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Art. 4 – Se a religião é uma virtude especial distinta das outras.

O quarto discute–se assim. – Parece que a religião não é uma virtude especial distinta das outras.

1 – Pois, diz Agostinho: Verdadeiro sacrifício é toda obra que praticamos para nos unirmos com Deus por uma sociedade santa. Ora, o sacrifício pertence à religião. Logo, toda obra de virtude pertence à religião. E, assim, não é esta uma virtude especial.

2. Demais. – O Apóstolo diz: Fazei tudo para a glória de Deus. Ora, à religião pertence praticar certo, atos para reverenciar a Deus, como já se disse. Logo, a religião não é uma virtude especial.

3. Demais. – A caridade com que amamos a Deus não é virtude distinta da com que amamos o próximo. Ora, como diz Aristóteles, ser honrado é quase o mesmo que ser amado. Logo, a religião com que honramos a Deus não é uma virtude especialmente distinta do respeito, dulia ou piedade com que honramos o próximo. Portanto, não é uma virtude especial.

Mas, em contrário, ela é considerada como parte da justiça, distinta das outras partes desta.

SOLUÇÃO. – Ordenando–se a virtude para o bem, a uma noção especial do, bem há de necessariamente corresponder uma virtude especial. Ora, o bem a que a religião se ordena é prestar a Deus a honra devida. Mas, a honra é devida a alguém, em razão da sua excelência, Ora, Deus, sobrepujando todas as cousas infinitamente por uma superioridade omnimoda, tem uma excelência singular. Por onde, é–lhe devida uma honra especial, assim como, nas cousas humanas, vemos que às excelências diversas elas pessoas é devida uma honra especial – uma ao pai, outra ao rei e assim por diante. Portanto, é manifesto que a religião é uma virtude especial.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Toda obra virtuosa é considerada sacrifício enquanto ordenada a reverenciar a Deus. Por isso não se conclui daí que a religião seja uma virtude especial, mas, que impera sobre todas as outras virtudes, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. –  Todos os atos, enquanto feitos para a glória de Deus, pertencem à religião, não como elícitos dela, mas como imperados. Ao contrário, pertencem à religião, como atos dela eleitos, os que especificamente visam reverenciar a Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O objeto do amor é o bem, ao passo que o objeto da honra ou da reverência é alguma excelência. Ora, é a bondade de Deus que se comunica às criaturas e não, a excelência dessa bondade. Por onde, a caridade, com que amamos a Deus, não é virtude distinta ela com que amamos ao próximo. Ao passo que a religião, com que honramos a Deus, distingue–se elas virtudes com que honramos o próximo.

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