Segunda-feira após o domingo da Septuagésima
«Não nos cansemos, pois, de fazer o bem,
porque a seu tempo colheremos, não desfalecendo» (Gl 6,9)
Três coisas tiramos destas palavras:
I. O Apóstolo nos exorta a fazer o bem. De fato, é preciso fazer o bem, como tudo naturalmente ensina:
1. Pois todas as criaturas são boas: "E Deus viu todas as coisas que tinha feito, e eram muito boas" (Gn 1, 31). Isso basta para envergonhar os pecadores: a multidão das criaturas, que são todas boas e eles próprios, que são maus.
2. Pois todos naturalmente fazem o bem. Com efeito, toda criatura se dá a si mesma, e este é um indício da bondade delas mesmas e da Criação. Conforme o dizer de Dionísio: Deus é o bem difusivo de si. Agostinho: Este é um grande indício da bondade divina, que toda criatura é compelida a dar-se a si própria.
3. Pois todos naturalmente apetecem o bem e a ele tendem. O bem é aquilo que é por todos desejado.
II. O Apóstolo nos exorta a não nos cansarmos na prática do bem. Ora, são três as coisas que mais fazem o homem perseverar na prática do bem:
1. A oração assídua e devota, pela qual o homem implora a Deus auxílio para não cair em tentação. "Vigiai e orai para que não entreis em tentação" (Mt 26, 41);
2. O temor contínuo. De fato, quando o homem abandona o temor, imediatamente esmorece na prática do bem. "Se te não mantiveres firmemente no temor do Senhor, depressa a tua casa será arruinada" (Ecle 27, 4). O temor de Deus é a defesa da vida;
3. Evitar os pecados veniais, que levam aos mortais e freqüentemente minam o edifício das boas obras. Diz Agostinho: "Evitaste os pecados grandes, cuida para que um grão de areia não te destruas". E o Eclesiástico: "Aquele que despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá" (Ecle 19, 1)
III. O Apóstolo assinala que o prêmio é apropriado, abundante e eterno, ao dizer, "Porque a seu tempo colheremos, não desfalecendo".
Assinala o prêmio como apropriado com as palavras "a seu tempo", ou seja, no tempo côngruo ou conveniente, i. é., no dia do juízo no qual cada um receberá pelo seus atos: assim como um agricultor não colhe imediatamente o que semeou, senão no tempo certo. "Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, tendo paciência até que receba o fruto temporão e o serôdio" (Tg 5, 7)
Assinala-o como abundante quando diz "colheremos", pois da colheita é característica a abundância. "Aquele que semeia em abundância, também segará em abundância" (II Cor 9, 6) e "Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus" (Mt 5, 12).
A sua eternidade é assinalada com as palavras: "colheremos, não desfalecendo". Devemos fazer o bem não apenas por algum tempo, mas sempre. "Não nos cansemos, pois, de fazer o bem", pois não desfaleceremos na colheita. "Faze com presteza tudo quanto pode fazer a tua mão" (Ecl 9, 10). E não há mérito desfalecer, pois esperamos a recompensa eterna e imorredoura. Por onde diz Agostinho: "Se o homem não limitar a obra, também Deus não limitará a recompensa"
In Galat., 6, 9
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)