O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo não podia comunicar aos ministros o poder que tem nos sacramentos.
1. — Pois, como argumenta Agostinho, se podia e não queria era invejoso. Ora, a inveja de nenhum modo existia em Cristo, que tinha a suma plenitude da caridade. Logo, não tendo Cristo comunicado o seu poder aos ministros parece que não podia comunicar.
2. Demais. — Aquilo de João - Fará coisas maiores que esta - diz Agostinho: Dizia que é certamente maior, isto é, de um ímpio fazer um justo, do que criar o céu e a terra. Ora, Cristo não podia comunicar aos ministros o criarem o céu e a terra. Logo, nem o justificarem o ímpio. Ora, a justificação do ímpio, fazendo-se pelo poder que Cristo tem nos sacramentos, parece que o seu poder, que tinha nos sacramentos, não no podia comunicar aos ministros.
3. Demais. — A Cristo, enquanto cabeça da Igreja competia derivar de si a graça para os outros, segundo aquilo do Evangelho: Da sua plenitude todos nós recebemos. Ora, isso não era comunicável a outrem, porque então a Igreja seria monstruosa, por ter muitas cabeças. Logo, parece que Cristo não podia comunicar o seu poder aos ministros.
Mas, em contrário, àquilo do Evangelho Eu não no conhecia - diz Agostinho: Não sabia que o poder mesmo do batismo o Senhor o teria e guardaria para si. Ora, isso não o havia de ignorar João, se tal poder não fosse comunicável. Logo, Cristo podia comunicar o seu poder aos ministros.
SOLUÇÃO. — Como dissemos, Cristo nos sacramentos tem um duplo poder. - Um, como autor, que lhe compete enquanto Deus. E esse a nenhuma criatura podia comunicar, como não podia comunicar a divina essência. - Mas tinha outro poder, o de excelência, que lhe cabia como homem, e esse podia comunicar aos ministros, dando-lhes tão grande plenitude de graça, que o mérito deles contribuísse para o efeito do sacramento; de modo que pela invocação do nome deles fossem santificados os sacramentos, que eles próprios pudessem instituir sacramentos e, sem o rito destes, conferissem pelo seu só império os efeitos sacramentais. Pois um instrumento conjunto, quanto mais forte for, tanto mais pode influir a sua virtude ao instrumento separado; como as mãos, ao bastão.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Não foi por inveja que Cristo deixou de comunicar aos ministros o poder da excelência da Igreja, mas para utilidade dos fiéis, a fim de que não pusessem no homem a sua esperança. E não houvesse diversos sacramentos donde nascesse a divisão na Igreja, como entre aqueles que diziam: Eu sou de Paulo e eu de Apolo e eu de Cefas, segundo refere o Apóstolo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A objeção procede, no atinente ao poder de autoria, que convém a Cristo enquanto Deus. Embora também o poder de excelência possa chamar-se autoria por comparação com os outros ministros. Por onde, àquilo do Apóstolo - Está dividido Cristo - diz a Glosa, que podia dar a autoridade de batizar aqueles a quem conferiu o ministério.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Para evitar o inconveniente de haver muitas cabeças na Igreja. Cristo não quis comunicar o poder da sua excelência aos ministros. Se, porém a tivesse comunicado, seria ele o chefe principal e os outros, secundários.