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Sobre os "pedidos de perdão"

Agosto 22, 2010 escrito por drupal_migrador

Carta recebida

"Eu, ao menos, estou perplexo diante da última invenção do Papa: pedir perdão a todos pelos "crimes" cometidos pela Igreja no decurso de toda a sua longa história até a virada radical representada pelo Vaticano II: desculpas aos muçulmanos pelas cruzadas; aos judeus pelo "anti semitismo"; aos hereges pela Santa Inquisição, aos protestantes pelas incompreensões,aos franceses pelo apoio dado ao governo de Vichy, aos espanhóis pelo sustentáculo oferecido a Franco, (um e outro, Pétain e Franco — eram valentes defensores da Igreja católica contra o comunismo ateu e inimigo do homem), etc. ... E tudo isto sem ter havido, na parte oposta, nenhuma vontade de reconhecer, por seu lado, os seus delitos. Não vos parece que esta atitude que raia pelo masoquismo ou pela sede de martírio que os Padres da Igreja condenaram sabiamente, seja extremamente perigosa por servir de aval à idéia de que a Igreja de Cristo foi, durante 2000 anos, o Império do Mal, o reino de Satanás, tendo-se assim manchado de faltas tão horríveis?
 
Sinceramente, que pensais a respeito?

(...)
 
Carta assinada
 
Nossa Resposta:
 
Caro amigo,
 
"O senhor encontrará a resposta à sua pergunta em vários artigos de Si Si, No No sobre o tema limitamo-nos aqui a fazer acompanhar o protesto de seu "sensus fidei" com um outro grito de indignação dolorosa que nos chega de França na carta enviada por um católico a seu bispo, por ocasião dum "ato de arrependimento" pelo silêncio da Igreja durante a guerra, efetuado publicamente pelo Episcopado francês:
 
"Excelência, Que vergonha! que tristeza! Eis que vós e vossos colegas no Episcopado não hesitais em bater no peito de vossos predecessores que estão mortos e não se podem defender e, através deles, no peito da Santa Madre Igreja. Sendo Ela a visada, é a Ela que traís. Eu não sei o que vos impele a vomitar: se a ignorância crassa, a covardia das mais desprezíveis ou a hipocrisia. Mas vede que eu sou uma testemunha ainda viva desta época terrível e o filho de um pai de cujo combate heróico ainda me lembro.
 
Uma vez que o ignorais, eu vos descobrirei somente o que precedeu o desastre de 1940, quando a França se encontrou sozinha diante da terrível Wehrmacht (Forças Armadas), enquanto que os vermelhos pactuavam com os nazistas.
Apesar disso, ninguém pode negar que foi a França a única a praticar o direito de asilo, enquanto que os americanos, os ingleses, os suíços o rejeitavam.
 
No que toca aos judeus, eis as cifras: 400.000 judeus da África do Norte escaparam do genocídio graças ao marechal Pétain. Na França, devido sobretudo à zona livre, dentre 330.000 judeus, 14 % destes franceses, e 30, 6% estrangeiros (independentes do Estado Francês) morreram na deportação.
 
Quanto aos judeus europeus (Alemanha, Áustria, Holanda, Polônia...), a cifra das perdas, ao contrário, é de 93,8 %. É preciso acrescentar que os judeus franceses, prisioneiros de guerra, jamais foram tocados, que nenhum deles trouxe a estrela amarela na zona livre, mesmo depois de ela ter sido ocupada. Nossos bispos falaram, mas sobretudo agiram; não havia nesta época uma casa paroquial ou um mosteiro onde os judeus não se pudessem refugiar. Pio XII tinha dado ordem de fazer certificados falsos de batismo para quem os pedisse.
 
A propósito particularmente deste silêncio em que vós vos ocultais muito desembaraçadamente, no calor de vossas pantufas (como outros ao abrigo de seus microfones), deve-se dizer que Pio XII falou, e todas as vezes que o fazia, crescia o furor da Gestapo e aumentavam as prisões, de sorte que os bispos dos países ocupados pelos alemães suplicaram-lhe que se calasse. Em Roma, Pio XII, após ter-se oferecido como refém, fez tanto pelos judeus que as mais altas autoridades judaicas foram agradecer-lhe e o rabino de Roma se converteu em contato com ele. Mesmo o Cardeal Decourtray, que fizera uma declaração em sentido contrário, reconheceu o seu erro numa troca de cartas, não publicada, mas que existe.
 
Pelo contrário, eu ouço ainda o vosso silêncio quando os aliados abandonaram Vlassov e seus soldados (1945), e De Gaulle, os nossos fiéis 'makis' ao FLN (1962), a uma morte atroz. Recordo-me do vosso silêncio, que dura ainda, diante do crime do aborto (5 milhões de crianças em 20 anos), durante a excomunhão dos "pieds-noirs"  e ainda hoje, perante as injúrias do Talmude judaico, que trata a Virgem Maria de mulher à-toa e Jesus, de bastardo. E já que estamos nos pedidos de perdão, eu espero da República francesa, laica e maçônica, reparação pela expulsão das Ordens Religiosas, pelas mortandades do Terror, e colunas infernais na Vendéia. Já me ia esquecer do espantoso silêncio do Concílio Vaticano II sobre o comunismo, os seus "gulags" e seus milhões de vítimas (principalmente cristãs).
 
Na França, em 1945, enquanto se matava e fuzilava às cegas, somente o Pe. Panici, pregador de Notre-Dame, ousou falar de "regime de matadouro". Mesmo então os nossos bispos se calaram. Mas o passado de meu pai, membro da primeira resistência da França livre a partir de junho de 40, autoriza-me a falar. Porque vivemos num anti-catolicismo de Estado.
 
Se esta breve exposição não fosse suficiente, eu vos comunicaria os testemunhos de Annie Kriegel e de François-Georges Dreyfus.
 
Na minha indignação temperada de cristianismo, a única conclusão que posso dar à minha carta é a palavra de Santa Joana d'Arc: Senhor Bispo, vossa alma está em grande perigo!"
 
as.: Henri Eschbach
 
("Sim, Sim; Não, Não" - agosto/98  - pp. 07/08)

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