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22 de janeiro: Humildade e obediência de Cristo

22 de janeiro
     
« Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte » (Fp 2, 8)
     
I. — Como prova de sua humildade, Cristo quis sofrer a morte de cruz. Realmente, a humildade não cabe a Deus, pois a virtude da humildade consiste em manter-se o homem abaixo dos seus limites, não se elevando acima de si, mas submetendo-se ao superior. Assim sendo, evidentemente a humildade não pode convir a Deus, pois Deus não tem superior, sendo superior a todas as coisas. Ora, se alguém se submete por humildade a um simplesmente igual ou inferior a si, isso acontece porque o julga sob algum aspecto superior a si.

Por conseguinte, embora não pertença a Cristo a virtude da humildade, segundo a natureza divina, no entanto, segundo a natureza humana, ela lhe compete. E a sua humildade torna-se ainda mais louvável por causa da divindade, pois a dignidade da pessoa aumenta o louvor da sua humildade, como, por exemplo, quando é necessário a alguém muito importante suportar coisas insignificantes devido a alguma necessidade. Ora, não há maior dignidade para um homem do que ser Deus.  
   
Por isso, manifesta-se louvável ao extremo a humildade do homem-Deus, quando suportou as ignomínias recebidas, visando à salvação dos homens. Ora, por causa da soberba os homens haviam-se tornado amantes da glória mundana. Por conseguinte, para que se transportassem os espíritos dos homens do amor da glória mundana para o amor da glória divina, quis Cristo suportar, não uma morte qualquer, mas uma morte muito abjeta. Com efeito, há os que embora não temam a morte, têm horror de uma morte abjeta. E foi para desprezar também a esta que o Senhor animou os homens com a sua morte.
   
Embora os homens viessem a conhecer a humildade instruídos pelas palavras divinas, contudo, os atos provocam mais para a ação do que as palavras, e tanto mais eficazmente quanto é mais certa a idéia a respeito da bondade daquilo que se vai fazer.
    
Por isso, embora houvesse muitos exemplos de humildade praticada pelos outros homens, contudo, foi ao máximo conveniente que eles fossem provocados para ela pelo exemplo do homem-Deus, pois sabe-se que ele não podia errar e, além disso, tanto mais é louvável a humildade de uma pessoa, quanto mais é ela elevada em majestade.    
   
II. —  O Filho de Deus encarnado suportou a a morte obedecendo um preceito do Pai, segundo ensina o Apóstolo (Fl II, 8). Ora, o preceito de Deus dado aos homens tem por objetivo as obras de virtude, e quanto mais perfeitamente alguém realiza atos de virtude, tanto mais obedece a Deus.
   
A caridade é a mais importante das virtudes e para ela toda as outras se dirigem. Por isso, Cristo obedeceu a Deus ao extremo, praticando assim perfeitíssima caridade. Ora, nenhum ato de caridade é mais perfeito do que suportar também a morte por amor do outro, segundo afirmou o próprio Senhor: Não há maior caridade do que dar a vida pelo amigo (Jo XV, 13). Por conseguinte, Cristo foi ao máximo obediente a Deus e realizou o perfeito ato de caridade, suportando a morte para a salvação dos homens e para a glória de Deus Pai.
     
(Contr., 4, 55)
  
 (P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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