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"Unidade na diversidade"

 Dom Lourenço Fleichman OSB

Um leitor nos envia interessante e-mail contendo citações tiradas do Movimento Neocatecumenal.1
 
"Não digam nada às pessoas de todas estas coisas: simplesmente revalorizem o valor comunitário do pecado, sua índole social, o poder da Igreja, etc." (Kiko, Apostilas cit., 9º Dia, p. 137).
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"O Cristianismo não é, de jeito nenhum, uma doutrina que se pode aprender com catecismos e teologias. O Cristianismo é uma Boa Notícia, um acontecimento histórico, o que o distingue de todas as filosofias e religiões" (Kiko, Apostila cit. p. 98).
 
Lembro-me, por exemplo, de um moço de Florença que, diante de todo o mundo, disse: 'Eu sou homossexual e bendigo a Deus com todo o meu coração porque sou assim. Ia ao psiquiatra, nunca a psicologia me salvou. Hoje, posso testemunhar, diante de todos vocês, que eu sou salvo pelo poder de Jesus Cristo"
 
"Dizia isso porque Deus o tinha feito sentir, com uma potência imensa, e ver, com uma clareza enorme, que Deus tinha permitido tal coisa em sua vida para que ficasse para sempre amarrado a Ele. Isso tinha-lhe feito sentir o Senhor até o ponto de ser capaz de dizer diante de todos que Deus, através disto, o tinha apanhado para si e sabia que nunca mais se separaria dele". (Kiko, Apostila cit. pp. 73-74).
 
"Existe, pois, uma grossa nuvem que nos tem impedido de receber a NOTÍCIA, o acontecimento que Deus fez para nós. Os termos teológicos são termos jurídicos  segundo a mentalidade da Idade Média. Agora já se cancelou o "JURISDICISMO". O Concílio Vaticano II  não fala mais em termos jurídicos, mas fala do MISTÉRIO PASCAL, o que é totalmente outra coisa, pois "pascal" refere-se diretamente à História, à intervenção histórica de Deus com o povo de Israel. Falar da Redenção é uma abstração, ao passo que falar do mistério pascal é história concreta' (Carmem, Apostila cit. O Querigma. 2a. parte, p. 123 III e 123 IV)
 
"O Concílio Vaticano II faz uma NOVA TEOLOGIA que nós trazemos. Não se fala mais de REDENÇÃO, mas de MISTÉRIO PASCAL: que é como uma nova primavera" (Carmem, Apostila, cit. p. 123 VI).
 
"É verdade que nós dançamos após a celebração, porque a Eucaristia é uma festa. E, se houver no chão migalhas, é possível que, sem querer, pisemos em cima delas. Mas é tomado todo o cuidado possível no sentido de evitar que caiam migalhas no chão."
 
"Jesus Cristo não é qualquer coisa de ideal que nós possamos realizar, não é um modelo." (Carmem, Apostila, cit, p. 123 VI)
 
"O Presidente [o sacerdote] seja breve. Digam-lhe que não faça sermões (...) que os padres não façam discursos às pessoas" (Kiko, Apostila citada, p. 158).
 
Não há eucaristia sem assembléia. É a assembléia inteira que celebra a festa e a eucaristia; porque a eucaristia é a exaltação da assembléia humana em comunhão; porque é o lugar exato no qual se manifesta que Deus agiu nesta Igreja criada, nesta comunhão. É desta assembléia que surge a eucaristia.
 
“Por isso quando na idade Média começa-se a discutir o sacrifício, no fundo discutem coisas que não existiam na eucaristia primitiva. Porque sacrifício na religião é "sacrum facere", fazer o sagrado, colocar-se em contato com a divindade através de sacrifícios cruentos. Neste sentido não há sacrifício na eucaristia: a Eucaristia é sacrifício, mas em outro sentido, porque na eucaristia há sim, a morte, mas há também a ressurreição da morte. A Eucaristia é Páscoa, passagem da morte à ressurreição. Por isso dizer que eucaristia é sacrifício é certo, mas é incompleto. A Eucaristia é sacrifício de louvor, um louvor completo de comunicação com Deus por.... Não é meu intuito analisar a que se propõe este movimento, definido como uma “ação” e não como uma “instituição”. O jornal SimSimNãoNão nº 68 de Set. 1998, pag. 4 já analisou mais profundamente estas heresias de um movimento que se instala em não poucas paróquias do mundo inteiro. Agora bem: o Vaticano acaba de aprovar seus estatutos tornando-o oficial dentro da vida da Igreja. Com toda a pompa, com a presença de Cardeais de cinco Congregações Romanas que trabalharam para esta aprovação. A informação é confirmada pela agência de notícias Zenit, em 28 de junho de 2002. A Igreja de Vaticano II continua favorecendo as heresias.
 
Mas não foi dito que Roma havia mudado? Que havia sinais evidentes de “conversão”? Que o Santo Padre estava empenhado em combater o Modernismo?
 
A verdade é bem outra, e não podemos esquecer que este novo escândalo vem juntar-se a tantos outros que, dia após dia, se foram consumando no pontificado de João Paulo II: acordo com os Luteranos, acordo com os cismáticos orientais, reuniões ecumênicas anuais contrariando as proibições da Santa Igreja e difundindo o indiferentismo religioso e a perda da fé.
 
Peço ao leitor um pouco de atenção, pois não quero tratar aqui de mais um escândalo, de mais um favorecimento de heresias por parte do Vaticano. Creio perceber nas atitudes dos detentores do Poder, tanto religioso quanto político, certas atitudes e métodos que precisamos conhecer para que nossa defesa seja mais séria, mais inteligente e eficaz.
 
Já passou o tempo em que os homens do poder escravizavam com as armas e gulags, perseguindo e destruindo os opositores do regime comunista.
 
Já se foi, igualmente, o tempo do início da revolução de Vaticano II, quando as reformas foram impostas sem piedade ao povo católico, mediante uma tremenda perseguição contra os defensores da Tradição. Hoje, com o recuo dos anos e com as novas experiências que vivemos, podemos compreender melhor o quanto os métodos empregados pelos chefes da Igreja, entrincheirados atrás da autoridade de um concílio ecumênico, se assemelhavam aos horrores do regime soviético. Talvez isso tenha que ver com a recusa formal dos padres conciliares a condenar solenemente o comunismo. Como publicou a Revista Permanência, em seu número 188-189, de julho de 1984, o Papa João XXIII selou um acordo com o Kremlin, em 1962, de não fazer críticas ao regime soviético, como condição para que o Patriarca cismático da Igreja Ortodoxa assistisse ao concílio, como observador.
 
Esta comparação que faço dos métodos empregados pelos chefes da Igreja com os métodos dos chefes comunistas deve ser entendida em sentido analógico. Não acuso aqueles homens de usar metralhadoras e campos de concentração, mas de usar uma força abusiva da autoridade para impor uma nova ordem dentro da Igreja, para impor uma nova religião, sem nenhuma possibilidade de recusa da parte dos padres tradicionais ou das famílias católicas. Toda a máquina da estrutura jurídica do Vaticano foi usada como um canhão destruidor, ameaçador, causando o terror na alma de milhões de católicos no mundo inteiro. O resultado desse massacre não demorou a se fazer sentir, quando virou moda dizer que Mgr. Lefebvre era “contra o Papa”, “bispo rebelde”, “cismático”. Mais do que isso, foi crescendo o número daqueles que queriam a Tradição, não gostavam da missa nova e das inovações do concílio, mas não tinham forças para reagir, para enfrentar o Regime. E muitas inteligências privilegiadas se recolheram a um mutismo enfraquecido, como um animal assustado que esquece sua força e corre procurando esconder-se. Muitas almas piedosas preferiram abandonar a Missa verdadeira, seu terço, sua fita do Apostolado, para bater palmas e tocar violão nas igrejas. E a fé foi desaparecendo. São os frutos diretos do concílio.
 
Mgr. Lefebvre era o alvo dos principais ataques vindos diretamente dos papas Paulo VI e João Paulo II, apesar de este último, no início do seu pontificado, ter afirmado que não via nele nenhum motivo de condenação. Mas os cardeais Seper, Villot, Casarolli e cia. não achavam isso.
 
O auge da perseguição aconteceu no momento das Sagrações, em 1988, quando um decreto de excomunhão, inválido e nulo, foi emitido pelo cardeal Gantin. A máquina vaticana mexeu suas peças no tabuleiro da mídia e, no mundo inteiro, os jornais fizeram troça do bispo de Ecône, insinuando histórias absurdas, ridicularizando o gesto de salvação da vida da Igreja. Grande estardalhaço na imprensa do mundo inteiro.
 
Roma mudou!
 
Ah, sim, com certeza, Roma mudou. No início, não compreendemos muito bem esta mudança. Constatamos algo diferente, sem saber explicar o porquê. Em 1991, quando da Sagração Episcopal de Dom Licínio Rangel, em São Fidélis, por três bispos da Fraternidade São Pio X, tanto da parte de Roma quanto da parte dos jornais do mundo inteiro não houve nada. Mas nada mesmo! Silêncio absoluto. Nem foto, nem charge, nem decreto de excomunhão. Estranho. Ao menos na época, parecia estranho.
 
Querem ver algo mais estranho? No ano seguinte, o império soviético desmoronou, do modo que sabemos. Também lá não haveria mais prisões, e mortes, e tanques destruindo a fina flor da sociedade da Rússia e demais países dominados.
 
Enquanto o mundo assistia a uma nova maneira de ser comunista, os homens do Vaticano iniciavam um novo tratamento aos recalcitrantes, os tradicionalistas. Não haveria mais excomunhão nem grandes oposições das dioceses. Roma levantara uma estrutura bem afiada para trazê-los de volta, culturalmente, sem choques. É a época da Comissão Ecclesia Dei, dos grandes convites para almoços, e de correspondência freqüente. Tentaram a isca suave do acordo prático. Não pegaram o peixe grande, mas os padres de Campos lhes serviram muito bem. Já voltaram ao ataque, agora com a isca do estudo teológico, mostrando que estão abertos a todas as tentativas, treinados que estão em tirar proveito até mesmo do recuo dos seus adversários.
 
A coisa é mais ou menos assim. Para que o muro de Berlim, se podemos controlar os homens pelo planeta inteiro? Vamos expandir as grades da prisão e cercar a terra com elas, com grades virtuais, no mundo da comunicação. Eles mesmos vão-nos informar onde estão e o que estão fazendo, livres para caminhar, para visitar os amigos, para ver televisão e ir ao cinema. Pois, ao chegar a casa, irão direto “interagir” pela Internet, ou beberão alguma dose suave do envenenamento universal num mundo globalizado.
 
Os homens da Igreja de Vaticano II, filhos deste século, adotam o mesmo método. Que os saudosos da Missa antiga tenham a liberdade de celebrar a Missa que querem: basta estabelecer uma situação em que eles queiram avisar onde estão, o que estão pensando. E nem perceberão que estão sendo manipulados. Basta que estejam presentes ao mundo do Vaticano II e ao espírito de Assis.
 
Não é apenas o aspecto de autocontrole o que marca a nova escravidão. Há também uma espécie de dinâmica das antíteses que, para eles, deve estar presente em todo o mundo da Informação, para que haja “democracia”.
 
Vocês não viram o que aconteceu com o jornal O Globo? Todo o mundo sabe que o Sr. Roberto Marinho fez um pacto com o PT. Saiu até na primeira página do jornal. De lá para cá, O Globo tornou-se a casa dos petistas de diversos matizes. Todos alegres, encontram-se em família. Ah! sim, havia o Roberto Campos, que escrevia o que uma pequena minoria antiquada ainda queria ouvir. É claro que o Roberto Campos era um homem respeitado. Mas não era por amores às suas idéias que ele escrevia no Globo do PT. Escrevia porque era preciso não deixar escapar os da “direita” que sempre leram aquele Globo onde tinham escrito Gudin, Corção, Nelson Rodrigues e outros “reacionários”, como diziam. Escrevia porque, dentro da Revolução Cultural, é importante que uma minoria possa exprimir as antíteses que alimentarão o “debate democrático” da manipulação das consciências.
 
Um dia, o Sr. Roberto Campos ficou doente e já não conseguia escrever. Grande problema para O Globo. Imagino com que cuidado foram buscar um substituto para Roberto Campos. Tão importante é a presença de um escritor “antítese”, que não se importaram em chamar um “excomungado” da mídia, escritor que chegara ao ponto de cometer o gravíssimo pecado de elogiar o Movimento de 1964. Pois foi assim que entregaram este lugar ao Sr. Olavo de Carvalho. Era necessário, mesmo trazendo artigos contra o PT.
 
Agora, também é assim na Igreja de Vaticano II. É importante para a “religião da democracia” que a minoria recalcitrante encontre seu lugar dentro da grande massa, dentro da humanidade feliz. Outros que celebrem a missa pop, ou a missa afro, ou a missa carismática. Desde que a minoria tradicionalista tenha seu cantinho reservado na grande confraternização universal e no culto “democrático” baseado no ecumenismo.
 
É por isso que não nos devemos espantar ao ver o Vaticano aprovar os estatutos do herético Movimento Neocatecumenal, seis meses apenas após ter aprovado os estatutos da tradicional Administração São João Maria Vianney. É a dinâmica democrática.
 
E não é que deram até um nome a esse sincretismo do Vaticano II?
 
Chamaram a essa festa de “Unidade na Diversidade”.

 

  1. 1. Notas: Citações das heresias do movimento Neo-catecumenal Francisco Arguelo -- Kiko -- Apostilas, Orientações às Equipes de Catequistas para a fase de Conversão, Anotações tiradas das gravações dos encontros realizados por Kiko e Carmem, para orientarem as equipes de catequistas de Madri, em Fevereiro de 1972.
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