O segundo discute–se assim. – Parece que a religião não é uma virtude.
1 – Pois, parece que à religião pertence prestar reverência a Deus. Ora, reverenciar é ato de temor, que é um dom, como do sobredito resulta. Logo, a religião não é uma virtude, mas um dom.
2. Demais. – Toda virtude consiste na vontade livre, sendo por isso chamada hábito eletivo ou voluntário. Ora, corno se disse, à religião pertence a latria, que implica uma certa servitude. Logo, a religião não é uma virtude.
3. Demais. – Como diz Aristóteles, nós temos por natureza a aptidão para a virtude: por onde, o que respeita às virtudes constitui ditame da razão natural. Ora, à religião pertence realizar as cerimônias próprias à natureza divina. Mas, o que respeita às cerimônias, não constituindo ditame da razão natural, como já se disse, conclui–se que a religião não é uma virtude.
Mas, em contrário, a religião está enumerada entre ás outras virtudes como resultado que já foi dito.
SOLUÇÃO. – Como já se disse a virtude torna bom quem a tem e boa a sua obra. Logo, é necessário admitir que todo ato bom pertence à virtude. Ora, é manifesto, que pagar o devido é obra por natureza boa; porque, quem o faz observa a ordem devida para com aquele a quem deve quase como convenientemente ordenado para ele. Ora, a ordem, como o modo e a espécie, implica à noção de bem, conforme está claro em Agostinho. Logo, pertencendo à religião prestar as honras devidas a alguém, que é Deus, é manifesto que ela é uma virtude.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Reverenciar a Deus é um ato do dom do temor. Ora, à religião pertence praticar certos atos para reverenciar a Deus. Donde não se segue que a religião seja o mesmo que o dom do temor, mas, que se ordena para Ele como para algo de mais principal; pois, os, dons são mais principais que as virtudes morais, como já se estabeleceu.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Também o servo pode pagar voluntariamente ao senhor o que lhe deve; e assim faz da necessidade, virtude, pagando de livre vontade o que deve. E, do mesmo modo, servir a Deus, como devemos, pode ser ato de virtude, enquanto que voluntariamente o fazemos.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O ditame da razão natural exige que o homem faça certos atos para reverenciar a Deus. Mas, não exige o ditame da lei natural, senão que é instituição de direito divino ou humano, que faça determinadamente tais cousas ou tais outras.