O sétimo discute-se assim. ─ Parece que os condenados não podem se servir dos conhecimentos obtidos neste mundo.
1. ─ Pois, o exercício da ciência é deleitável soberanamente. Ora, os condenados não são susceptíveis de nenhuma deleitação. Logo, não podem de nenhum modo servir-se da ciência antes adquirida, de nenhum modo.
2. Demais. ─ As penas dos condenados são maiores que qualquer pena deste mundo. Ora, neste mundo, quando sofremos grandes tormentos, não podemos considerar nenhumas conclusões científicas, absorvidos que ficamos pelo suplício dessas penas. Logo, com maior razão, os condenados no inferno.
3. Demais. ─ Os condenados estão sujeios ao tempo. Ora, a dilatação do tempo é uma causa de esquecimento, como diz Aristóteles. Logo, os condenados hão de esquecer-se do que cá souberam.
Mas, em contrário, no Evangelho se diz ao rico condenado: Lembra-te que recebeste os teus bens em tua vida, etc. Logo, hão de lembrar-se do que neste mundo souberam.
2. Demais. ─ As espécies inteligíveis subsistem na alma separada, como se disse. ─ Ora, se os condenados não puderem usar delas, inúteis lhes serão.
SOLUÇÃO. ─ Pela perfeição da sua beatitude, nada terão os santos que não lhes seja matéria de alegria. É igualmente, nada nos condenados haverá que não lhes seja causa de sofrimento, nem lhes faltará nenhuma causa de sofrimentos, para lhes ser consumada a miséria. Ora, pensarmos em certos conhecimentos adquiridos pode, de algum modo, ser causa de alegria ─ ou por parte dos objetos conhecidos, que amamos; ou por parte do próprio conhecimento, pelo que tem de perfeição e de verdadeiro. Mas pode também ser causa de sofrimento ─ por parte das cousas conhecidas, quando são de natureza a nos fazerem sofrer; ou parte do conhecimento mesmo, quando lhe refletimos na imperfeição, pensando no conhecimento deficiente que temos de uma cousa, que desejaríamos conhecer perfeitamente. E assim os condenados terão, no pensamento dos conhecimentos que adquiriram antes, matéria de sofrimento e de nenhum modo, de prazer. Assim, considerarão no mal que fizeram e pelo qual se condenaram; e nos bens agradáveis, que perderam. E tudo isso lhes aumentará as torturas. Também serão supliciados pensando quão imperfeito foi o conhecimento que tiveram das verdades especulativas, e como perderam, podendo tê-la alcançado, a suma perfeição dele.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Embora a consideração científica possa em si mesma ser causa de prazer, pode contudo por acidente ser causa de sofrimento. E isto se dará com os condenados.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Neste mundo, a alma está unida a um corpo corruptível. Por isso, o sofrimento do corpo impede a alma de pensar. Mas na vida futura, a alma não será assim obstruída pelo corpo; pois, por mais atormentado que seja o corpo, contudo a alma sempre com a maior lucidez poderá considerar no que lhe puder ser causa de sofrimento.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O tempo é uma causa acidental de sofrimento, enquanto o movimento, que ele mede, é causa de mudança. Ora, depois do dia de juízo, cessará o movimento do céu; por isso nenhum esquecimento mais poderá haver, por mais longa que seja a duração. Mas, mesmo antes do dia de juízo, o movimento do céu não causa nenhuma alteração na disposição da alma separada.