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II. A política de Platão

II

A política de Platão

Trata-se aqui do “binômio” SÓCRATES-PLATÃO, visto que não podemos distinguir, com precisão histórica, o que vem de um e de outro.

Motivo do interesse pelos gregos: no Oriente (exceto na China), não há filosofia política propriamente dita, mas uma religião com repercussões sociais. V. Maritain, a respeito dos gregos – “povo eleito pela razão” – que cumpriam, no plano da [razão], o papel de Israel no plano da religião.

Efervescência na Grécia do séc. V: dissolução da religião, dos costumes, da ciência, das instituições. Daí o ceticismo e a sofística. Papel negativo dos sofistas (apesar de Hegel e Nietzsche, que os defendem) – destruição da idéia de verdade, da distinção do bem e do mal e de todos os valores sociais.

PLATÃO (429-348), de casta principesca, inclinado à poesia: renuncia-a. Viaja e compara. Tentativa de ação política, retumbante fracasso. Filosofia pura, no final (“Academia”).

Para ele, existe um verdadeiro interesse político, guiado por preocupações morais que supunham a reforma dos espíritos. Ocupar-se-á de convencer sucessivamente cidades inimigas.

Gradação de uma política de tipo utópica (a mais célebre) para uma visão mais realista. “A República” – “O Político” – “As Leis”.

- “A República”: divisão tripartite da alma (pensamento, coração, desejo), regrada por virtudes fundamentais. Projeção desse esquema sobre a sociedade; três escalões sociais: filósofos, guerreiros, artesãos (os escravos, que não eram cidadãos, não entravam na classificação). Os filósofos não são os “puros intelectos” que opomos tão amiúde frente aos homens de ação. Os guerreiros não são abrutalhados, mas recebem vigorosa educação. Não diz respeito a castas fechadas, como no bramanismo. Há ascensão e queda de homens, de um escalão para outro, segundo suas qualidades. As mulheres são iguais aos homens e podem aceder às funções superiores. Não existe propriedade individual (Platão é coletivista), nem família (o Estado regula questões tais como eugenia etc.), já que essas duas instituições são obstáculos ao poder absoluto do Estado.

Comparação desse comunismo moralista com o dos anarquistas (Platão era estatista); com o dos marxistas (Platão sublinha o plano espiritual); com a atitude de Nietzsche (Platão põe os homens superiores ao serviço do bem comum, e não acima dele).

Teoria dos diferentes tipos de regime político, conforme seja governado por um grande número, por um pequeno número ou por um só. Cada um desses tipos pode desviar-se, tornar-se demagógico, oligárquico ou tirânico (destino dessa classificação, a seguir).

- “O Político”: o filósofo não governa, mas é conselheiro do governante. A soberania fundamenta-se na superioridade natural, atitude mais realista que a d’“A República”.

- “As Leis”: obra de maturidade, moralista como a “República”, mas politicamente menos utópica: papel da persuasão, maior liberdade do cidadão, alguma propriedade familiar etc.

 

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