O terceiro discute-se assim. ─ Parece que os anjos devem julgar.
1. ─ Pois, diz o Evangelho: Quando vier o Filho do homem na sua majestade e todos os anjos com ele. Ora, refere da vinda para o juízo. Logo, parece que também os anjos julgarão.
2. Demais. ─ As ordens dos anjos recebem a sua denominação do ofício que exercem. Ora, uma ordem de anjos é a dos Tronos, a que incumbe o poder judiciário; pois trono é o assento real, o sólio do rei, a cátedra de doutor. Logo, certos anjos julgarão.
3. Demais. - Aos santos depois desta vida é prometida a igualdade com os anjos. Se, portanto, os homens terão o poder de julgar, com maior razão os anjos.
Mas, em contrário. ─ O Evangelho diz: E lhe deu o poder de exercitar o juízo, porque é Filho do homem. Ora, os anjos não participam da natureza humana. Logo, nem do poder judiciário.
2. Demais. ─ Não pode julgar o ministro do juiz. Ora, no juízo final, os anjos serão como uns ministros, conforme aquilo do Evangelho: Enviará o Filho do homem os seus anjos e tirarão do seu reino todos os escândalos. Logo, os anjos não julgarão.
SOLUÇÃO. ─ Os assessores do juiz devem-lhe ser conformes. Ora, o juízo é atribuído ao Filho, que se manifestará, na sua natureza humana, tanto aos bons como aos maus; embora toda a Trindade julgue por autoridade própria. Por onde, é também necessário que os assessores do juiz tenham a natureza humana, na qual possam ser vistos de todos, bons e maus. E assim aos anjos não compete julgar. ─ Embora possam, de certo modo, julgar, pela aprovação da sentença.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Como se vê pela Glosa ao lugar citado, os anjos virão com Cristo, não como juízes, mas, como testemunhas dos atos humanos, pois, foi sob a guarda deles que os homens procederam bem ou mal.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O nome de Trono é atribuído aos anjos em razão de aquele juízo que Deus sempre exerce, governando todas as cousas com suma justiça; de cujo juízo os anjos são de certo modo executores e promulga dores. Mas, no juízo com que Cristo homem julgará os homens, terá homens como assessores.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Aos homens é prometida a igualdade com os anjos, quanto ao prêmio essencial. Mas nada impede receberem os homens um prêmio acidental, que os anjos não terão. Tal a auréola das virgens e dos mártires. E o mesmo podemos dizer do poder judiciário.