O décimo quarto discute–se assim. – Parece que a oração não deve ser diuturna.
1. – Pois, diz o Evangelho: Quando orais, não faleis muito. Ora, quem ora prolongadamente há de falar muito, sobretudo se a oração for vocal. Logo, a oração não deve ser diuturna.
2. Demais. – A oração manifesta os nossos desejos. Ora, um desejo é tanto mais santo quanto mais se restringe a um só objeto, conforme àquilo da Escritura: Uma só causa pedi ao Senhor, esta tornarei a pedir. Logo, a oração será tanto mais aceita ele Deus, quanto mais breve for.
3. Demais. – É ilícito transgredirmos os limites prefixados por Deus, sobretudo quando se trata do culto divino, conforme o diz a Escritura: Notifica ao povo não suceda que, para ver o Senhor, queira passar os limites e pereça um grande número deles. Ora, Deus nos prefixou limites, para orar, quando instituiu a Oração Dominical, como está claro no Evangelho. Logo, não é lícito protrairmos as nossas orações além desses limites.
Mas, em contrário. Parece que devemos orar continuamente; pois, o Senhor o ordena: Importa orar sempre e não cessar de o fazer; e noutro lugar: Orai sem intermissão.
SOLUÇÃO. – Podemos encarar a oração à dupla luz: em si mesma e na sua causa.
A sua causa é o desejo da raridade, da qual ela deve proceder. O qual em nós há ele ser contínuo, atual ou virtualmente; pois, a virtude de tal desejo permanece em tudo o que fazemos por caridade, porque, como diz o Apóstolo, elevemos fazer tudo para a glória de Deus. E, assim, a oração deve ser contínua. Donde o dizer Agostinho: Na fé, na esperança e na caridade, sempre oramos com a continuidade do nosso desejo.
Considerada em si mesma, porém, a oração não pode ser contínua, porque temos ele nos ocupar com outras obras. Mas, no mesmo lugar, Agostinho diz o seguinte: Rogamos a Deus por certos intervalos de horas e de tempos, para por meio desses sinais sensíveis, nos advertirmos a nós mesmos; darmos a conhecer a nos mesmos quanto progredimos nesse desejo e nos excitarmos a nós próprios, mais fortemente, a continuar no mesmo caminho. Ora, a quantidade de uma causa deve ser proporcionada ao fim, como a quantidade do remédio, à saúde. Por onde, convém à oração durar tanto quanto for útil para despertar o fervor do desejo interno. E quando exceder essa medida, de modo a não poder durar sem nos causar tédio, não devemos protrai–la. Por isso, nota Agostinho: Disse que os padres no Egito fazem orações frequentes, mas, brevíssimas e em forma de rápidas jaculatórias; a fim de que aquela contenção de espírito, que devemos manter com vigilância e é tão necessária a quem ora, não se desvaneça pela duração muito prolongada e nem se embote. E por aí também mostram suficientemente que, se não podemos forçar essa contenção quando ela não vinga perdurar, também não devemos interrompê–la inopinadamente, enquanto perdura. E se temos de proceder assim, em se tratando da nossa oração particular, relativamente à nossa contenção de espírito, o mesmo se há de fazer na oração em comum relativamente à devoção do povo.
DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Agostinho diz: Orar longamente não consiste em pronunciar muitas palavras. Uma coisa é o multilóquio e outra o perdurar do afeto. Pois, do próprio Senhor foi escrito que pernoitou na oração e orou mais prolongadamente para nos dar o exemplo. E em seguida acrescenta: Que não haja na oração muitas palavras, mas oremos tanto quanto durar a nossa fervorosa contenção de espírito. Pois, orar usando de muitas palavras é fazer o necessário com palavras supérfluas. Porque, muitas vezes, esse ato nós o praticamos mais com gemidos de que com palavras.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A longura da oração não consiste em pedirmos muitas coisas mas, na continuidade do afeto, desejando um só objeto.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O Senhor não instituiu a Oração Dominical como uma obrigação para nós de só orarmos empregando os vocábulos que a compõem. Mas, para que a nossa intenção, ao orar, seja pedir a realização do que nela se contém, seja qual for o modo de a proferirmos ou de a meditarmos.
RESPOSTA À QUARTA. – Oramos continuamente, ou pela continuidade do desejo, como dissemos; ou por não deixarmos de orar nos tempos determinados; ou pelo efeito da oração, quer em nós mesmo, que, depois dela, continuamos mais devotos, quer em outrem, por exemplo, quando, pelos nossos benefícios, excitamo–los a orarem por nós, mesmo quando tivermos deixado de orar.