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Art. 4 ― Se o ato ordenado e a ordem são um mesmo ato.

(III, q. 19, a . 2; De Unione Verbi, a . 5).
 
O quarto discute-se assim. ― Parece que o ato ordenado e a ordem não são um mesmo ato.
 
1. ― Pois, de potências diversas são diversos os atos. Ora, o ato ordenado procede de uma potência e a ordem, de outra; pois, uma é a potência que ordena e outra, a ordenada. Logo, ato ordenado e ordem não são um mesmo ato.
 
2. Demais. ― Coisas separáveis uma da outra são diversas, pois nada se separa de si mesmo. Ora, às vezes o ato ordenado se separa da ordem; e é quando esta precede sem ser seguida daquele. Logo, ordem e ato ordenado diferem.
 
3. Demais. ― Onde há prioridade de uma coisa sobre outra há diversidade. Ora, a ordem naturalmente precede o ato ordenado. Logo, este difere daquela.
 
Mas, em contrário, diz o Filósofo, que quando uma coisa é para outra, só uma existe1. Ora, o ato ordenado não é senão para a ordem. Logo, ambos constituem um só ato.
 
Solução. ― Nada impede que coisas múltiplas, a uma luz, sejam uma só, a outra. Antes, tudo o que é múltiplo se unifica, num certo ponto de vista, como diz Dionísio2. Há-se entretanto de levar em conta a diferença seguinte: certas coisas que são múltiplas, absolutamente, relativamente, constituem uma só; com outras porém, o contrário se dá. Ora, a unidade é predicada do mesmo modo que o ser; e este, absolutamente, é substância e, relativamente, acidente ou ser de razão. Por onde, tudo o que é um, substancialmente, é um, absolutamente, e múltiplo, relativamente. Assim, o todo, no gênero da substância, composto das suas partes integrais ou essenciais, é um, absolutamente, porque é ente e substância, absolutamente; ao passo que as partes são entes e substâncias, no todo. Porém seres, que tem diversidade substancial e unidade acidental, são diversos, absolutamente, e um mesmo ser acidental; assim, muitos homens formam um povo e muitas pedras, um acervo, que é unidade de composição ou de ordem. Do mesmo modo muitos indivíduos com unidade genérica ou específica são múltiplos, absolutamente, e um, relativamente; pois, ser um, genérica ou especificamente, é ser racionalmente uno.
 
Ora, assim como no gênero dos seres naturais, o todo é composto de matéria e forma ― por ex., o homem, de corpo e alma, o qual é um, naturalmente, embora tenha multidão de partes ― assim também nos atos humanos, o ato de uma potência inferior se comporta materialmente em relação ao da potência superior, enquanto que aquela age por virtude da superior, que a move; e do mesmo modo o ato do primeiro motor se comporta como forma em relação ao ato do instrumento. Por onde é claro que a ordem e o ato ordenado constituem um só e mesmo ato, do mesmo modo que o todo é uno, embora múltiplo pelas suas partes.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Se as potências diversas não fossem subordinadas entre si, os atos deles seriam diversos, absolutamente. Mas, quando uma potência move a outra, os seu atos constituem, de certo modo, um só, pois um só ato é o do motor e do móvel, como diz o Filósofo3.
 
Resposta à segunda. ― De poder a ordem ser separada do ato ordenado, resulta que são múltiplos, quanto às partes; assim as partes do homem podem ser separadas umas das outras, embora constituam uma unidade total.
 
Resposta à terceira. ― Nada impede que nos seres múltiplos, pelas partes, mas unificados, pelo todo, um tenha prioridade sobre outro; assim, a alma tem de certo modo prioridade sobre o corpo e o coração, sobre os outros membros.

  1. 1. III Top., cap. II.
  2. 2. Cap. XIII De div. nom., lect. II.
  3. 3. III Phys., lect. IV.
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