Segunda-feira após o domingo da Sexagésima
«O que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou,
como não nos dará também com ele todas as coisas?» (Rm 8, 32)
I. São Paulo, após ter feito menção dos numerosos filhos de Deus, dizendo: "recebestes o espírito de adoção de filhos" (Rm 8, 15), aparta de todos os demais este Filho, a quem chama "o seu próprio Filho", i. é, o Filho de Deus não por adoção, mas natural e coeterno, do qual Deus disse: "Este é o meu filho amado" (Mt 3, 17 ).
Quando são Paulo diz que Deus "não poupou nem o seu próprio Filho", deve-se entender que não o eximiu da pena, ainda que nele não houvesse culpa alguma a se perdoar. Deus não poupou seu Filho, e não o fez como se isso lhe acrescentasse algo, Ele que é perfeito em todas as coisas. Ao contrário, foi para o nosso exclusivo proveito que o submeteu a Paixão.
E a isso que sublinha o Apóstolo quando diz "mas por nós todos o entregou"; ou seja, Deus expôs seu próprio Filho à Paixão para que expiasse por nossos pecados, conforme aquilo de Isaías, "o Senhor carregou sobre ele a iniqüidade de todos nós" (Is 53, 6). Deus Pai o entregou à morte ao decretar sua Encarnação e sofrimento, ao inspirar à sua vontade humana o amor de caridade com que espontaneamente se livrou à Paixão.
II. Se o Filho foi entregue por nós, então tudo nos foi dado: "como não nos dará também com ele todas as coisas?". Tudo nos foi dado para o nosso bem: as coisas superiores, a saber, as pessoas divinas, para serem gozadas; as criaturas racionais para viver em nossa companhia; os seres inferiores para nos servir. Não somente as coisas favoráveis, mas também as provações, "Porque todas as coisas são vossas", diz o Apóstolo (1 Cor 3, 22-23), "mas vós sois de Cristo e Cristo é Deus". Assim se verifica aquilo do Salmo: "não há indigência para os que o temem" (Sl 33, 10).
In Rom., VIII
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae. Trad.: Permanência)