(I Ethic., lect. XX).
O quinto discute-se assim. ― Parece que o ato da vontade não é ordenado.
1. ― Pois, como diz Agostinho, a alma ordena a si mesma o querer, mas não a faz querer. Ora, querer é ato da vontade. Logo, este não é ordenado.
2. Demais. ― Ordenar convém a quem compreende a ordem. Ora, à vontade não compete compreendê-la, pois a vontade difere do intelecto, que compreende. Logo, o ato da vontade não é ordenado.
3. Demais. ― Se um ato da vontade é ordenado, pela mesma razão todos hão de sê-lo. Ora, se todos o forem, há-se de proceder ao infinito necessariamente; porque o ato da vontade precede o da razão que ordena, como já se disse; e se esse ato da vontade for, por sua vez, ordenado, a ordem, que lhe corresponde, há de preceder outro ato da razão e assim ao infinito. Ora, é impossível esse processo ao infinito. Logo, o ato da vontade não é imperado.
Mas, em contrário. ― Tudo o que está em nosso poder está sujeito à nossa ordem. Ora, os atos da vontade por excelência caem sob nosso poder, pois todos os nossos atos se consideram como estando em nosso poder, enquanto voluntários. Logo, os atos da vontade são ordenados por nós.
Solução. ― Como já se disse, a ordem não é senão o ato da razão que manda, com certa moção, que alguma coisa seja feita. Ora, é manifesto que a razão pode ordenar o ato da vontade. Pois, assim como pode julgar que é bom querer uma coisa, assim pode ordenar, mandando-nos querer. Por onde é claro que o ato da vontade pode ser ordenado.
Donde a resposta à primeira objeção. — Como Agostinho diz no mesmo passo, a alma já quer quando a si mesma se ordena, perfeitamente, que queira. E só por ordenar imperfeitamente é que às vezes ordena e não quer. Ora, a ordem imperfeita vem de que a razão é movida, por motivos diversos, a ordenar ou não, e por isso flutua entre esses dois termos e não ordena perfeitamente.
Resposta à segunda. ― Assim como cada um dos membros corpóreos age não só para si, mas para todo o corpo ― p.ex., os olhos vêm para todo ele, — o mesmo se dá com as potências da alma. Pois, o intelecto intelige, não só para si, mas para todas as potências; e para todas, e não só para si, a vontade quer. Portanto, o homem ordena-se a si mesmo o ato da vontade, por ser susceptível de compreender e querer.
Resposta à terceira. ― Sendo a ordem um ato da razão, ordenado é o ato que a ela está sujeito. Ora, o ato primeiro da vontade não procede de ordem da razão, mas do instinto da natureza, ou de uma coisa superior, como se disse antes. E portanto não é necessário proceder ao infinito.