O quinto discute-se assim. — Parece que o sacramento não pode ser conferido por maus ministros.
1. — Pois, os sacramentos da lei nova se ordenam à purificação da culpa e à colação da graça. Ora, os maus, sendo imundos, não podem purificar os outros do pecado, segundo aquilo da Escritura: Que coisa será alimpada por um imundo? E, além disso, não tendo a graça, não na podem conferir, porque ninguém dá o que não tem. Logo, parece que os sacramentos não podem ser conferidos pelos maus.
2. Demais. — Toda a virtude dos sacramentos deriva de Cristo, como se disse. Ora, os maus estão separados de Cristo, por não terem a caridade, que une os membros à cabeça segundo aquilo da Escritura: Aquele que permanece na caridade permanece em Deus. Logo, parece que pelos maus os sacramentos não podem ser conferidos.
3. Demais. — Faltando alguma das condições necessárias para o sacramento, este não tem lugar; assim, se faltar a forma ou as matérias devidas. Ora, o ministro competente do sacramento é o que não tem a mácula do pecado, segundo aquilo da Escritura: O homem de qualquer das famílias da tua linhagem, que tiver deformidade não oferecerá pães ao seu Deus nem se chegará ao seu ministério. Logo, parece que, sendo o ministro mau, não se realiza o sacramento.
Mas, em contrário, àquilo do Evangelho sobre quem vires o Espírito - diz Agostinho: João não sabia que o próprio Senhor haveria de ter e reservar para si o poder de batizar, mas haveria de conferir completamente o ministério, tanto aos bons como aos maus. Que te importa o mau ministro, quando o Senhor é bom?
SOLUÇÃO. — Como dissemos os ministros da Igreja atuam nos sacramentos instrumentalmente, pois, de certo modo o ministro e o instrumento têm a mesma natureza. Porque, como dissemos o instrumento não age pela sua forma própria, mas por virtude de quem o move. Por isso o instrumento, como tal, pode acidentalmente ter qualquer forma ou virtude, além do que exige a sua natureza de instrumento. Assim, o corpo do médico, instrumento da alma possuidora da arte, pode ser são ou enfermo; o tubo, por onde passa a água, pode ser de prata ou de chumbo. Por onde, os ministros da Igreja podem conferir os sacramentos, mesmo sendo maus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. - Os ministros da Igreja nem purificam dos pecados os que se achegam aos sacramentos, nem têm o poder de conferir a graça; mas isso tudo o faz Cristo com o seu poder, mediante os ministros como uns instrumentos. Por onde, alcançam os efeitos dos sacramentos os que os recebem, não por serem esses efeitos semelhanças dos ministros, mas por serem configuração de Cristo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Pela caridade os membros de Cristo se unem com o chefe, de modo a receberem dele a vida; pois, como diz a Escritura: aquele que não ama permanece na morte. Mas, podemos obrar por meio de um instrumento sem vida e sem união corporal conosco, contanto que nos esteja unido por algum movimento; pois, de um modo obra o artista com as mãos e, de outro, com um machado. Assim, portanto, Cristo atua nos sacramentos: pelos bons, como por membros vivos; e pelos maus, como por instrumentos carecentes de vida.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Uma condição pode ser necessária a um sacramento, de dois modos. - Primeiro como sendo de necessidade para o sacramento. E então, faltando, não se perfaz o sacramento; talo caso de falhar a forma ou a matéria própria. - De outro modo uma condição é necessária ao sacramento por uma certa conveniência. E assim, é necessário que os ministros dos sacramentos sejam bons.