Talvez espere o leitor encontrar aqui uma descrição da “Barbaria de Berlim”, tal como se manifestou, através de Hitler e do nazismo. Encontrará muito mais. Pois não é de Hitler que se ocupa Chesterton, nem o poderia ser: à ultima guerra, já não esteve presente o grande comentador de idéias e interprete de fatos que dignificou a literatura inglesa, em tantas obras, de aspectos tão variados. Este livro, escrito há perto de trinta anos, também não alude ou não alude apenas, à “barbaria de Berlim” da qual se fizeram encarnação o Kaiser e seu apetite de devorar a Europa e o mundo. A “barbaria de Berlim”, objeto deste ensaio, é fenômeno por assim dizer, permanente. Se Chesterton o viuencarnado em Guilherme II, não deixa de convidar “os que se interessam pela origem dos problemas humanos” a reportar-se a um velho escritor da época vitoriana (Macaulay), que consagrou o útlimo e mais compacto de seus ensaios históricos a Frederico-o-Grande, fundador dessa política prussiana que desde então não mudou”.
Eis o grande interesse deste livro e de sua apresentação agora em português: as conclusões que chegou Chesterton, pelo que pôde presenciar nos anos de 1914-1918, facilmente serão confirmadas pelo leitor de 1946, que viveu a experiência da segunda grande guerra. Quando formos levados a dizer sim a tudo o que afirma Chesterton sobre as “principais linhas do caráter prussiano”, então compreenderemos melhor alguns fatos de que tivemos notícia, e mais profundamente entraremos no significado de muitas contradições de idéias e de atitudes a que até hoje assistimos.
Aliás, a guerra ainda não terminou, a guerra contra a “barbaria de Berlim”. Enquanto não se firmarem os fundamentos da paz, a guerra estará em curso.
Muitas vezes ainda, seremos convidados a tomar posição ideológica ou moral, perante os acontecimentos. Ajudar-nos-á muito este livro de Chesterton.
Do que se afirma, hoje, por exemplo, a favor e contra as relações entre a Rússia e as democracias ocidentais encontrará o leitor preciosas informações no capítulo sobre “a guerra pela palavra”
De que modo deve ser tratada a Alemanha de após-guerra? — Pergunta-se com freqüência. Lendo-se os capítulos sobre a “recusa da reciprocidade” e o “apetite da tirania”, muita coisa se aprenderá a respeito.
E de quanto se deverão esforçar as nações civilizadas pela reeducação do prussiano (nem todo alemão é da Prússia), dir-nos-á suficientemente o quarto ensaio sobre a “evasão da loucura”.
Além do mais, é um livro de Chesterton. Isto é bastante para interessar o leitor. E quem o traduziu foi um discípulo do grande escritor inglês: Gustavo Corção, menos um herdeiro das idéias e do estilo de Chesterton, do que um igual a ele pelo temperamente e o gosto literário.