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Virando chinês

Pe. Robert Brucciani, FSSPX 

 

Sumário: o poder político, econômico e cultural na China está concentrado nas mãos do Partido Comunista Chinês (PCC). O poder cultural engloba o poder sobre a religião. Com ajuda direta do Ocidente, a China adotou o Capitalismo de Estado e, agora, é uma superpotência global. No Ocidente, o poder político, econômico e cultural está semelhantemente concentrado, não nas mãos de uma organização política ou de um Estado individual, mas nas mãos de uma elite financeira menos visível. Tanto na China quanto no Ocidente, o poder cultural tem sido exercido para promover uma antitética cultura da morte e para oprimir e subverter a Igreja Católica. À luz de eventos recentes, parece que a profecia de Nossa Senhora de Fátima sobre o comunismo global está se tornando realidade, e nós faríamos bem em imitar os fiéis católicos da China, que preservaram sua fé em um Estado comunista sem Deus.

 

Essência e propriedades do comunismo

A essência e as propriedades do comunismo são descritas pelo Papa Pio XI em sua encíclica Divinis Redemptoris. O comunismo é o materialismo ateu, no qual:

não há espaço para a ideia de Deus; não há diferença entre matéria e espírito, entre alma e corpo; não há sobrevivência da alma após a morte, nem nenhuma esperança em uma vida futura… O comunismo, além disso, retira do homem sua liberdade, despoja a personalidade humana de toda a sua dignidade e remove todas as limitações morais que controlam as erupções dos impulsos cegos. Não há o reconhecimento de nenhum direito do indivíduo em suas relações com o coletivo; nenhum direito natural é reconhecido à personalidade humana, que é apenas uma engrenagem no sistema comunista. Nas relações do homem com outros indivíduos, além disso, os comunistas sustentam o princípio da igualdade absoluta, rejeitando toda a hierarquia e a autoridade constituída por Deus, incluindo a autoridade dos pais.

 

O comunismo na China

Pouco após Mao Tse-Tung, o Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês (PCC), subir ao poder absoluto após declarar a fundação da República Popular da China no dia 1º de outubro de 1950, na Praça Tiananmen, deu-se início ao desmantelamento da sociedade chinesa. O objetivo alegado do PCC era criar um Estado comunista ideal: uma sociedade sem classes, sem Deus, com a propriedade comum dos bens.

A ignorância de Mao Tse-Tung da natureza humana era talvez tão profunda que ele de fato acreditou na viabilidade da utopia comunista; ou, talvez, apenas via a ideologia comunista como um meio para obter o poder absoluto. De todo modo, lançou mão do seu poder para criar um regime totalitário, um Estado servil.

O PCC começou com a destruição da ordem natural na sociedade: impôs a ideologia comunista e instigou medo em toda a população por meio de leis que mudavam constantemente, ameaças e prisões arbitrárias. Declarou classes inteiras (proprietários de terras, homens de negócios, intelectuais, toda a classe média) bem como as religiões como inimigas do PCC e as privou de suas posses. Chegou ao ponto de privar os camponeses de suas possessões – tomando deles a terra que lhes havia sido dada após as espoliações dos proprietários privados de terra. Ele destruiu a riqueza e os empreendimentos independentes. Matou 60 milhões de almas em suas prisões e campos de concentração. Os católicos foram perseguidos de maneira especial, e a Associação Patriótica Católica Chinesa (APCC), controlada pelo PCC, foi estabelecida em 1957, numa tentativa de substituir a Igreja Católica na China.

O único partido político permitido era o PCC; a economia foi planejada centralmente pelo PCC, a cultura era ditada pelo PCC, e a religião foi tornada subserviente ao PCC. O resultado foi um cruel fracasso. Como poderia ser de outra maneira, se a Lei natural era atropelada e toda a aspiração à virtude, exinta? Todos aqueles que detinham posições de comando eram oficiais do partido, e todos os oficiais do partido eram corruptos.

 

Comunismo chinês: Capitalismo com caraterísticas chinesas

Após uma disputa pelo poder em seguida à morte de Mao Tse-Tung em 1976, Deng Xiaoping foi proclamado “Lider político” pelo PCC. Deng Xiaoping lidou com o problema do fracasso econômico introduzindo o capitalismo de mercado na China, alegando que isso seria, apenas, uma adaptação temporária dos princípios comunistas para adequação às condições locais, visando garantir que, eventualmente, fosse atingida a utopia comunista de uma sociedade sem classes, com propriedade comum de todos os bens. As reformas tanto encorajaram o empreendedorismo quanto toleraram a propriedade, mas sempre sob controle do PCC. Esse é o modelo que o atual Secretário-Geral do PCC, Xi Jinping, tem desenvolvido desde que se tornou o “Lider político” em 2012.

Com uma enorme quantidade de mão de obra barata, enormes investimentos de multinacionais e bancos ocidentais, mercados ocidentais abertos, tecnologia prodigiosa do ocidente (garantida por espionagem industrial patrocinada pelo Estado), controle político total e tirania cultural, a China tem buscado uma estratégia vigorosa e inescrupulosa de imperialismo econômico. Ela tem comprado influência e garantido recursos no exterior ao remover ativos comerciais, financiar políticos e acadêmicos estrangeiros e escravizar países em desenvolvimento com projetos de infraestrutura que são bons demais para ser verdade. O resultado geral é que a China, agora, é uma superpotência com posição central nas questões globais, enquanto permanece sem Deus e desprezando a Lei natural. Esse desprezo se manifesta, claramente, no seu bárbaro programa de controle de população e no uso extensivo de “centros de reeducação” para dissidentes políticos e religiosos. É importante notar dois fatos: em primeiro lugar, nada do desenvolvimento chinês teria sido possível sem o capital ocidental, os mercados ocidentais e a colaboração ocidental; e, em segundo lugar, a China permanece totalmente dependente do ocidente para a continuação da sua prosperidade.

 

Poder concentrado no Ocidente

O poder político, econômico e cultural no Ocidente também tem seguido uma trajetória de concentração. A fonte do poder político no ocidente é, discutivelmente, a democracia, mas é a elite financeira que, na verdade, detém controle sobre a educação, a mídia, os grandes negócios e os políticos que lhes entregam o poder. O mesmo vale para o poder econômico porque quase todo governo, empresa e indivíduo depende dos bancos que lhes emprestam dinheiro, assim se tornando dependentes daqueles que controlam os bancos. Finalmente, a cultura ocidental, controlada pelas empresas de mídia globais, políticos e a academia e o conjunto de instituições do Capitalismo de Estado, também se conforma à elite financeira.

Até mesmo a Igreja Católica, antes uma poderosa força em prol da ordem natural e sobrenatural no mundo, parece estar sob o jugo da mesma elite. Desde o Concílio Vaticano II, os homens da Igreja, querendo se fazer amados pelo mundo, fecharam os olhos para o fim sobrenatural do homem e para o Reinado Social de Cristo Rei e abraçaram a nova cultura global com sua nova religião secular. Eles até se submeteram às autoridades chinesas, traindo assim seus filhos chineses perseguidos naquele país.

 

O partido não pode durar

Em suma, o poder tem sido comprado com dinheiro, mas esse recurso tem suas limitações. Quando todo o dinheiro em circulação for emprestado e não houver crescimento econômico suficiente para pagar os juros, todo o sistema financeiro está destinado a entrar em colapso. Isso é um problema urgente que o mundo, incluindo a China, está enfrentando. Desde a política de quantitative easing empregada pelos Bancos Centrais em 2009 para alavancar o vacilante sistema financeiro após a crise de 2008, o sistema financeiro mundial tem sobrevivido com aparelhos de sobrevida sem nenhum remédio real para o trazer de volta à saúde.

 

Tornando-se um comunista chinês com características ocidentais

Nesse contexto, veio a resposta ao vírus da Covid-19, com empréstimos governamentais enormes, erosões das liberdades individuais sem precedentes (notadamente a prática religiosa), aumento alarmante de vigilâncias e sabotagem econômica direcionada – tudo coordenado em escala global.

O que estamos vivendo agora parece muito com uma demolição controlada da antiga ordem mundial baseada no dólar americano para pavimentar o caminho para “O Grande Recomeço” (The Great Reset) que promete maravilhas, mas, na realidade, é um comunismo sem a intenção de resultar na propriedade comum dos bens. O Ocidente está se tornando chinês com características ocidentais: a saber, controle totalitário da política, economia e cultura à moda da República Popular da China, mas, em vez de haver um ápice visível de poder – o Líder político com seus asseclas – a fonte do poder no Ocidente está escondida e opera através de uma infinidade de instituições que formam o “Establishment”, seguindo o modelo de hegemonia cultural descrito pelo teórico marxista Antonio Gramsci (1891-1937); e, em vez do culto do chefe de Estado, uma nova religião de culto terreno e politicamente correto está sendo imposta.

 

Quem é o Líder Supremo do Ocidente?

Fizemos alusões à “elite financeira” como estando no controle direto de governos, da política econômica e da cultura no Ocidente e no controle indireto da China. Essa elite financeira, segundo se crê, é composta por membros dos Rothschild, Rockefeller, Carnegie e outras dinastias financeiras, em conjunto com estrelas globais que conseguiram adentrar esse círculo seleto. Há bastantes evidências para crer nessa alegação – até mesmo a confissão deles – mas estariam eles no topo da pirâmide? O que os une? É a maçonaria ou algo a que a própria maçonaria é subserviente? Quando se lembra que um tema comum das mudanças políticas, econômicas e culturais ao longo dos últimos 70 anos é a erosão deliberada da Lei Natural e a promoção da cultura da morte, parece que há forças mais sombrias do que a ganância e a megalomania de uma elite em jogo. Quando vimos, também, que a Igreja Católica tem sido objeto de uma infiltração organizada e tem sofrido sua própria revolução (no Concílio Vaticano II), podemos discernir os traços de Satanás no mundo.

 

Virando católico chinês.

O que estamos testemunhando agora pode, muito bem, ser o cumprimento da profecia de Nossa Senhora de Fátima em 13 de julho de 1917: os erros da Rússia – os dogmas da ideologia comunista – se espalharão pelo mundo.

Para os católicos, principalmente por estarmos em números tão pequenos e porque grandes setores da hierarquia da Igreja são cúmplices da revolução, é irreal imaginar que podemos vencer as forças do mal lançando-nos contra aquelas instituições onde a cultura da morte reina. Como na China, a rota natural está fechada; devemos, portanto, empenhar toda nossa energia no sobrenatural.

Se nossa sociedade está caindo no comunismo chinês com características ocidentais, faríamos bem ao observarmos como a Igreja Católica sobreviveu e até cresceu face à perseguição do PCC. Desde 1952, a Igreja na China tornou-se clandestina, e, apesar de isolamentos sociais, prisões, multas, lavagens cerebrais, torturas e execuções, muitos católicos perseveraram. Os fiéis católicos correram a Nossa Senhora quando foram ameaçados: eles recitaram o terço na ausência da Missa e ingressaram na Legião de Maria na ausência de uma estrutura paroquial. Eles correram para os santuários dela, os terços eram suas armas, a Legião de Maria, seu exército. Trazida da Irlanda para a China pelo Pe. Aedan McGrath, da Sociedade Missionária de São Columba, a Legião de Maria, tornou-se um instrumento da sobrevivência da Igreja Católica quando a hierarquia visível era desmantelada pelo PCC entre 1950 e 1955. Os legionários treinavam catequistas, batizavam, testemunhavam casamentos e encorajavam a devoção e a perseverância entre os fiéis quando não havia Padres. Eles trabalhavam em segredo, dando aos católicos e aos catecúmenos uma formação que os ajudaria a suportar o sofrimento da perseguição e a espalhar a fé a outras almas aflitas que, privadas das distrações do mundo material, eram terra fértil para a vida divina.

É improvável que os católicos no ocidente serão submetidos aos mesmos sofrimentos físicos que os católicos chineses, mas pressão moral, financeira e legal pode, certamente, ser esperada. Devemos imitar os católicos chineses em suas virtudes de oração, penitência e perseverância, e, talvez, seja o tempo de reformar a Legião de Maria no Distrito.

Em Fátima, Nossa Senhora revelou a Lúcia, Francisco e Jacinta que os erros da Rússia podem ser evitados pela consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, pela devoção dos cinco primeiros sábados e pela recitação diária do terço. Apesar de apenas o Papa, em união com todos os Bispos do mundo, poder consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, essa é uma causa pela qual podemos rezar e divulgar. Quanto à devoção dos cinco primeiros sábados e à recitação diária do terço, isso é algo que a maioria dos católicos pode fazer – certamente o terço diário.

Devemos estar prontos para seguir o exemplo dos católicos chineses perseguidos, que eram, de várias maneiras, como a Sagrada Família. A Sagrada Família estava sem abrigo, pois ela foi forçada a fugir de sua casa para cumprir uma lei governamental, foi mal recebida e tratada como gado pelo establishment de Belém e teve de abandonar tudo na sua fuga de Herodes. Tendo perdido tudo no mundo, eles, ainda assim, possuíam o maior de todos os tesouros: a Divina Criança – Deus em carne e Deus em suas almas.

Enquanto adoramos o Menino Jesus na manjedoura neste Natal, peçamos as graças de fidelidade e fortaleza para o que pode ser um ano dramático. Em nome de todos os membros da Fraternidade, queridos fiéis, por favor, aceitem meu agradecimento por toda sua ajuda espiritual e temporal ao longo do último ano, e estejam certos de nosso desejo, nossas orações e sacrifícios para que vocês possam encontrar paz verdadeira no único lugar onde ela pode ser encontrada: nos braços de nossa Mãe Celestial, que estende Seu Filho a nós.

Nossa Senhora da China, rogai por nós!

(Ite Missa Est)

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