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Art. 9 — Se os artigos da fé estão convenientemente dispostos no símbolo.

(III Sent., dist. XXV, q. 1, a. 1, qa 3).
 
O nono discute-se assim parece que os artigos da fé estão inconvenientemente dispostos no símbolo.
 
1. Pois, a Sagrada Escritura é a regra da fé, à qual não podemos acrescentar nem subtrair nada, como ela própria o diz (Dt 4, 2): Vós não ajuntareis nem tirareis nada às palavras que eu vos digo. Logo, é ilícito erigir-se qualquer outro símbolo em regra de fé, depois de ter sido outorgada a Sagrada Escritura.
 
2. Demais. — Como diz o Apóstolo (Ef 4, 5): uma é a fé. Ora, o símbolo é a profissão da fé. Logo, foi inconveniente terem-se feito vários símbolos.
 
3. Demais. — A confissão da fé, contida no símbolo, diz respeito a todos os fiéis. Ora, nem a todos cabe crer em Deus, mas só aos de fé informada. Logo, inconvenientemente foi outorgado o símbolo da fé sob a forma destas palavras: Creio em um só Deus.
 
4. Demais. — A descida aos infernos é um dos artigos de fé, como já se disse1. Ora, o símbolo dos Padres não faz menção da descida aos infernos. Logo, parece que foi inconvenientemente acrescentado.
 
5. Demais. — Como diz Agostinho, expondo aquilo do Evangelho (Jo 14, 1) — Credes em Deus, crede também em mim — cremos em Pedro ou em Paulo; ora, crer só o dizemos em relação a Deus2. Logo, sendo a Igreja católica algo de puramente criado, resulta que é inconveniente dizer: Numa, santa católica e apostólica Igreja.
 
6. Demais — O símbolo foi dado para regra de fé. Ora, esta deve ser proposta a todos e publicamente. Logo, todo símbolo deveria ser cantado na missa, como o dos Padres. Portanto, não parece conveniente a disposição dos artigos da fé no símbolo.
 
Mas, em contrário, a Igreja universal não pode errar, por ser governada pelo Espírito Santo, que é o Espírito de verdade. Pois, assim o prometeu o Senhor aos discípulos, dizendo (Jo 16, 13): Quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos ensinará todas as verdades. Ora, o símbolo foi dado por autoridade da Igreja universal. Logo, nada contém de inconveniente.
 
SOLUÇÃO. — Como diz o Apóstolo (Heb 11, 6), é necessário que o que se aproxima de Deus creia. Ora ninguém pode crer senão numa verdade que lhe seja proposta à crença. Por isso, foi necessário coligir as verdades da fé, para mais facilmente poderem ser propostas a todos, afim de ninguém ficar privado da verdade, por ignorância da fé. Ora, tal coleção dos artigos da fé recebeu o nome de símbolo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A Sagrada Escritura contém as verdades da fé difusamente, sob modos diversos e, certas, obscuramente. De modo que, para extraí-las dela é necessário longo estudo e exercício, que nem todos os que têm necessidade de conhecê-las podem dispender; pois a maior parte, tomados por outras ocupações, não tem tempo de se dedicar a esse estudo. Por isso, foi necessário se fizesse sumariamente uma coleção clara das sentenças da Sagrada Escritura, para ser proposta à crença de todos. O que, porém, não foi nenhum acréscimo à Sagrada Escritura, mas antes, um extrato da mesma.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Todos os símbolos ensinam as mesmas verdades da fé. Mas, há necessidade de instruir mais diligentemente o povo sobre elas, quando ocorrem erros, afim de não ser a fé dos simples corrompida pelos heréticos. Tal a causa de ter sido necessário comporem-se vários símbolos, só diferentes por explicar um, mais plenamente, o que outro contém implicitamente, conforme o exigia a instância dos heréticos.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — É como que pessoa de toda a Igreja, unida pela fé, que propõe a confissão desta, no símbolo. Ora, a fé da Igreja é uma fé informada, que também se encontra em todos os membros da Igreja, pelo número e pelo mérito. Por onde, o símbolo transmite a confissão da fé enquanto conveniente à fé informada, de modo que se algum fiel não a tiver informada pode esforçar-se por alcançar essa forma.
 
RESPOSTA À QUARTA. — Como os heréticos não caíram em nenhum erro a respeito da descida, aos infernos, não foi necessária nenhuma explicação sobre esse ponto. E por isso, não é repetido no símbolo dos Padres, mas suposto, como predeterminado, no dos Apóstolos. Pois, o símbolo subseqüente não abole, antes, expõe o precedente, como já se disse3.
 
RESPOSTA À QUINTA. — Quando se diz — na santa Igreja católica — devemos entendê-lo como significando ser a nossa fé, referida ao Espírito Santo, que santifica a Igreja, de modo que o sentido é: Creio no Espírito Santo, que santifica a Igreja. Mas é melhor, segundo o uso comum, não se colocar aí a partícula na, mas dizer simplesmente, a santa Igreja católica, como diz também o Papa Leão4.
 
RESPOSTA À SEXTA. — Sendo o símbolo dos Padres explicativo do dos Apóstolos, e tendo sido composto depois da fé já manifestada e quando a Igreja estava em paz, por isso é cantado publicamente na missa. Ao passo que o símbolo dos Apóstolos, composto no tempo da perseguição, quando a fé ainda não estava disseminada, é recitado privadamente em Prima e em Completas, como que contra as trevas dos erros passados e futuros.

  1. 1. Q. 1, a. 8.
  2. 2. In Io tr. 29 super 7, 17.
  3. 3. Q. 1, a. 9, ad 2.
  4. 4. Rufinus, In symb. Apost.
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