O oitavo discute-se assim. ─ Parece que os condenados às vezes pensarão em Deus.
1. ─ Pois, não podemos ter um ódio atual, senão do em que pensamos. Ora, os condenados terão ódio de Deus, como diz o Mestre. Logo, às vezes pensarão em Deus.
2. Demais. ─ Os condenados terão o remorso da consciência. Ora, a consciência sofre remorso dos atos cometidos contra Deus. Logo, os condenados às vezes pensarão em Deus.
Mas, em contrário. ─ O mais perfeito dos nossos pensamentos é o que tem Deus por objeto. Ora, os condenados estão num estado imperfeitíssimo. Logo, não pensarão em Deus.
SOLUÇÃO. ─ De dois modos pode ser Deus objeto dos nossos pensamentos. ─ Primeiro, em si mesmo e pelo que propriamente é; i. é, como princípio de toda bondade. E então de nenhum modo podemos pensar em Deus sem experimentarmos prazer. Ora, assim, os condenados não pensarão absolutamente em Deus. ─ Segundo, pelos seus efeitos, como punir ou outro semelhante, que lhe são como acidentes. E então o pensar em Deus pode ser causa de sofrimento. E assim os condenados pensarão em Deus .
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Os condenados não pensam em Deus senão por causa das proibições que faz ou das penas que inflige, e que lhes contraria à vontade má. Por isso não no consideram senão como quem lhes impõe castigos e proibições. Donde se deduz a resposta à segunda objeção. ─ Porque a consciência do pecado não remorde, senão enquanto contrária ao preceito divino.