(I Sent., dist. VII, q. 1, a. 2; De Pot., q. 2, a. 2).
O quinto discute-se assim. – Parece que a potência de gerar ou de espirar significa a relação e não a essência.
1. – Pois, potência por definição significa princípio; assim, dizemos que a potência ativa é principio de agir, como se vê no Filósofo. Ora, a Deus, o princípio, quanto à pessoa só se lhe atribui nocionalmente. Logo, a potência, em Deus, não significa a essência, mas, a relação.
2. Demais. – Em Deus, não diferem o poder e o agir, Ora, geração, em Deus, significa relação. Logo, também a potência de gerar.
3. Demais. – O que em Deus significa a essência é comum às três pessoas. Ora, a potência de gerar não é comum às três pessoas, mas, própria ao Pai. Logo, não significa a essência.
Mas, em contrário,assim como Deus pode gerar o Filho, assim também o quer. Ora, a vontade de gerar significa a essência. Logo, também a potência de gerar.
Solução. – Certos ensinaram que a potência de gerar significa relação, em Deus. – Mas tal não pode ser, pois potência propriamente se chama ao princípio pelo qual um agente age. Ora, todo agente que produz um efeito, pela sua ação, produz o que lhe é semelhante, quanto à forma pela qual age. Assim, o homem gerado é semelhante ao gerador, pela natureza humana, por cuja virtude o pai pode gerar um filho. Por onde, pela potência geratriz de qualquer gerador, este se assemelha ao gerado. Ora, o Filho de Deus se assemelha ao Pai gerador, pela natureza divina. Portanto, a natureza divina, no Pai, é a sua potência de gerar. Por isso, Hilário diz: A natividade de Deus não pode deixar de ter a natureza da qual se originou; e nem subsiste diferente de Deus, porque não subsiste por uma causa diferente de Deus.
Donde concluímos, que a potência de gerar significa principalmente a essência divina, como ensina o Mestre das Sentenças; e não somente, a relação ou a essência, enquanto idêntica à relação, de modo a significar igualmente esta e aquela. Pois, embora a paternidade seja expressa como forma do Pai, contudo é propriedade pessoal, estando para a pessoa do Pai como uma forma individual, para um indivíduo criado. Ora, a forma individual das coisas criadas constitui a pessoa generante; mas não é o principio pelo qual o generante gera; porque então Sócrates geraria a Sócrates Por onde, nem a paternidade pode ser concebida como o principio pelo qual o Pai gera; mas, como constituindo a pessoa do generante, sem o que o Pai geraria o Pai. Ora, o princípio pelo qual o Pai gera é a natureza divina, pela qual o Filho com ele se assimila. E neste sentido, Damasceno diz, que a geração é obra da natureza, não como generante, mas como o principio pelo qual o generante gera. Por onde, a potência de gerar significa diretamente a natureza divina, mas indiretamente, a relação.
Donde a resposta à primeira objeção. – A potência não significa a relação mesma de princípio, do contrário estaria no gênero da relação; mas significa princípio, não no sentido em que o agente o é, mas no em que o é aquilo pelo que o agente age. Ora, o agente distingue-se do seu efeito e o gerador, do gerado. Mas aquilo pelo que o gerador gera é comum ao gerado e ao gerador; e tanto mais perfeitamente quanto mais perfeita for a geração. Por onde, sendo a geração divina perfeitíssima, o princípio pelo qual o gerador gera é-lhe comum com o gerado, e com ele idêntico numericamente, como nos seres criados. Quando dizemos, pois, que a essência divina é o princípio pelo qual o gerador gera, não queremos significar que ela se distingue do gerado, como se concluiria se disséssemos que a essência divina gera.
Resposta à segunda. – Como em Deus se identifica a potência de gerar com a geração, assim também a essência divina é realmente idêntica à geração e à paternidade; mas não, racionalmente.
Resposta à terceira. – Quando digo – potência de gerar, significo a potência diretamente, e, indiretamente, a geração, como se dissesse – essência do Pai. Por onde, quanto à essência significada, a potência de gerar é comum às três Pessoas; porém, quanto à noção conotada, é própria à Pessoa do Pai.