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Art. 4 ─ Se depois do dia do juízo os demônios executarão contra os condenados a sentença do juiz.

O quarto discute-se assim. ─ Parece que depois do dia de juízo os demônios não executarão contra os condenados a sentença do juiz.

1. ─ Pois, segundo o Apóstolo, Cristo destruirá todo principado, poder e virtude. Logo, cessará toda superioridade (Glosa). Ora, executar a sentença do juiz implica uma certa superioridade. Logo, os demônios, depois do dia do juízo, não executarão a sentença do juiz.

2. Demais. ─ Assim como os demônios sugerem aos homens o mal, assim os anjos bons, o bem. Ora, premiar os bons não será ofício dos bons anjos, mas Deus diretamente o fará. Logo, também não será ofício dos demônios punir os maus.

Mas, em contrário, os pecadores, pecando, sujeitaram-se ao diabo. Logo, é justo que também lhe fiquem sujeito quanto às penas, como se fossem punidos por ele.

SOLUÇÃO. ─ O Mestre refere duas opiniões, nesta matéria, de acordo ambas com as exigências da justiça de Deus. Pois, pecando, o homem fica, com justiça, sujeito ao demônio, embora o domínio do demônio sobre o pecador seja injusto. Por onde, a opinião que não concede presidam os demônios no futuro, depois do dia de juízo, às penas dos homens, leva em conta a ordem da divina justiça, no concernente às penas de que os demônios fossem os executores. E a opinião contrária considera a ordem da divina justiça em relação aos homens punidos. Mas qual dessas duas opiniões seja a mais verdadeira, não podemos ter certeza. Penso contudo que mais verdadeiro é pensar o seguinte. Assim como os que se salvaram observarão a ordem de serem uns iluminados, e aperfeiçoados pelos outros, porque todas as ordens da hierarquia celeste serão perpétuas, assim também, na aplicação das penas, se observará a ordem de serem os homens punidos pelos demônios, a fim de não ficar totalmente anulada a disposição divina, pela qual os anjos foram constituídos como termo médio entre a natureza humana e a divina. Por onde, assim como as iluminações divinas são deferidas aos homens pelos anjos bons, assim também os demônios serão os executores da justiça divina sobre os maus. Nem isso lhes diminui em nada as penas, porque o mesmo torturar os outros, lhes servirá de tortura; pois, no inferno, a sociedade dos miseráveis, longe de diminuir a miséria, a aumentará.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Essa superioridade da qual o Apóstolo diz, que Cristo fará desaparecer no século futuro, deve ser considerada como sendo da mesma natureza das deste mundo. De acordo com a qual homens governam homens os anjos, aos homens; Os anjos, aos anjos; os demônios, aos demônios; e os demônios, aos homens. E isto tudo para conseguirem o fim ou dele se desviarem. Mas então, quando todos os seres tiverem atingido ao seu fim, nenhuma superioridade mais haverá que a ele conduza ou dele desvie; só haverá então a que conservará bons e maus nos seus fins.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora os demônios não mereçam ser postos acima dos homens, pelos ter sujeitado a si injustamente, contudo assim o exige a relação da natureza, deles com a humana. Pois, os bens naturais eles os conservam íntegros, como diz Dionísio.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Os anjos bons não são a causa principal de os eleitos serem premiados, porque os seus prêmios estes os recebem diretamente de Deus. Mas de certos prêmios acidentais dos homens podem os anjos ser a causa, enquanto os anjos superiores iluminam os inferiores e os homens sobre certos arcanos divinos, não pertencentes à substância da beatitude. Semelhantemente, a sua pena capital os condenados a receberão diretamente de Deus, i. é, a exclusão perpétua da visão beatífica; mas quanto a outras penas, as sensíveis, não há inconveniente em serem infligidas aos homens pelos demônios. ─ Há porém a seguinte diferença: ao passo que o mérito exulta, o pecado deprime. Por onde, sendo a natureza angélica mais elevada que a humana, certos homens de mérito excelente, serão exaltados a ponto de essa exaltação exceder à capacidade da natureza e do prêmio de certos anjos. Donde o serem estes anjos iluminados por tais homens. Mas nenhuns pecadores terão nunca um grau de malícia tal, que cheguem à eminência própria da natureza demoníaca.

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