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2. Primeiros anos de vida religiosa

Primeiros anos de vida religiosa

 

Francisca Chambon tinha 18 anos quando entrou no Mosteiro da Visitação de Santa Maria de Chambéry. Dois anos mais tarde, na festa de Nossa Senhora dos Anjos - 2 de agosto de 1864 - pronunciou os santos votos, tomando lugar, definitivamente, entre as religiosas de véu branco (leigas), com o nome de Irmã Maria Marta. Nada, exteriormente, fazia prever coisa alguma em favor da nova esposa de Jesus. A beleza da filha do Rei era verdadeiramente toda interior... Deus que, indubitavelmente se reservava compensações, tinha, no que respeita aos dons naturais, tratado a Irmã Maria Marta com verdadeira parcimônia!... Maneiras e linguagem rústicas, inteligência quase medíocre, que nenhuma cultura, nem sequer sumária, viera desenvolver: a Irmã Maria Marta não sabia ler nem escrever1; sentimentos que só se elevavam sob a influência divina; um temperamento vivo e um pouco tenaz; as suas Irmãs bem o dizem sorrindo: “Oh! era uma santa! mas uma santa que por vezes nos dava trabalho!...”

A “santa” bem o sabia! E com uma candura comovedora, queixava-se a Jesus por ter tantos defeitos: “As tuas imperfeições, respondia Ele, são a maior prova de que tudo o que se passa em ti vem de Deus. Eu nunca tas tirarei; elas são a cobertura que esconde os meus dons. Desejas muito ocultar-te? Eu ainda o desejo mais do que tu!...”

Ao lado deste retrato, gostaríamos de colocar outro, com traços mais atraentes. Sob estas aparências menos lisonjeiras, a observação mais atenta das superioras em breve adivinhou, e depois descobriu, uma fisionomia moral já muito bela, embelezando-se todos os dias sob a ação do Espírito de Jesus. Notam-se aqui traços marcados com esses sinais infaliveis que revelam o Artista Divino... e revelam-no tanto melhor quanto os senões da natureza não desapareceram: nesta inteligência tão apagada, quantas luzes, quantas vistas profundas! Neste coração sem cultura natural, que inocência, que fé, que piedade, que humildade, que sede de sacrifício! Bastará agora recordar o testemunho da superiora, a Rev.ma Madre Teresa Eugênia Revel: “A obediência é tudo para ela. A candura, a retidão, o espírito de caridade que a anima, a mortificação e, sobretudo, a humildade sincera e profunda, parecem-nos as garantias mais certas da ação de Deus sobre esta alma. Quanto mais recebe, mais entra num verdadeiro desprezo de si mesma, estando quase sempre esmagada pelo temor de estar na ilusão. Dócil aos conselhos que lhe dão, as palavras do sacerdote e da superiora têm um grande poder para lhe dar a paz... O que sobretudo nos tranqüiliza é o seu amor apaixonado à vida escondida, a imperiosa necessidade de fugir dos olhares humanos e o receio de que percebam o que nela se passa.”

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Os dois primeiros anos de vida religiosa da nossa Irmã decorreram quase normalmente; a não ser um dom de oração pouco vulgar, um recolhimento perpétuo, uma fome e sêde de Deus contínuas, nada se lhe notava de verdadeiramente particular que fizesse prever coisas extraordinárias. Mas, em setembro de 1866, a jovem conversa começou a ser favorecida com freqüentes visitas de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem, das almas do purgatório e dos Espíritos Bem-aventurados.

Jesus Crucificado - sobretudo - oferece, quase todos os dias, à sua contemplação, as Divinas Chagas, ora resplandecentes e gloriosas, ora lívidas ou ensangüentadas, pedindo-lhe que se associe às dores da sua Sagrada Paixão.

  1. 1. Importa nunca perder de vista esta completa ignorância da Maria Marta: dum lado ficaremos maravilhados por achar tanta “exatidão doutrinal e precisão de expressões” numa pessoa de tão pouca cultura; doutro, desculparemos facilmente o que houver a desejar em certos “pormenores que se não relacionam com a substância das coisas”. (Apreciação do Rev. Pe. Mazoyer, S. J.)
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