Irmãs da FSSPX
Como todas as noites, a mãe de Clara está supervisionando o dever de casa de sua menininha (que tem certa tendência à preguiça – especialmente quando se trata de se concentrar nos trabalhos da escola). Sua mãe, então, toma a decisão de ajudá-la a superar esse defeito, dizendo: “Agora que você entendeu, deve terminar seus exercícios de matemática sozinha, e não irá brincar lá fora até que esteja tudo pronto e bem feito”. Clara suspira, boceja, rascunha alguns números, suspira novamente... A mãe é firme: “Vamos; você consegue. Vou preparar a mamadeira do Pedro e, quando voltar, quero que o primeiro exercício esteja pronto”. Assim que a mãe deixa a sala, Clara se levanta e vai direto ao outro cômodo e, aninhando-se no colo do pai, diz: “Papai, o dever de matemática está muito difícil. Pode me ajudar?”. E ele, olhando os cachos dourados, o sorriso charmoso e o rostinho fofo da filha favorita, responde: “Vá buscar seu caderno e te ajudarei”. Ao retornar, a mãe descobre, descontente, que mais uma vez Clara não fez seus deveres sozinha. (Continue a ler)
Perder x Perder
Quem venceu nessa pequena estória? Certamente não foi a menina Clara, que perdeu uma boa oportunidade de crescer na virtude ao combater seu defeito predominante. Tampouco foi sua mãe, cuja autoridade foi anulada quando o marido permitiu algo que ela proibira. Certamente também não foi o pai, cuja fraqueza (ou imprudência) não lhe fez crédito aos olhos da filha. A menina sabe tirar vantagem do fato, porém acaba por diminuir a afeição, estima e admiração que tem por ele (que não foi suficientemente severo).
As crianças rapidamente percebem qual dos pais é menos exigente ou mais propenso a ceder aos seus caprichos – e tiram vantagem do fato, em detrimento de uma boa educação. Por isso é de suma importância que o casal entre em harmonia em relação às demandas educacionais dos filhos; caso contrário, diminuirão a autoridade um do outro. A melhor maneira de fazer isso é tirar um tempo para conversarem sobre a educação das crianças (sem elas por perto, obviamente!) e quais os objetivos, quais os defeitos predominantes de cada uma -- e a melhor maneira de ajudá-las a superá-los, que esforços devem ser exigidos e quais devem ser deixados de lado momentaneamente. Essas são algumas das questões essenciais que deverão primeiramente ser respondidas. Assim, cada um dos cônjuges pode dividir com o outro o que percebe na criança. A mãe, mais intuitiva, poderá notar uma dor secreta que o pai, mais direto, não percebeu. A família lucrará com essa harmonia: os pais estarão mais unidos ao exercerem a grande tarefa de educar, as crianças estarão cercadas de afeto e tudo e todos trabalharão pelo bem comum.
“Mãe, vou de bicicleta até a casa do Luis. Tudo bem?”. “Estranho”, pensa a mãe. “Geralmente é o pai quem decide sobre os passeios de bicicleta. Por que ele veio perguntar a mim?”. Prudentemente, ela pergunta: “Já pediu a seu pai?”. Vianney, envergonhado, responde: “É... Na verdade, não”. Realmente algo soava estranho. “Então pergunte a ele. O que ele decidir, estarei de acordo”. O menino desiste. A mãe comenta com o marido sobre isso à noite e percebe que o pai havia pedido ao filho que o ajudasse a varrer a garagem e ele estava tentando fugir da tarefa. O pai lhe conta também que considera Luis uma péssima influência para o filho. Graças à harmonia entre seus pais, Vianney manteve-se no caminho correto – ao menos dessa vez.
As questões importantes
Essa harmonia entre os pais, deveras importante nos pequenos detalhes da vida diária, é ainda mais vital quando se trata de assuntos fundamentais como convicções religiosas e visões gerais de mundo. Por exemplo: se a mãe não pratica a religião regularmente ou se, quando vai à Missa, assiste a Missa nova porque “é mais perto, você entende tudo e, sabe, não queremos ser os diferentes”. Quando o pai está presente, ele certamente leva as crianças à Missa no priorado, mas seu trabalho faz com que se ausente frequentemente de casa. Como resultado, as crianças vão algumas vezes numa Missa e algumas vezes à outra – e às vezes não vão a nenhuma. Não será difícil (e até mesmo improvável) que elas tenham firmes convicções sobre a prática religiosa e a opinião correta sobre a crise na Igreja? Numa situação como essa, precisa-se fazer o melhor possível, mas a tarefa de educar torna-se muito mais delicada.
Outro exemplo: um pai tenta seguir o caminho correto e seus filhos, pelo menos, precisam frequentar uma boa escola (que será útil na prática de sua religião). A mãe, porém, é contra: “Internato? Nem pensar!”. Para evitar um novo conflito, o pai acaba por desistir mais uma vez (assim como desistira de ser contra mandar as crianças para um acampamento de verão, permitir que fossem à praia com os primos, dentre outras coisas). Ele faz o que pode, mas como evitar optar pelo caminho mais fácil?
Agora as crianças cresceram. João, o mais velho, vive com uma jovem sem estarem casados. Alice é casada no civil com um judeu. Adriano ao menos teve um casamento católico, porém na Missa nova. Ele e a mulher praticam a religião com regularidade, seus dois filhos frequentam as aulas de Catecismo, mas não sabemos se a Fé e a prática da Fé sobreviverão até a próxima geração. Além de rezar, o que mais seus pais podem fazer para evitar esse desastre? Apenas chorar. Eles têm um consolo, porém: Henry, o caçula, que sempre foi muito próximo do pai. O pequeno sofrera durante toda a infância em razão da falta de harmonia entre seus pais, entretanto permaneceu fiel às Tradições da Igreja e jurou casar-se somente com uma mulher cujas convicções religiosas sejam as mesmas – para que possam formar um lar sólido e radiante que observe os valores essenciais.
As duas pessoas que as crianças amam
Até mesmo quando os pais têm ideais similares, nem sempre a convivência é fácil. A força do hábito, a fricção causada pelas diferenças entre as psicologias masculina e feminina e os defeitos que não são combatidos podem, juntos, acabar por destruir o frescor do primeiro amor. Isso faz com que os filhos sejam os primeiros a sofrerem com os mal-entendidos e as disputas que nascem entre quatro paredes, herdando os gestos de raiva e impaciência e também os silêncios cheios de ressentimentos e ameaças. O sofrimento de seus corações acaba por se fazer notar na ansiedade, nos distúrbios do sono e nos trabalhos escolares ruins, e são uma ameaça à estabilidade e à segurança de que tanto necessitam enquanto crescem. As duas pessoas que mais amam no mundo não vivem mais em paz. Felizmente a Graça do Matrimônio existe para ajudar os pais a viverem de acordo com o Sacramento que receberam, assim como para sustentá-los face os sacrifícios necessários e inevitáveis que ajudam a manter a harmonia conjugal. A Confissão e a Comunhão curam os problemas e dão força renovada na criação de um lar unido dia após dia.
“A mamãe e o papai são iguais”: quando os filhos podem dizer isso de seus pais é motivo de orgulho, alegria e força para essa família durante toda vida.