Pe. John Brucciani, FSSPX
[Nota da Permanência: Acrescentamos que a liceidade de se tomar a vacina contra a Covid-19 nos casos apontados abaixo não implica na obrigação de fazê-lo.]
Muitos fiéis têm pedido orientação moral em relação às vacinas contra a Covid-19. Há vários artigos sobre o tema, que dão respostas diferentes ou nenhuma resposta. Esse artigo é uma tentativa de trazer clareza e solidez à questão
Posso tomar a vacina da Covid-19 se ela foi desenvolvida com células de fetos abortados?
Em relação à licitude de receber uma vacina desenvolvida com células fetais, a Pontifícia Academia para a Vida publicou, em 2005, um documento que concluiu que, em certas circunstâncias definidas, é moralmente permitido receber uma vacina desenvolvida de células fetais. Essa conclusão pode soar surpreendente, repulsiva e instintivamente errada, mas as conclusões advêm de princípios teológicos morais. Todos os teólogos morais da FSSPX concordam.
A questão, na nossa presente situação, deve levar em conta: (a) a existência de certas circunstâncias específicas e (b) circunstâncias adicionais, particulares à questão.
Circunstâncias específicas
As circunstâncias específicas que devem estar presente são as seguintes:
1. A doença é grave;
2. Não há vacinas alternativas disponíveis;
3. Protestou-se, vigorosamente, contra o uso de células fetais abortadas.
Circunstâncias adicionais
As circunstâncias adicionais da situação presente podem incluir:
4. O fato dos governos, mídia e empresas multinacionais estarem trabalhando duro para instaurar uma Nova Ordem Mundial essencialmente anticristã, com a cultura da morte no seu coração. A imposição global de uma vacina maculada pelo aborto é parte desse trabalho.
5. O desenvolvimento acelerado de uma vacina aumenta os riscos de efeitos colaterais maléficos.
6. A possibilidade de consequências penosas impostas àqueles que se recusarem tomar a vacina, como a demissão do trabalho ou mesmo o sequestro de seus filhos pelas autoridades.
Considerando as circunstâncias
As circunstâncias específicas se verificam no presente?
1. A doença é grave apenas para um pequeno grupo;
2. Há vacinas alternativas, mas elas não estão, necessariamente, disponíveis a todos;
3. O protesto vigoroso contra o uso de células fetais se trata de uma obrigação pessoal.
Em relação às circunstâncias adicionais:
4. Os católicos devem empregar todos os meios razoáveis para evitar cooperar com a imposição da cultura da morte pela Nova Ordem Mundial;
5. O risco de uma vacina desenvolvida às pressas é real, mas impossível de se avaliar;
6. Alguma penalidade pode ser imposta no futuro, mas, por enquanto, não no Reino Unido (N.T.: nem no Brasil);
Conclusão
À luz dessas circunstâncias concretas, a vacina desenvolvida de células fetais abortadas pode ser recebida sem pecado: (a) por um membro do grupo de risco, quando não houver vacina alternativa disponível e após protesto, ou (b) se a consequência de recusar a vacina for tão onerosa de modo a ameaçar a manutenção da vida pessoal ou familiar, e após protesto.
Santo Afonso de Ligório, padroeiro dos teólogos morais, rogai por nós
(Ite Missa Est, Jan-Fev. 2021. Tradução: Permanência)