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Art. 4 – Se em Deus há potência, quanto aos atos nocionais.

(I Sent., dist. VII. q. 1. a. 1; De Pot., q. 2. a. 1).
 
O quarto discute-se assim. – Parece que em Deus não há potência, quanto aos atos nocionais.
 
1. – Pois, toda potência é ativa ou passiva. Ora, nenhuma delas pode convir a Deus, quanto aos atos nocionais: a passiva nele não existe, como já se demonstrou1; a ativa, por seu lado, não convém a uma Pessoa em relação à outra, por não serem feitas as Pessoas divinas, como se demonstrou2. Logo, em Deus não há potência, quanto aos atos nocionais.
 
2. Demais. – A potência é relativa ao possível. Ora, as Pessoas divinas não são do número dos possíveis, mas, dos necessários. Logo, quanto aos atos nocionais, dos quais as divinas Pessoas procedem, não se deve admitir potência em Deus.
 
3. Demais. – O Filho procede como Verbo, que é concepção do intelecto; porém o Espírito Santo procede como Amor, que pertence à von­tade. Ora, em Deus, a potência é relativa aos efeitos e não, ao inteligir e querer, como se estabeleceu3. Logo, em Deus deve-se admitir potência, em relação aos atos nocionais.
 
Mas, em contrário,Agostinho: Se Deus Pa­dre não pôde gerar o Filho igual a si, onde está a onipotência de Deus Padre?4.Logo, em Deus. há potência, quanto aos atos nocionais.
 
Solução. – Assim como se admitem atos nocionais em Deus, assim também devemos admitir nele a potência, quanto a tais atos; pois, esta nada mais significa senão o principio de um ato. Portanto, assim como inteligimos o Pai, como princípio da geração, e o Pai e o Filho como princípio de inspiração, necessário é atribuirmos ao Pai a potência de gerar, e ao Pai e ao Filho, a de espirar. Porque a potência de gerar é o princípio pelo qual o gerador gera; pois, todo gerador gera por algum meio; por onde, é necessário admitir a potência de gerar em todo gerador. E, no espirante, a potência de espirar.
 
Donde a resposta à primeira objeção. – Assim como, quanto aos atos nocionais, nenhu­ma pessoa procede, como feita, assim também não há potência, em Deus, quanto aos atos nocionais, em relação à pessoa feita, mas só em relação à pessoa procedente.
 
Resposta à segunda. – O possível, enquanto se opõe ao necessário, resulta da potência pas­siva, que não existe em Deus. Por onde, nem em Deus há nada de possível, deste modo; mas só enquanto o possível está contido no necessá­rio. E assim podemos dizer que, como é possível existir Deus, assim é possível o Filho ser gerado.
 
Resposta à terceira. – Potência significa princípio, e este importa distinção daquilo de que é princípio. Ora, há uma dupla distinção a fazer, no que dizemos de Deus: uma real e outra, apenas racional. Assim, realmente, Deus se distingue, por essência, das coisas de que é o princípio, pela criação; do mesmo modo que uma pessoa se distingue de outra, da qual é o princípio, pelo ato nocional. Mas a ação não se distingue do agente, em Deus, senão apenas pela razão; do contrário a ação seria nele um acidente. Logo, relativamente às ações pelas quais certas coisas procedem de Deus e são distintas dele, essencial ou pessoalmente, a po­tência pode ser atribuída a Deus, quanto à noção própria de princípio. Por onde, como admitimos em Deus a potência de criar, pode­mos também admitir a de gerar ou espirar. Ora, inteligir e querer não são atos tais, que designem a processão de alguma coisa, de Deus distinta, essencial ou pessoalmente. Por onde, quanto a tais atos, não se pode atribuir a noção de potência a Deus, senão apenas racionalmente e quanto ao modo de significar. Pois, em Deus, têm significações diversas o intelecto e o inteli­gir, embora o inteligir de Deus seja a sua essên­cia, sem princípio.

  1. 1. Q. 25, a. 1.
  2. 2. Q.41, a. 3.
  3. 3. Q. 25, a. 1, ad 3, 4
  4. 4. Contra Maximinum haereticum, L. II (al. III), c. 7.
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