“Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro ele Me odiou. Se vós lhe pertencêsseis o mundo vos amaria, como ama os que são seus; mas vós não sois do mundo, fui Eu que vos apartei do mundo, e é por isso que ele vos odeia”.
(Jo 15, 18; Mat 10, 22; Mc 13, 13; lc 6,22; Jo 17, 14; Jo 3, 13; 17, 14-16; IJo 4, 5; 13, 16; Mat 10, 24; Lc 6, 40).
Essas palavras ditas por Nosso Senhor pouco antes da Paixão, e registradas em todos os Evangelhos, não podem ser deformadas: são duras demais; nem podem ser ignoradas: são claras demais. Quem quiser fazer de conta que não vê a inimizade do “mundo”, e quem pretender que é aqui mesmo neste mundo que o homem atinge a plenitude de sua sorte, quem quiser em suma pertencer a esse “novo humanismo” que recusa, como alienante, essa transcendência sobre o mundo, tem de começar por apartar-se de Cristo para persegui-lo e odiá-lo naqueles que o seguem, e que durante esta vida completam no seu Corpo Místico a sua Paixão. Já de sobejo sabemos que o termo “mundo” nesses textos terríveis e incontornáveis não designa a natureza criada nem a vida temporal com todas as implicações da natureza humana; designa as organizações criadas pelo orgulho humano ao longo da história, para afastar de Deus os homens inebriados de seus sucessos, e esquecidos de sua miséria. Esse mundo, que hoje é formado de várias correntes históricas e organizações sociais como o comunismo, a maçonaria, o liberalismo e as várias formas de pseudo-cristianismo, arranca as almas à Igreja, afasta-as da Salvação, separa-as de Cristo. O Concílio de Trento definiu claramente os três cruéis inimigos das almas e da Igreja Militante, e ai de nós! Se desprezarmos tão salutar doutrina, e dando ouvido às fábulas seguirmos os falsos mestres, inimigos de Jesus, que dele se afastaram para se realizarem no mundo.
Perguntará algum leitor desatento ou aturdido por tantos falsos ensinamentos: — de que modo nos persegue o mundo se não vemos nenhuma clara perseguição religiosa?
— Ó galata pouco inteligente! geme São Paulo. Ó leitor desatento! Gememos nós. Consideremos o espetáculo dos costumes que aflige tantas famílias, lembremos os casos de tantas e tantas moças que se transviam, que se perdem, que se prostituem, e que ainda respondem aos pais “que eles estão por fora e não entendem nada”.
Pergunto eu: qual é o critério principal que norteia a vida dessas pobres moças embrutecidas? Todos proclamam: “é o hoje” é a “atualidade” unanimemente afinada pelo diapasão do orgulho que esmaga o 4° Mandamento, despreza Deus e diz aos moços que só eles são juizes de seus atos, como, com todas as letras, já foi dito num “catecismo” editado pela Sono-Viso, aprovado pela CNBB e evidentemente inspirado pelo Diabo.
O inimigo evidente das pobres moças que se perdem é “o que todo mundo faz”, é o que se vê nos filmes, nas TV’s, ora, é esse gênio mau que Jesus chama “mundo”. E os jovens idiotas, quando pensam que estão sendo movidos por sua esplêndida e brilhante soberba, quando pensam que estão agindo livremente, COITADOS !!!, é justamente nesses arrebatamentos que estão sendo arrastados, puxados, levados para a sarjeta e para o prostíbulo pelo aparelho da perdição que Jesus chama “mundo” do qual Ele nos veio apartar, do qual nos veio salvar.
O “mundo” tem flutuações de malignidade ao longo da história. Podemos hoje asseverar que esse inimigo tornou-se mais perverso do que nunca porque desarmou aqueles que tinham o dever de ensinar e propagar as palavras duras de Jesus, mas seduzidos pelo mundo, ao contrário espalham as palavras neles de tolerância, que chamam de reconciliação, e de indiferença diante de Deus, que chamam de ecumenismo.
Tenhamos nós a coragem de permanecer ao lado de Jesus na hora sombria em que nos diz: o mundo vos odeia, o mundo quer prostituir vossas filhas, degradar vossos filhos, vos levar até o extremo cansaço, até o desânimo extremo porque a Mim mesmo levou até à morte, e morte de cruz.
Meditemos a fundo esta palavra infinita do próprio Filho de Deus: vós não sois do mundo, e fui Eu que vos apartei. O grande desafio de nossa época é claro: o mundo ou Deus? a novidade do aggiornamento ou a eternidade de Cristo? A Beatitude ou o Prazer? Agarremo-nos às armas santas, à oração, à penitência, ao santo desejo de perfeição, e veremos que não é tão difícil como parece fugir ao visgo do “que todo mundo faz” por submissão de vencidos e não por escolha livre. Obedecemos a Deus e seremos os mais livres dos homens.
(Editorial da Revista Permanência, n° 76-77, Março-Abril de 1975.)