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Artigo 3 - Se a presunção se opõe mais ao temor que à esperança.

O terceiro discute-se assim. – Parece que a presunção se opõe mais ao temor que à esperança.

1 – Pois, o temor desordenado se opõe ao temor reto. Ora, a presunção parece fazer parte do temor desordenado, conforme aquilo da Escritura: Sempre uma consciência perturbada presume coisas cruéis; e ainda: o temor é um auxiliar da presunção, Logo, a presunção se opõe ao temor, mais que à esperança.

2. Demais. – Os contrários distam em máximo grau. Ora, a presunção dista mais do temor do que da esperança, pois implica movimento para o seu objeto, como a esperança; ao contrário, o temor implica um afastamento do objeto. Logo, a presunção contraria mais ao temor que à esperança.

3. Demais. – A presunção exclui totalmente o temor, não porém a esperança, senão só a retidão desta. Ora, como os contrários mutuamente se destroem, parece que a presunção se opõe mais ao temor que à esperança.

Mas, em contrário, dois vícios opostos entre si são contrários a uma mesma virtude; assim a timidez e a audácia, à fortaleza. Ora, o pecado da presunção é contrário ao do desespero, diretamente oposto à esperança. Logo, parece também a presunção se opõe mais diretamente à esperança.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, a todas as virtudes são contrários não só os vícios, que delas difiram manifestamente, como à prudência a temeridade, mas também os que, sob algum aspecto, lhes são vizinhos é se lhes assemelham, não verdadeiramente, mas sob uma aparência falaciosa, como à prudência a astúcia. E também o Filósofo diz que a virtude tem maior semelhança com um do que com outro dos vícios opostos; assim a temperança, com a insensibilidade, e a fortaleza, com a audácia. Por onde, a presunção tem oposição manifesta com o temor, sobretudo o servil, relativo à pena proveniente da justiça de Deus, cujo perdão a presunção espera. Mas, por semelhança aparente, contraria, antes, à esperança, por implicar uma certa esperança desordenada em Deus. E como se opõem mais diretamente as realidades de um mesmo gênero, que as de gêneros diversos, por serem os contrários do mesmo gênero, por isso, mais diretamente a presunção se opõe à esperança que ao temor. Pois, uma e outra se fundam no mesmo objeto; mas a esperança, ordenada, e a presunção, desordenadamente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ A esperança é, referida ao mal, abusivamente, e ao bem, em sentido próprio. Assim também a presunção. E a esta luz o temor desordenado chama-se presunção.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Contrários são os termos mais distantes entre si, no mesmo gênero. Ora, a presunção e a esperança implicam um movimento do mesmo gênero, que pode ser ordenado ou desordenado. Por isso a presunção contraria mais diretamente à esperança que ao temor. Pois à esperança contraria em razão da diferença própria, como o desordenado, ao ordenado; enquanto que ao temor, em razão da sua diferença genérica, que é um movimento da esperança.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A presunção contraria ao temor por contrariedade genérica; mas à virtude da esperança por contrariedade de diferença. Por isso, a presunção exclui totalmente o temor, mesmo genericamente; mas não exclui a esperança, senão em razão da diferença, excluindo-lhe o ser desordenado.

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