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Art. 5 ― Se há eleição só do possível.

(III Ethic., lect. V).
 
O quinto discute-se assim. ― Parece que a eleição não é só do possível.
 
1. ― Pois, a eleição é ato da vontade, como já se disse1. Ora, há vontade do impossível como diz Aristóteles2. Logo, também eleição.
 
2. Demais. ― A eleição recai sobre o feito por nós, como se disse3. Nada pois importa, quanto à eleição, que seja escolhido o impossível absoluto ou o impossível para quem escolhe. Ora, como freqüentemente não podemos realizar o que escolhemos, isso nos é impossível. Logo, há eleição de impossíveis.
 
3. Demais. ― O homem não tenta fazer nada senão escolhendo. Ora, S. Bento diz que se um prelado mandar algo de impossível, é preciso tentar fazê-lo. Logo, pode haver eleição de impossíveis.
 
Mas, em contrário, diz o Filósofo: não há eleição de impossíveis4.
 
Solução. ― Como já se disse5, as nossas eleições referem-se sempre às nossas ações. Ora, o que fazemos nos é possível. Logo, necessário é dizer-se que a eleição não recai senão sobre os possíveis.
 
Semelhantemente, a razão de se escolher um meio é ele nos conduzir ao fim. Ora pelo impossível ninguém pode conseguir um fim. E a prova está em que quando, deliberando, os homens chegam ao que lhes é impossível, recuam, quase não querendo passar além.
 
E isto também resulta claramente do modo de proceder da razão precedente à escolha. Pois, o meio que a eleição visa está para o fim como a conclusão para o princípio. Ora, é manifesto que uma conclusão impossível não resulta de um princípio possível. Por onde, não pode ser possível o fim sem que o meio também o seja. E ao impossível ninguém é movido. Logo, ninguém tenderia para o fim se não visse que o meio é possível. E portanto, o impossível não constitui objeto de eleição.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — A vontade é média entre o intelecto e a operação exterior; pois o intelecto propõe à vontade o seu objeto e esta é a que causa a ação exterior. Assim, portanto, o princípio do movimento da vontade é considerada em relação ao intelecto que apreende algo como bem universal; ao passo que o termo ou perfeição do ato da vontade é considerado relativamente à ordem da operação pela qual tendemos à consecução da coisa; pois o movimento da vontade procede da alma para as coisas. E portanto, a perfeição do ato da vontade está em que há para alguém algum bem a ser realizado. Ora, isto é possível, e portanto só é completa a vontade do possível, que é o bem para quem o quer. Incompleta é porém a vontade do impossível chamada por alguns veleidades, porque o quereríamos se fosse possível. Ora, a eleição designa um ato da vontade já determinado aquilo que alguém deve fazer; logo, de qualquer modo, só recai sobre os possíveis.
 
Resposta à segunda. Sendo o objeto da vontade o bem apreendido, devemos julgar desse objeto na medida em que se compreende na apreensão. E portanto, assim como às vezes há vontade de algo apreendido como bem, e que contudo não o é verdadeiramente, assim também às vezes há eleição do que é apreendido como possível para o que escolhe, e que contudo não lhe é possível.
 
Resposta à terceira. ― Tal diz S. Bento porque o súbdito não deve determinar a seu juízo o que é possível, mas sempre seguir juízo do superior.

  1. 1. Q. 13, a. 1.
  2. 2. III Ethic., lect. V.
  3. 3. Q. 13, a. 4.
  4. 4. III Ethic., loc. Cit.
  5. 5. Q. 13, a. 4.
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