória já foi conquistada sobre o pecado e o inferno. Eles mataram o Autor da Vida e da Verdade e, sem intenção, geraram a salvação de muitos. Eles tentam matá-Lo novamente e novamente e estão, simplesmente, preparando o palco para o Seu retorno na glória, se Deus quiser, em suas próprias almas primeiramente antes de morrerem, e, então, no Último Julgamento.

 

Nossa parte no remédio

Essa inevitabilidade da vitória, porém, não significa que podemos cruzar os braços e deixar tudo nas mãos de Deus, pois somos chamados a ser instrumentos da graça sobrenatural que salvará almas. Nossas ações futuras, embora livres, já estão encaixadas no plano Providencial do universo. Devemos corresponder ao Plano Divino. Não apenas devemos rezar por todos aqueles que semeiam e seguem o zeitgeist, devemos tornar-nos para eles o que os Apóstolos no Pentecostes eram para os judeus e os gentios. Nossas vidas devem se tornar como o Círio Pascal que vimos nas Missas das últimas semanas. Devemos ser uma luz para o mundo, a luz das boas obras, um sacrifício de louvor, uma chama flamejante em honra a Deus, uma chama que se divida em várias chamas sem jamais ter seu esplendor diminuído. Estamos em uma batalha, queridos fiéis. Na Irlanda, outrora Ilha dos Santos, a Missa pública continua proibida, e ouvir confissões, agora, é uma infração criminal. Aqueles que reivindicam domínio sobre a Verdade querem nos forçar a aceitar suas mentiras e a juntar-nos a eles em suas prisões pessoais de loucura.

Mas nós temos a Bem-Aventurada Virgem Maria como nossa mãe! Temos todas as razões para aprofundar nossa devoção a ela rezando o terço em família e recitando a Ladainha de Loreto. Como podemos temer se ela mesma está aqui, para defender Aquele Que é a Verdade, não a minha verdade, mas A Verdade, o Caminho e a Vida? O mês de Junho também se aproxima; uma época perfeita para trazer a Luz da Verdade para nossas casas através da Consagração de nossas famílias ao Sagrado Coração de Jesus.

 

In Jesu et Maria,

Pe. Robert Brucciani

  1. 1. Ortodoxia, Chesterton.
AdaptiveThemes