Pe. Nicholas Maria, C.SS.R.
Por que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X continua usando a liturgia reformada de 1962? Por que ela não retorna às práticas mais tradicionais dos Papas São Pio V ou São Pio X?
Uma tradição litúrgica (neste caso, a do rito romano) é como uma planta ou árvore viva; ela cresce, desenvolve-se, é podada, adaptada, reformada e revigorada. O problema da revolução litúrgica após o Vaticano II é que ela tentou cortar as raízes e destruir a planta e substitui-la por algo totalmente estranho à fé católica, o Novus Ordo Missae de Paulo VI, que “representa, tanto no conjunto quanto nos detalhes, um afastamento impressionante da Teologia católica da Missa” 1.
Ao manter-se fiel à última reforma claramente ortodoxa do rito romano antes dessa revolução, Dom Lefebvre não adentrou um debate especulativo (permitido, porém inconsequente) entre liturgistas quanto aos méritos de um Missal tradicional sobre o outro. Em vez, ele se considerava vinculado – talvez com alguma inconveniência – àquilo que a autoridade legítima havia realizado e que não era manifestamente pecaminoso:
“O princípio básico do pensamento e da ação da Fraternidade na dolorosa crise que a Igreja atravessa é o princípio ensinado por São Tomás de Aquino na Suma Teológica (II, II, q. 33, a.4): que ninguém pode se opor à autoridade da Igreja, exceto em caso de iminente perigo à fé. Ora, não há perigo à fé na liturgia dos Papas Pio XII e João XXIII, enquanto há um grande perigo à fé na liturgia do Papa Paulo VI, que é inaceitável” 2
E, novamente, ele escreveu em 1988:
“Desde sua fundação, a Fraternidade usa a edição de 1962 dos livros litúrgicos, pois eu os aceitei desde o momento em que surgiram em 1962, e porque a Fraternidade foi fundada em 1969 e aprovada em 1970. Essa nova edição não era nenhum novo Ordo Missae, mas uma nova edição do Ordo de São Pio V e de São Pio X com mudanças insignificantes. O calendário passou por uma mudança mais considerável na época, algumas das quais são, sem dúvidas, mais felizes, e outras, porém, controversas. Para que a uniformidade prevaleça na Fraternidade, porém, decidimos usar a edição de 1962, bem como seu calendário, pois consideramos as vantagens maiores que as desvantagens. [...] Cremos, com razão, que a edição de 1962 do Ordo Missae corresponde integralmente ao Ordo de São Pio V e de São Pio X. A pretensão de enxergar diferenças essenciais entre a edição de 1962 e o Ordo de São Pio V e de São Pio X manifesta uma mentalidade formalista e jansenista.”