Reconhecimento dos judeus no passado:
"No governo de Napoleão, em 1806, foi convocada uma assembléia dos judeus do Império da França e do Reino da Itália. Tratava-se duma Assembléia dos Notáveis, pessoas importantes e respeitadas, representantes oficiais e autorizadas das comunidades judaicas dos diferentes países. Durante os trabalhos, um dos membros, M. Avigdor, a 30 de maio de 1806, fez um discurso, aprovado por toda a assembléia, no qual ele agradecia calorosamente ao Papa e ao Clero católico pela proteção dispensada aos judeus no decurso dos séculos, tendo-os acolhido nos Estados da Igreja quando tinham sido expulsos dos outros Estados e por ter contribuído, em vista disso, para proteger a sua identidade nacional. Esta comunicação se encontra no livro do sacerdote francês de origem judaica, Joseph Lémann, datado dos fins do século XIX, com o título de "Napoleão e os judeus", e reeditado pela Casa Avalon. Limitamo-nos a citar alguns trechos significativos dele, expostos cronologicamente, em particular:
— a proteção dada ao culto judaico no século VII pelo Papa S. Gregório Magno (Denz. 250 — nota da redação);
— a proteção dispensada aos judeus pelos bispos da Espanha, que, no século X, os defenderam contra o povo que os queria chacinar, proteção aprovada pelo papa então reinante;
— os bispos das dioceses de Uzes e de Clermont, no século XI, que também os protegeram;
— a sua defesa por São Bernardo, no século XII, contra os excessos de zelo dos cruzados;
— a sua defesa por Gregório IX, no século XIII que, na França e Inglaterra, proibiu as conversões forçadas e a abolição de seu culto;
— Clemente V que facilitou a sua instrução;
— Clemente VI que lhes proporcionou abrigo em Avinhão, [onde se desenvolveu e se manteve uma comunidade judaica florescente — Nota da Redação];
— Nicolau II que escreveu à Inquisição para proibi-la de forçar os judeus a abraçar o cristianismo.
E a lista poderia continuar."
Reconhecimento dos judeus após o genocídio hitleriano:
"Sobre o genocídio dos judeus perpetrado por Hitler, limitar-nos-emos a relembrar alguns fatos conhecidos de todos antes que uma campanha mentirosa de opinião pública contra a memória de Pio XII, nos meios protestantes e comunistas, não os faça cair no esquecimento. Esta campanha, posteriormente, se estendeu sempre mais e foi substituída por uma representação completamente deformada da realidade.
Eis os fato: personalidades judias eminentes — inclusive a Sra. Golda Meir, no dia da morte de Pio XII — quiseram agradecer publicamente ao Papa, Pio XII, pela obra vasta e ramificada da Igreja Católica em favor dos judeus durante a perseguição nazista.
É um fato verificado que centenas de milhares de judeus devem a sua salvação à ajuda da Igreja (segundo o judeu E. Lapide Pinchas, entre 700.000 e 850.000 — cit. no livro de M. Mattioli "Gli Ebrei e la Chiesa" — 1933 1945, [Os judeus e a Igreja], Mursia ed. Milão, 1997, p. 106). Os judeus puderam esconder-se em todos os edifícios possíveis e imagináveis da Igreja, em certos casos mesmo nos conventos de clausura (isto aconteceu por ex. em Assis, para uma família inteira de judeus holandeses. cf. "Os Judeus e a Itália durante a guerra 1940-1945", compilação de entrevistas de Judeus que sobreviveram, por N. Caracciolo, com prefácio de A. De Felice, e um ensaio de M. Toscano, Roma, Bonacci, 1986, pp. 204-205.
A intervenção da Igreja conseguiu, em certos casos, impedir a deportação de algumas comunidades, como para 55.000 judeus romenos, concentrados na Transmítria [região da Moldávia e da Armênia — Nota da Redação]. O livro de M Mattioli (cit. pp. 105-109) é rico de testemunhos neste sentido. Entre eles, além do de Golda Meir (cit.), o testemunho seguinte: "A 29 de novembro de 1945, cerca de 80 delegados, representando judeus salvos dos campos de concentração alemães, foram recebidos em audiência pelo papa, para lhe agradecer por tudo o que ele tinha feito. Como se pode ler no pedido de audiência, eles solicitam a honra suprema de poder agradecer pessoalmente ao Santo Padre pela generosidade que ele mostrou para com eles, quando perseguidos durante o período fascista e nazista" (op. cit., p. 107).
Tais agradecimentos comoventes repetiram-se. Posteriormente o grande rabino de Bucareste, Dr. A Safran para com o Núncio Apostólico em 1943 e 1944, o qual declarou numa entrevista a um jornal romeno, após a retirada dos alemães. "... a grande autoridade moral do Sr. Núncio nos salvou. Com a ajuda de Deus ele conseguiu que não houvesse mais deportações .. Dedicou-se ativamente ao repatriamento de todos os judeus da Transmítria, mas se ocupou particularmente com os órfãos, como um pai amoroso." (op. Cit. 107-108).
E, enfim, a carta do grande rabino de Jerusalém, Herzog, ao Núncio Apostólico de Ancara, A. Ronncalli (o futuro papa) de 28 de fevereiro de 1944: "O povo de Israel jamais esquecerá os socorros trazidos a seus eminentes Delegados num dos momentos mais tristes de nossa história" (op. cit. 108, os itálicos são nossos).
Devemos crer que hoje, em 1997, Israel se esqueceu disto? que não se quer mais reconhecer nos sentimentos de gratidão expressos em nome dum povo inteiro pelos seus chefes religiosos e políticos e, então, testemunhas diretas e bem informadas de acontecimentos trágicos? Não o cremos. Parece-nos antes que alguns setores do judaísmo, os que o intelectual leigo Sérgio Romano — num ensaio recente, inclui com preocupação na expressão "judaísmo intransigente " (S. Romano — Lettera ad un amico ebreo = Carta a um amigo hebreu, Longanez, 1997) — que alguns setores do judaísmo, repetimos, estão a ponto de tentar (por motivos inteiramente incompreensíveis), hoje em dia, no Ocidente, fazer crer na existência duma "questão judia" (existente apenas na sua imaginação) à força de repisar continuamente o passado doloroso num registro grandemente polêmico."
("Sim Sim, Não Não" - agosto/98 - pg. 03-04)