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Art. 15 – Se a oração é meritória.

O décimo quinto discute–se assim. – Parece que a oração não é meritória.

1. – Pois, todo mérito procede da graça. Ora, a oração precede a graça, porque a mesma graça nós a impetramos na oração, conforme aquilo da Escritura: O vosso Pai celestial dará espírito bom aos que lhe o pedirem. Logo, a oração não é um ato meritório.

2. Demais. – Se a oração é meritória, parece que há de sê–la, sobretudo o que pede. Ora, isso nem sempre ela o merece, pois, muitas vezes, mesmo a oração dos santos não é ouvida; assim, Paulo não foi ouvido quando pedia para ficar livre do estímulo da carne. Logo, a oração não é um ato meritório.

3. Demais. – A oração funda–se principalmente na fé, conforme aquilo da Escritura: Mas peça com fé sem hesitação alguma. Ora, a fé não basta para merecer, como o demonstram os que a têm informe. Logo. a oração não é um ato meritório.

Mas, em contrário, aquilo da Escritura: ­ A minha oração dava voltas no meu seio. – diz a Glosa: Embora não Ihes aproveitasse, contudo não fique frustrado na minha recompensa. Ora, recompensa só é devida ao mérito. Logo, a oração é por natureza meritória.

SOLUÇÃO. – Como se disse, a oração, além do efeito da consolação espiritual, que produz quando a fazemos, encerra uma dupla virtude, quanto ao efeito futuro, a saber, a de merecer e a de obter os favores divinos. – Assim, a oração, como qualquer outro ato de virtude, tem eficácia para merecer, por proceder radicalmente da caridade, da qual o objeto próprio é o bem eterno, cuja fruição merecemos. Ora, a oração procede da caridade mediante a religião, da qual é o ato, como se disse, mas, acompanhada de certas outras virtudes, a saber, a humildade e a fé, exigi das pela bondade da oração. Ora, da religião é próprio oferecer a Deus a oração; à caridade. desejar aquilo cuja realização a oração pede: e a fé é necessária, relativamente a Deus, a quem oramos. isto é, devemos crer que podemos obter dele o que pedimos. Quanto à humildade, ela é necessária por parte de quem pede, que reconhece as suas necessidades. E finalmente, é necessária a devoção: mas, esta pertence à religião, cujo primeiro ato é necessário para a obtenção de todos os outros, como dissemos. – A eficácia para obter o que pede, a oração a tira da graça de Deus, a quem oramos e que nos exorta a orar. Por isso diz Agostinho: Não nos exortaria a pedir se não quisesse dar. E Crisóstomo: Não nega nunca os seus benefícios a quem ora, aquele que nos anima com o seu amor para não desfalecermos nas nossas orações.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A oração não é meritória, sem a graça santificante, corno não o é qualquer outro ato virtuoso. E contudo. tamhém a oração que pede a graça santificante procede de outra graça, como de um om gratuito, pois, já o orar é um dom de Deus, no dizer ele Agostinho.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Às vezes o mérito ela oração respeita principalmente a uma coisa diferente daquilo que pedimos. Pois, o mérito principalmente se ordena à felicidade; ao passo que o pedido na oração visa diretamente às vezes outras coisas. Por onde, se o que para nós pedimos não nós é útil para a felicidade, não o merecemos: mas, às vozes. pedindo–o, e desejando–o, perdemos o mérito; por exemplo, se pedimos a Deus a realização de um desejo pecaminoso, o que não é orar piedosamente. Outras vezes, porém, o pedido não é necessário à salvação nem manifestamente contrário a ela; e então, embora possamos pela oração merecer a vida eterna, não merecemos, contudo obter o que pedimos. Por isso diz Agostinho: Quando suplicamos fielmente a Deus pelas necessidades desta vida somos ouvidos misericordiosamente umas vezes, e outras, não. Pois, o que é útil ao doente o médico o sabe melhor que ele. Por isso Paulo não foi ouvido quando pedia para ficar livre do estímulo da carne; porque não lh'o convinha. Se porém o que pedimos nos for útil à felicidade e for de necessidade para a nossa salvação, nós merecemos, não só orando, mas também praticando outras boas obras. E então sem dúvida recebemos o que pedimos, mas, quando o devemos receber; pois, certas causas não nos são negadas, mas, diferidas, para nos serem dadas em tempo oportuno; como diz Agostinho. O que, porém poderemos não obter se não perseverarmos na oração. E por isso diz Basílio: Se às vezes pedes e não recebes, é que pediste mal – ou com infidelidade, ou com leviandade, ou o que não te convinha, ou porque deixaste de pedir. Ora, como ninguém pode, pelos seus próprios méritos, merecer a vida eterna para outrem, como dissemos também não lhe pode, por consequência nunca merecer, do modo sobredito, o que respeita a tal vida. E por isso nem sempre é ouvido quem ora por outrem, como dissemos. Por onde, estabelecem–se quatro condições; e, quando concorrem, obtemos o que pedimos: pedirmos por nós mesmos, pedir causas necessárias à salvação, pia e perseverantemente.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A oração se funda principalmente na fé, não quanto à eficácia no merecer, porque, então, é na caridade que ela principalmente se funda; mas, quanto à eficácia para obter, pois, pela fé sabemos que Deus tem onipotência e misericórdia, das quais a oração obtém o que pede.

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