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Art. 4 ― Se a eleição só existe em relação aos atos humanos.

O quarto discute-se assim. ― Parece que a eleição não existe só em relação aos atos humanos.
 
1. ― Pois, a eleição tem por objeto os meios. Ora, estes não somente são atos, mas também órgãos, como diz o Filósofo1. Logo, as eleições não recaem só sobre os atos humanos.
 
2. Demais. ― A ação se distingue da contemplação. Ora, mesmo nesta tem lugar a eleição, p. ex., quando se prefere uma opinião a outra. Logo, a eleição existe não só em relação aos atos humanos.
 
3. Demais. ― Há homens eleitos para certos ofícios seculares ou eclesiásticos, por outros que nenhuma ação tem sobre eles. Logo, a eleição não existe só em relação aos atos humanos.
 
Mas, em contrário, diz o Filósofo: ninguém escolhe senão o que julga poder fazer por si mesmo2.
 
Solução. ― Como o objeto da intenção é o fim, são os meios o da eleição. Ora, o fim é uma ação ou uma realidade qualquer. E quando esta for o fim, necessário é que intervenha alguma ação humana; quer porque o homem faz essa realidade, que é o fim, como quando o médico produz a saúde, que é o seu fim e, por isso, se diz que produzir a saúde é o fim do médico; quer porque o homem, de algum modo, goza ou frui da realidade, que é o fim, sendo assim o dinheiro ou a sua posse o fim do avarento. E o mesmo se deve dizer do meio. Pois necessário é que este seja uma ação ou alguma realidade em que intervém alguma ação, pela qual o homem produz o meio ou dele usa. E deste modo, a eleição sempre diz respeito aos atos humanos.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Os órgãos se ordenam ao fim na medida em que o homem usa deles em vista do fim.
 
Resposta à segunda. ― Na própria contemplação há algum ato do intelecto, que assente a uma ou outra opinião. Ao passo que a ação exterior é a que se opõe à contemplação.
 
Resposta à terceira. ― Quem elege o bispo ou um chefe do estado escolhe nomeá-lo para tal dignidade. Do contrário, se nenhum ato seu houvesse para constituir o bispo ou o chefe, não lhe competiria a eleição. E semelhantemente, devemos dizer que sempre uma coisa preferida a outra implica alguma operação de quem a escolhe.

  1. 1. II Physic., lect. V.
  2. 2. III Ethic., lect. V.
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