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Art. 3 — Se Cristo, enquanto homem tinha o poder de produzir o efeito interior dos sacramentos.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo, enquanto homem tinha o poder de produzir o efeito interior dos sacramentos.
 
1. — Pois, diz João Batista, como refere o evangelista: O que me mandou batizar em água me disse - Aquele sobre que tu vires descer o Espírito e repousar sobre ele, esse é o que batiza no Espírito Santo. Ora, batizar no Espírito San­to é conferir interiormente a graça do Espírito Santo. Ora, este desceu sobre Cristo enquanto homem e não enquanto Deus, porque enquanto Deus é que ele dá o Espírito Santo. Logo, pa­rece que Cristo, enquanto homem tinha o poder de causar o efeito interior dos sacramentos.
 
2. - Demais. — O Senhor diz no Evangelho: Sabei que o Filho do homem tem o poder sobre a terra de perdoar os pecados. Ora, o perdão dos pecados é o efeito interior dos sacramentos. Logo, parece que Cristo, enquanto homem, pro­duz o efeito interno dos sacramentos.
 
3. Demais. —- A instituição dos sacramentos pertence aquele que como agente principal, pro­duz o efeito interno deles. Ora, é manifesto que Cristo instituiu os sacramentos. Logo, ele é quem produz o efeito interno deles.
 
4. Demais. —- Ninguém pode, prescindindo do sacramento, conferir-lhe o efeito, salvo se produzir por virtude própria o efeito do mesmo. Ora, Cristo, sem sacramento, conferiu-lhe o efeito, como é claro pelo que disse a Madalena: Perdoados te são teus pecados. Logo, parece que Cristo, enquanto homem, produz o efeito inte­rior dos sacramentos.
 
5. Demais. — Aquele por virtude de quem o sacramento é produzido é o agente principal do efeito interior. Ora, os sacramentos tiram a sua virtude da paixão de Cristo e da invocação do seu nome, segundo aquilo do Apóstolo: Porven­tura Paulo foi crucificado por vós, ou haveis sido batiza dos em nome de Paulo? Logo, Cristo enquanto homem produz o efeito interno dos sacramentos.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: Nos sacramentos a virtude divina produz mais secreta­mente a salvação. Ora, a virtude divina é Cris­to, enquanto Deus e não enquanto homem. Logo, Cristo não produz o efeito interior dos sacramentos enquanto homem, mas enquanto Deus.
 
SOLUÇÃO. — Cristo produz o efeito interior dos sacramentos enquanto Deus e enquanto ho­mem, mas de modos diferentes. Pois, enquanto Deus age como autor dos sacramentos; e en­quanto homem produz os efeitos internos dos sacramentos meritória e eficientemente, mas instrumentalmente. Pois, como dissemos a paixão de Cristo, que sofreu enquanto revestido da natureza humana, é a causa da nossa justi­ficação e meritoriamente. E efetivamente, não a modo de agente principal, ou como antes, mas a modo de instrumento, enquanto a humanidade é o instrumento de sua divindade, como se disse.
 
Contudo, como é um instrumento unido à divindade na pessoa, tem uma certa principalidade e causalidade em relação aos instrumentos extrínsecos, que são os ministros da Igreja, como do sobre dito se colhe. Por onde, assim como Cristo, enquanto Deus tem nos sacramentos o poder de autor deles, assim também, enquanto homem, tem o poder de ministério principal ou poder de excelência. E este consiste em quatro coisas. - Primeiro, em que o mérito e a virtude da sua paixão opera nos sacramentos, como se disse. - Ora, a virtude da paixão se nos une pela fé, segundo aquilo do Apóstolo: Ao qual propôs Deus para ser vítima de propiciação pela fé no seu sangue, fé que manifestamos pela in­vocação do nome de Cristo. Por onde e em segundo lugar, do poder de excelência que Cristo tem nos sacramentos resulta que no seu nome os sacramentos são santificados. - E como pela sua instituição é que os sacramentos têm a sua virtude, dai vem, em terceiro lugar, que por causa da excelência do seu poder é que Cristo, que deu a virtude aos sacramentos, podia instituí-los. ­E não dependendo a causa do efeito, mas antes ao contrário, em quarto lugar, pela excelência do seu poder Cristo podia conferir o efeito dos sacramentos sem nenhum sacramento externo.
 
Donde se deduzem claras as respostas às objeções; pois uma e outra parte das objeções é verdadeira de certo modo, como se disse.

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