Category: Meditações
O poder do Rosário em família
Uma pequena história
Retirado de Our Lady’s Digest, 1959
Há cerca um século, a noite de inverno já havia lançado seu pálio negro sobre os cais de Dublin quando a campainha de uma das paróquias da cidade despertou seu velho pastor. Estava tão escuro que ele mal podia perceber a mulher à porta. Ela falava rapidamente, como se estivesse ansiosa para ir embora.
“Um pobre homem”, ela disse, “está morrendo além do cais do Muro do Norte. É preciso que um Padre vá lá, não há tempo a perder”. Após entregar sua mensagem, ela atirou-se no escuro da noite.
“Eu irei”, murmurou o velho Padre, enquanto contemplava a figura que partia.
Não havia ônibus naqueles dias, e os bondes elétricos não iam até os cais, de modo que ele foi a pé. Estava muito escuro, e o padre parecia estar andando há muito tempo, mas não dava ouvidos ao cansaço, pois trazia o Santíssimo Sacramento próximo ao seu coração com uma mão e carregava os Santos Óleos na outra. Seu único guia era o farol, piscando a cada dois segundos ao longo da baía. A maré subia alto nos dois lados do cais onde ele andava, e foi mais o som das ondas que qualquer coisa que ele via que o levou, enfim, a um grupo de chalés de pescadores. Instintivamente, parou em um deles e empurrou a pequena porta. Não havia luz, e nenhum som quebrou o silêncio.
Ele entrou, mas não via ninguém. “Quem me levará ao moribundo?”, perguntava-se ansiosamente. Fez uma pausa e escutou. Tudo estava quieto. Então seus olhos, já acostumados ao escuro, perceberam uma pequena escadaria. Enquanto ele punha seu pé no primeiro frágil degrau, uma fraca foz alcançou seus ouvidos. Mas de que ela se queixava?
“Santa Maria… Mãe de Deus… Rogai por nós… Pecadores… Agora… E na hora de nossa morte… Santa Maria...”
E, incessantemente, a fraca voz repetia novamente e novamente a segunda parte da Ave Maria. Gentilmente, o Padre abriu a porta da pequenina sala. Sob um palete estava o pobre moribundo. O homem estava sozinho.
“Meu amigo, você me chamou?”, começou o Padre
“Não, Padre, não chamei ninguém!”
“Vejo que você ama a Santíssima Virgem. Está rezando para ela”
“Não sei quem é a Santíssima Virgem”
“Bem, ao menos você reza para Deus”
“Nunca ouvi falar d´Ele”
O Padre estava confuso. Quem tinha ido até ele? O homem diante dele, obviamente, não era hostil a padres, mas não sabia nada sobre Deus!
“Meu amigo”, ele perguntou, “por que você repete incessantemente ‘Santa Maria, mãe de Deus...’?”
“Ah!”, respondeu o doente, “quando estou sentindo dores, falo essas palavras e elas me trazem alívio”
Então, ele contou ao Padre esta tocante história:
“Eu era um marinheiro e, com frequência, nosso navio atracava na costa oeste da Irlanda. Os que desejassem saíam para passar as noites em terra firme, nos alojamentos dos nativos. Não sou irlandês, mas gostava daquele povo. No chalé onde costumava ficar, a família se reunia todas as noites para rezar. A mãe dizia algumas palavras que não consigo lembrar, e todos os demais respondiam: ‘Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte, amém’. Eu jamais esqueci essas palavras, e recitá-las me faz bem”
O Padre ficou profundamente comovido. Ele passou a noite inteira com o doente, falando-lhe de Deus, da Santíssima Virgem e da outra vida, na qual adentraria em breve.
Ali estava uma alma em todo seu frescor, ciosa de beber das verdades eternas, um operário da última hora, que Nossa Senhora em pessoa havia ido buscar.
Ao alvorecer, o Padre o batizou. Em seguida, deu-lhe a Santa Comunhão e o sacramento da Extrema Unção.
Quando amanheceu, o Padre teve de ir embora.
“Meu amigo”, ele disse, “preciso deixá-lo… Eu rezarei a Missa por você. E vou voltar”
Enquanto deixava a casa, o padre estava absorto em pensamentos. Mas quem, quem havia ido até ele? O sacerdote estava certo de que alguém tinha ido, mas quem? Como resposta aos seus pensamentos, uma mulher com vestes pobres apareceu à porta de um dos chalés. O padre falou com ela.
“Aquele pobre homem ali em cima está muito doente”, disse. “Não vai durar muito mais”. Ela balançou a cabeça e acrescentou:
“Fui eu quem fui ao senhor. Eu não pertenço a sua religião. Sou protestante, mas, quando ouvi aquele senhor repetindo a oração católica, disse para mim mesma: ´é melhor ir buscar um dos ministros dele antes que morra’, então recorri ao senhor”
Tentando esconder sua comoção, o Padre agradeceu-lhe por sua ação caridosa e apressou-se para rezar o Santo Sacrifício. “Aqui”, ele pensou, “está um pobre desafortunado que repetia a Ave Maria sem sequer saber o que ele dizia, e, ainda assim, a Santíssima Virgem ouviu seus pedidos! ‘Rogai por nós agora e na hora de nossa morte’… Ela, certamente, veio à hora da morte dele, essa boa e santa mãe!
Eis quão longe podem ir os efeitos de um terço em família, rezado à noite em um chalé de Connemara!”
Pe Prudent Abbot Balou, FSSPX
Para melhor lutar contra o inimigo, é preciso primeiro conhecê-lo e estudar sua estratégia. O principal inimigo do homem é o demônio que, como um leão que ruge, circula ao seu redor procurando afastá-lo dos caminhos do céu. Conhecer a estratégia de Satanás nos permitirá frustrar seus planos e nos procurará felicidade e paz verdadeiras. Qual é a estratégia de Satanás? Como derrotá-la?
Ouçamos essa pequena história. Satanás, o Príncipe das Trevas, convocou uma assembléia mundial reunindo todos os demônios. Ele começa seu discurso de abertura: “Não podemos impedir os católicos de ir à igreja, não podemos impedi-los de ler a Bíblia ou de saber a verdade, nem podemos impedi-los de estabelecer uma relação de amizade com seu Salvador. Ora, uma vez que eles tenham estabelecido essa relação íntima e real com Jesus, nosso poder sobre eles será quebrado."
E continua: “Deixemo-los irem à igreja, mas roubemos o tempo que lhes resta, para que não tenham a possibilidade de manter a sua relação ou união com Jesus Cristo.” E aqui, Satanás fala de todas essas pessoas que vêm à missa no domingo porque é preceito, mas, depois do santo sacrifício, não tem tempo para fazer sua ação de graças, nem para se beneficiar da presença de Deus em sua alma. Eles são “trabalhadores contratados” ou mesmo “católicos de domingo”: agem como católicos no domingo mas como pagãos no resto da semana!
No inferno, a reunião prossegue: “Como roubaremos o tempo dos homens?” Perguntam os outros demônios ao seu mestre.
Imbuído de sua própria excelência e transbordando de autossuficiência, Satanás volta a falar: “Eis o que quero que façais: distraí os homens para que não possam se aproximar do seu Salvador e manter a união com Deus ou estado de graça no curso do dia."
“Mas, concretamente, como fazer isso?” replicam os outros demônios. De seu trono de iniqüidade, Satanás desenvolve seu pensamento: “Ocupai a mente dos católicos com as ninharias da vida, em outras palavras, criai muitas questões, bandeiras e situações para ocupar seus pensamentos. Defendei, por exemplo, os direitos ignorando os deveres; defendei a liberdade sacrossanta para que todos pensem que são livres para fazer o que quiserem e como quiserem; advogai o divórcio com todo vosso empenho. Esforçai-vos para desenvolver nos homens todos os vícios, mas especialmente os contrários à natureza.” Ouvem-se aplausos, mas Satanás não interrompe: “Persuadi as esposas a trabalharem longas horas fora de casa; persuadi os maridos a trabalhar seis ou sete dias por semana, dez a doze horas por dia, a fim de ganharem dinheiro suficiente para manter um estilo de vida superficial ou desprezível."
Um pouco sem fôlego, Satanás faz uma breve pausa. Após alguns segundos de silêncio, com muita raiva, pois não há espaço em seu coração para o amor, Satanás clama: "Criai situações que impeçam os pais de passarem tempo com seus filhos e esposas, e vereis a família se desintegrar, os lares deixarão de ser o lugar de paz onde o homem recobra suas forças, minadas pelo trabalho ”
“Não parai, ide mais longe: conspurquem seus pensamentos com imagens e palavras impuras. Despejai o veneno da impureza em todos os lugares, principalmente entre os jovens, usando para isso de todos os meios modernos (televisão, internet, telefone, tablet, redes sociais etc.) a ponto de não poderem mais ouvir a doce e tranquila voz que dirige suas mentes. Enchei todos os lugares com revistas e jornais sujos, mentirosos, revolucionários; bombardeai-os com notícias vinte e quatro horas por dia; mostrai-lhes belas mulheres em revistas e TV, para que os maridos, acreditando que a beleza exterior é o que importa, se desgostem das suas próprias esposas. Sobrecarregai as mães de cansaço, deixando-as desnecessariamente ocupadas, para que seus maridos não mais recebam o amor de que precisam, incitando-os a buscá-lo em outro lugar. Sem dúvida, isso implodirá rapidamente a família. Crede, caros demônios, se a família implodir, a sociedade não tardará a implodir”. Gritos e aplausos ecoam pelo inferno.
O maligno orador continua seu discurso: “Dai aos filhos o Papai Noel para distraí-los e deixá-los no escuro sobre a verdade do Natal; dai-lhes o coelhinho da Páscoa para que ignorem a Ressurreição de Jesus e seu poder sobre o pecado e a morte; dai-lhes o mundo virtual para retirá-los da realidade; sugeri a seus pais lhes dêem todos os direitos sobre a organização da casa. Desde o berço, deveis atacar as crianças a fim de transformá-las em homens sem princípios, como juncos curvados pelo vento. Funcionará! O plano é bom, crede em mim. "
Por fim, em tom sério e autoritário, Satanás acrescenta: “Se seguirdes essa estratégia, triunfaremos. Ao trabalho! Existem almas, famílias, nações esperando por vós. Não me decepcionais porque tenho ainda muitos lugares aqui no inferno. Bem sabeis, demônios, que em nossas fileiras não há greve, desemprego ou qualquer reivindicação. Trabalhamos sem parar para a perda de almas. Ide a todos os países, semeai ódio, discórdia, ciúme, mentiras, impureza, irreligião, roubo etc. Começai a trabalhar e fogo aos preguiçosos! "
Os demônios treinados por seu líder correram para implementar a estratégia do mestre, gritando: "Que os católicos do mundo estejam cada vez mais apressados, atarefados, agitados em todas as direções, sobrecarregados, para que não pensem mais em Deus ou em suas famílias. Acima de tudo, que os homens da Igreja não tenham mais tempo ou desejo de pregar aos homens a verdadeira doutrina de Jesus. Vamos ocupá-los com assuntos do mundo, ajudá-los a buscar apenas seus próprios interesses às custas da Igreja. "
Que cada um de nós, ciente dos esquemas do diabo, examine-se para ver se não caímos em suas armadilhas. Que cada um de nós renove a sua vontade de conformar a sua vida à doutrina salvífica de Cristo Jesus, e não aos slogans do mundo e do diabo. Como nos diz São Paulo, "não sejamos vencidos pelo mal, mas vencamos o mal com o bem", isto é, vençamos o vício com a virtude, a injustiça com a justiça, o pecado com a contrição. Lutemos e Deus nos dará a vitória!
(Le Petit Eudiste no. 216)
Hugues Keraly
Em 370, a perseguição ariana continua a seviciar em grande escala todos os estados do Império, e os santos continuam a resistir a ela tão soberbamente, que emudecem alguns de seus carrascos. Prova disso é o diálogo referido por Gregório de Nazianzo entre São Basílio, jovem bispo de Cesaréia (uma sucessão difícil) e Modesto, Prefeito Imperial do Oriente. A matéria, em seu perfeito arranjo dramático, dispensa qualquer comentário.
O Prefeito — Como, tu não temes o meu poder?
O Bispo — Que poderia ocorrer-me? Que poderia sofrer?
O Prefeito — Um só dos inumeráveis tormentos que estão em meu poder.
O Bispo — Quais são eles? Deixa-me conhece-los.
O Prefeito — A confiscação, o exílio, as torturas, a morte.
O Bispo — Se tens outras espécies de tormentos, podes ameaçar-me com elas, pois nada existe aí que me atinja.
O Prefeito — Como? Que queres dizer?
O Bispo — É que, na verdade, o confisco não tem valor para um homem que nada possui, a não ser que te refiras àqueles horríveis andrajos que ali estão e a alguns livros: é tudo o que tenho. Quanto ao exílio, desconheço-o, uma vez que não estou preso a lugar algum: aquele em que moro não é meu e eu me considerarei em casa em qualquer lugar para o qual me designem; aliás tenho que toda a terra pertence a Deus e sinto-me estrangeiro em qualquer parte que esteja. Referente aos suplícios, onde os aplicarias? Não tenho corpo capaz de suporta-los, a menos que chames suplício o primeiro golpe que me darás: é a única coisa em que és o soberano. Quanto à morte, ela me será benfeitora, conduzir-me-á mais cedo para Deus para quem vivo, por quem ajo, para quem já estou quase morto e por quem de há muito suspiro.
O Prefeito — Ninguém até hoje me falou desse modo e com tanta audácia.
O Bispo — É que talvez jamais tenhas tratado com um bispo; ele usaria da mesma linguagem, se tivesse que defender a mesma causa. Na maioria das vezes, somos afáveis, prefeito, e mais humildes que ninguém, pois a lei o exige; e não somente com autoridade tão alta, mas até mesmo com uma pessoa qualquer evitamos o menoscabo. Mas, quando Deus é questionado e quando dele se trata, desconsideramos todas as coisas; não vemos senão a Ele. O fogo, o cutelo, as feras, as garras que dilaceram as carnes antes são para nós delícias que terror. Depois disso, injúria, ameaça, faz tudo o que queiras, utiliza-te de teu poder. Que se notifique ao imperador que tu não conseguirás que nos dobremos à impiedade nem pela violência, nem pela persuasão. (1)
(1) Segundo a Histoire de l’Eglise, de Fliche et Martin, tomo 3, página 260.
“Presence d’Arius” — D.M.M. — pág. 108 — Tradução de Afonso dos Santos
Revista Permanência N° 162-163 Maio-Junho de 1982.
Não foi a necessidade que levou Deus a redimir o mundo com seu Preciosíssimo Sangue. Ele poderia tê-lo feito de milhares de outras maneiras. Seu poder não tem limites, e sua sabedoria é inesgotável. Poderia ter reconciliado o perdão do pecado com a pureza sem manchas da sua santidade, ou por uma série de invenções das quais nem nós nem os anjos podemos fazer idéia.
Deus é incompreensível e há nele abismos que sequer sabemos que existem. Seu poder absoluto permitiria que nos salvasse sem Jesus. Qualquer meio que usasse para nos redimir seria muito caro para nós; contudo, que outro meio de salvação haveria de ser tão digno da grandeza de Deus e do seu amor pelos homens quanto a nossa redenção por Jesus Cristo?
Ainda assim, Nosso Senhor poderia ter dispensado o derramamento de seu Sangue. Não havia necessidade de derramá-lo. Uma única lágrima, um suspiro momentâneo, um olhar levantado em direção ao trono de seu pai, bastaria, se as três Pessoas divinas o desejassem.
O derramamento do Preciosíssimo Sangue faz parte da liberdade do seu amor. Era, de uma maneira misteriosa e real, o modo de redenção mais digno de sua adorável Majestade, e o mais apto a despertar o afeto dos homens.
Quantas vezes Deus tomou como medida de suas próprias ações aquilo que mais convinha ao nosso coração! Quantas vezes não se sacrificou para seguir nossas inclinações?
(Fonte: F-W. Faber, O sangue precioso ou o preço de nossa salvação - FSSPX.News - 07/07/2020)
Quem pode duvidar da doce autoridade que o Preciosíssimo Sangue exerce sobre o Imaculado Coração de Maria? Ela é a rainha do céu e da terra; seu império se estende para longe, por todos os lados, de modo que não é fácil distinguir seus limites daqueles do Sangue de Jesus, tão estreita e pacífica é a união dos dois reinos.
Maria guarda todo o poder sobre o Preciosíssimo Sangue. Ele obedece a sua vontade, e ela o comanda em virtude de seus direitos de mãe. No entanto, ela também está sujeita a ele e encontra sua felicidade nessa submissão.
É do seu coração que esse Sangue saiu; mas é a esse Sangue que ela deve sua Concepção Imaculada. O encargo de sua maternidade divina era de fornecer esse Sangue, mas é esse Sangue que, desde toda a eternidade, lhe rendeu a honra da maternidade divina. É o Preciosíssimo Sangue que a fez sofrer; mas foi esse Sangue que transformou seus sofrimentos em honras e coroas.
Ela deve tudo o que tem ao Preciosíssimo Sangue, e o Preciosíssimo Sangue deve a ela a sua própria existência. No entanto, o rio é maior que a fonte da qual decorre. O Sangue de Jesus é maior que Maria, e a ultrapassa em toda a extensão do infinito, porque sua corrente se uniu sem se misturar com as águas da Divindade.
Maria senta-se em seu trono para exaltar o Preciosíssimo Sangue. Seu poder é usado para propagar seu império. Suas orações dispensam as graças que Ele mereceu, e sua santidade, que encanta os céus, é um monumento e um troféu erguidos para a glória deste Sangue vitorioso.
Pe. F-W. Faber
Pe. F-W. Faber
O juízo que devemos ter da criação deve ser semelhante ao de Deus. Devemos contemplá-la, juntamente com as inúmeras almas que ela encerra, pela lente luminosa do Preciosíssimo Sangue; e em toda parte, e sempre, essa grande cena espiritual que a criação nos oferece deve aparecer para nós com o resplendor e as cores do preço glorioso da nossa redenção.
Essa é a forma com que o amor de nosso Pai Celeste se manifesta a suas criaturas. É um convite para cada um de nós vir adorar o Preciosíssimo Sangue e desfrutar da liberdade que ele nos oferece.
É por meio desse Sangue que Deus nos comunica suas perfeições; é nesse Sangue, como em um rico tesouro, que Ele depositou todas as bênçãos espirituais e temporais que nos são destinadas.
Se, apesar de nossos pecados, os elementos da natureza servem a todas as nossas necessidades; se, no mundo ao redor, nossos olhares só encontram beleza e grandeza; se nossas tristezas e dores encontram tantas razões de consolo; se no decorrer da vida a Providência vela por nós com tanta bondade e paciência; se nossos corações sentem tão pouco o peso e a amargura dos numerosos males da nossa condição — tudo isso é graças ao Sangue Preciosíssimo; é por meio desse Sangue que Deus devolveu à criação as vantagens das quais o pecado a destituíra; é desse Sangue que vêm todas as graças, tanto aquelas com que Maria foi cumulada, como as que os anjos desfrutam, e as que são concedidas aos homens.
É esse Sangue que merece para todos os homens os favores que todos recebem. Sem esse Sangue, os maus seriam ainda piores, e os infelizes sofreriam com mais amargura o peso dos seus infortúnios. As chamas do inferno seriam mil vezes mais ardentes, se o derramamento desse Sangue não diminuísse a sua intensidade.
Não, não há nenhum lugar na criação de Deus que não sinta de algum modo a influência doce e benfazeja do Preciosíssimo Sangue. É com justiça, portanto, que o Pai Celeste chama suas criaturas para essa fonte maravilhosa e as convida a adorar sua sabedoria e seu amor.
Quem poderia ter pensado numa tal invenção? Quanto mais a mente penetra nesse mistério, mais encontra nele motivo para espanto.
[Pe. F-W. Faber, Le Précieux Sang ou le prix de notre salut. Tradução: Permanência]
"Porque se alguém procurasse considerar o que é um homem ainda envolto na carne e no sangue, ter o poder de se aproximar daquela feliz e imortal natureza, veria então quão grande é a honra que a graça do Espírito Santo concedeu aos sacerdotes. Pois por meio desses se exercem essas coisas e outras também nada inferiores, que dizem respeito à nossa dignidade e a nossa salvação.
A eles que habitam nessa terra e fazem nela sua morada, foi dado o encargo de administrar as coisas celestiais e receberam um poder que Deus não concedeu nem mesmo aos anjos e arcanjos, pois não foram a esses que foi dito: "Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no Céu e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no Céu" (Mt18,18). Os que dominam nesse mundo possuem também o poder de atar, porém somente os corpos; mas a atadura de que falamos, diz respeito à própria alma e penetra os Céus; e as coisas que aqui na terra, o fazem os sacerdotes, Deus as ratifica lá nos Céus confirmando a sentença de seus servos.
Afinal o que mais lhes foi dado, senão todo o poder celestial? "Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo. 20,23). Que poder maior do que esse alguém poderia receber? O Pai entregou ao Filho todo o poder, porém vejo que todo esse poder o Filho colocou nas mãos dos sacerdotes. É como se já tivessem sido trasladados aos Céus e erguendo-se sobre a natureza humana, livres de nossas paixões, tivessem sido elevados a tão grande poder.
Imagine se um rei proporcionasse tal honra a um de seus súditos, o qual por sua vontade encarcerasse, ou pelo contrário, livrasse das prisões a quem bem entendesse, será que esse não seria visto como um fortunado e respeitado por todos? E aquele que recebeu de Deus um poder infinitamente maior, mais precioso ao Céu do que à terra, mais precioso à alma do que ao corpo, será que para alguns tal honra possa parecer algo tão insignificante que não mereça consideração ou que se possa depreciar o benefício? Longe de nós tal loucura!
De fato, seria sem dúvida uma grande loucura depreciar uma dignidade tão grande, sem a qual não podemos obter nem a salvação, nem os bens que nos foram propostos, porque ninguém pode entrar no Reino dos Céus se não for regenerado pela água e pelo espírito (Jo. 3,5). E aquele que não come a carne do Senhor e não bebe seu sangue, está excluído da vida eterna. Nenhuma dessas coisas se faz pelas mãos de qualquer outro,senão por aquelas santas mãos do sacerdote. Como poderá pois alguém, sem o auxílio desses, escapar do fogo do Inferno ou chegar à conquista das coroas que lhes estão reservadas?
Esses pois são a quem foram confiados os partos espirituais e encomendados os filhos que nascem pelo Batismo. Através desses, nos revestimos de Cristo e nos unimos ao Filho de Deus tornando-nos membros daquela bem-aventurada Cabeça, de forma que para nós, com justiça eles devem ser respeitados não apenas mais do que os poderosos e reis, mas até mesmo mais do que nossos próprios pais, porque esses nos geraram pelo sangue e pela vontade da carne, enquanto os sacerdotes são os autores do nosso nascimento para Deus, para aquela ditosa geração da verdadeira liberdade e da adoção de filhos segundo a graça."
Padre Pio de Pietralcina (Itália) que possuía as Santas Chagas de Jesus, disse em visão a um irmão (Padre): Escutai, almas consagradas!
"Que irá acontecer ao mundo? No meio da nossa alegria no Céu, estremecemos, com angústia, porque todos temos os nossos na terra. Apressa-te! Não temas as reflexões que façam! Escreve, fala, remexe os corações que se querem atolar no lodo. Mais que todos, são os nossos irmãos consagrados que embebem de amargura a Cristo, "Pão da vida", porque começam a corromper-se. A hora é grave, muito grave e eles serão os primeiros a serem arrebatados pela tempestade, porque é por eles, por seu intermédio, que vêm tantos males ao mundo.
Lembrai-vos disto; gravai-o profundamente em vossos corações. O mais belo e precioso ornamento do padre é a pureza virginal. A pureza penetra até o mais alto do céu, faz ver e compreender coisas sublimes; ela é um reflexo da claridade de Deus; dá o gosto e o sabor de tudo o que é santo; tem uma intuição particular das coisas espirituais e gera o heroísmo da virtude e do martírio; ela nos dá ardor e entusiasmo para a salvação das almas.
Que fareis vós, queridos irmãos, para vos conservardes castos e puros no meio de tantos perigos, no meio dum mundo sedutor e pérfido? Mortificai os sentidos, mortificai os olhos e principalmente os ouvidos, evitando familiaridades ociosas, que são a sepultura da pureza. Oh! A pureza virginal! Até os anjos a invejam! Ela dá a todo o ser brilho particular. A pureza vem do Céu; é preciso pedi-la sem cessar ao Senhor e ter o cuidado de não a ofuscar; é preciso fechar as portas à sensualidade da terra, como se barreiam as portas e janelas para impedir a entrada de alguém.
Inflamai-vos de amor por Deus o pensamento contínuo da sua onipotência, para que vivais neste mundo a vida do Céu. Que os fiéis se lembrem disto: faça-se nas paróquias ao menos em particular, uma hora santa, toda as quintas-feiras, pela santificação dos sacerdotes".