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Art. 3 – Se a religião é uma só virtude.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a religião não é uma só virtude.

1 – Pois, pela religião nós nos ordenamos para Deus, como se disse. Ora, devemos admitir três Pessoas em Deus; e além disso muitos atributos que, ao menos racionalmente, diferem entre si. Ora, as noções diversas do objeto bastam para diversificar as virtudes, como do sobredito se colhe. Logo, a religião não é uma só virtude.

2. Demais. – Parece que a cada virtude corresponde um ato, pois, os hábitos se distinguem pelos atos, Ora, muitos são os atos da religião, como cultuar e servir, devotar–se, orar, sacrificar e muitos outros. Logo, a religião não é uma só virtude.

3. Demais. – A adoração pertence à religião. Ora, por uma razão adoramos as imagens e por outra, a Deus. Logo, como noções diversas distinguem as virtudes, parece que a religião não é uma só virtude.

Mas, em contrário, a Escritura: Um Deus, uma fé. Ora, a verdadeira religião proclama a sua fé em um só Deus. Logo, a religião é uma só virtude.

SOLUÇÃO. – Como se disse os hábitos se distinguem pelas noções diversas do objeto. Ora, à religião pertence prestar reverência ao Deus único, fundada numa só noção, isto é, enquanto ele é o primeiro princípio da criação e do governo das cousas. Donde o dizer a Escritura: Se eu sou vosso pai, onde está minha honra? Pois, é próprio do pai produzir e governar. Logo, é manifesto que a religião é uma só virtude.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As três Pessoas divinas são um só princípio da criação e do governo das cousas : por isso uma só religião lhes presta submissão. Ora, as ideias diversas dos atributos concorrem para formar a noção do primeiro princípio; porque Deus produz todas as coisas e as governa pela sabedoria, pela vontade e pelo poder da sua bondade. Logo, a religião é uma só virtude.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Pelo mesmo ato o homem serve a Deus e o cultua; pois, o culto respeita à excelência divina, a quem é devida a reverência; ao passo que a servitude respeita à sujeição do homem que, pela sua condição, está obrigado a prestar reverência a Deus. E ao culto e à servitude pertencem todos os atos atribuídos à religião; porque por todo o homem proclama a divina excelência e a sua sujeição a Deus, quer oferecendo–lhe alguma coisa, quer também, considerando–se coisa de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Não prestamos o culto de religião às imagens consideradas em si mesmas, como coisas: mas, enquanto conducentes ao Deus incarnado. Ora, o culto pela imagem, como tal, não finda nela, mas, tende para o ser que ela representa. Logo, prestar o culto de religião às imagens de Cristo não diversifica a ideia de latria nem a virtude de religião.

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