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O inferno existe? O que ele parece significar para alguns teólogos dos nossos dias?

Até recentemente, nenhum católico, por mais mal informado ou mal instruído que fosse, jamais tinha qualquer dúvida ou desorientação acerca da realidade do inferno e do castigo eterno caso tivesse a infelicidade de morrer em estado de pecado mortal sem arrependimento. O inferno existia. Era um lugar ou um estado de punição eterna habitado por aqueles rejeitados por Deus. É um ensinamento de fé que o inferno é uma realidade e que seus castigos duram por toda a eternidade; porém,  que os castigos dos réprobos são proporcionais à culpa individual de cada um é apenas uma opinião corrente entre os teólogos da Igreja; não é um artigo de fé.

Santo Agostinho ensina que “os castigos de alguns dos réprobos serão mais toleráveis que os de outros” (Enchiridion III)), um ponto de vista ilustrado poeticamente no Inferno de Dante, onde ele coloca não apenas Alexandre, o Grande, e Átila, o Huno, mas também o Papa Celestino V e o Papa Anastácio – o último equivocadamente, pois ele, muito provavelmente, estava se referindo ao Imperador de mesmo nome.

O inferno está povoado por almas condenadas – condenadas pelos seus próprios pecados e de acordo com a absoluta justiça e misericórdia de Deus. Sim, mesmo o inferno, com todos os seus tormentos, é um ato de misericórdia.

Aqueles que ensinam ou dão a entender um inferno que existe, mas está surpreendente e confortavelmente vazio, não têm apoio na Tradição da Igreja.

Essas ideias apareceram pela primeira vez nas obras de Orígenes e foram condenadas. Em nossos tempos, elas são encontradas nos escritos de Hans Urs von Balthasar e no teólogo convertido Sergei Bulgakov1, que o Papa João Paulo II confunde, aparentemente, com o romancista Mikhail Bulgakov no seu Cruzando o Limiar da Esperança; opiniões semelhantes são encontradas nos escritos do próprio Papa, como se ele duvidasse ou tivesse grandes reservas acerca das consequências da doutrina do inferno que, em outros lugares, ele defende (Catecismo da Igreja Católica, 1033, onde, infelizmente, o inferno foi colocado entre aspas). Confrontado com a doutrina clara da Igreja nessa matéria, ele diz, em seu novo livro, diante do mistério dos réprobos no inferno: “o silêncio da Igreja é, portanto, a única posição adequada à fé cristã”. A Igreja nunca foi silente; sua doutrina é clara como a de Cristo em pessoa. O inferno é eterno. As almas miseráveis vão para lá para experimentar o terror daquelas palavras terríveis de Cristo, “Afastai-vos de mim, miseráveis, para o fogo eterno” (Mt 25, 41), para experimentar o horror do verso de Dante: “Abandonai toda a esperança, Vós que entrais aqui” (Canto III, 9)

 

- Pe. Boyle, Janeiro de 1995.

  1. 1. [N. T] Sergey Bulgakov, padre da Igreja ortodoxa russa, jamais se converteu ao Catolicismo na verdade. Essa citação feita por João Paulo II é mais uma da série de suas bizarras citações de teólogos de outras religiões como se fossem mestres de vida espiritual. Em outra ocasião, o Papa se referiu ao teólogo ortodoxo bizantino Gregório Palamas e ao monge ortodoxo russo Serafim de Sarov como “santos”.
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