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Introdução ao décimo oitavo domingo de Pentecostes

 “Meu filho, teus pecados te são perdoados” (Evangelho).

 

Paramentos verdes

 

Este domingo, que vem a seguir ao Sábado das Quatro Têmporas, era a princípio vacante. A liturgia da Vigília prolongava-se com efeito até de manhã, de maneira que não ficava tempo para os ofícios dominicais. As lições que se leem no Ofício são do Livro de Judite. Todos conhecem a história desta mulher famosa que salvou a Judéia, cortando a cabeça de Holofernes, general dos exércitos assírios. Holofernes, enviado por Nabucodonozor para conquistar a Palestina, tinha cercado Betúlia. Vencidos pela fome e pela sede, os sitiados tinham deliberado render-se, quando Judite apareceu a encorajá-los. Façamos penitência, dizia, e imploremos o perdão de Deus, porque estes flagelos com que nos castiga são para nos corrigir e não para nos perder. Depois, quando veio a tarde, vestiu-se com as suas melhores galas e fez-se introduzir no acampamento dos inimigos, sob pretexto de lhes entregar a cidade. E levada à presença de Holofernes, o general, seduzido pela sua beleza, recebeu-a com grande contentamento e ordenou que, em sua honra, se preparasse um banquete.

A Igreja, ao recordar as sete dores da Virgem Santíssima, aplica-lhe o canto que se ouviu em Israel, quando Judite livrou o povo eleito. Maria é com efeito a nova Judite que decepa a cabeça do general assírio, do dragão infernal. Nestes dias lê a Santa Igreja no Ofício divino estas páginas gloriosas da epopeia israelita, que são a figura do que mais tarde havia de acontecer numa ordem espiritual e mais elevada. A libertação do povo judeu da sujeição assíria, levada a efeito por Judite, representa a libertação da humanidade operada por Jesus. É muito oportuna esta Missa nesta época das Têmporas, que são tempo de perdão, por sê-lo de penitência em que Deus se deixa aplacar e vencer dos pobres mortais. Desse perdão e dessa paz consoladora, que se frui da Casa do Senhor, são legítimos despenseiros os sacerdotes a quem Jesus concedeu o poder sublime de dizerem: “Os teus pecados te são perdoados” Os novos ungidos do Senhor serão encarregados também de pregar a palavra de Deus, de celebrar o Santo Sacrifício e de preparar por este modo a humanidade para se apresentar confiadamente diante do Supremo Juiz. É por este motivo, precisamente, que a Igreja insistirá durante estes domingos no pensamento da vinda do Senhor.

A Epístola de hoje é também para meditar. Que contas tão estreitas não terá de prestar o cristão de tantas graças que recebe! E como dissipamos herança tão rica, como desprezamos tantas graças, os sacramentos, a pregação da palavra de Deus! Que contas serão as nossas[i]?

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

 


[i] - Para compreender a Missa deste domingo é preciso notar que antigamente não tinha Missa própria. O Ofício do Sábado das Quatro Têmporas, prolongado pelas cerimônias das ordenações, chegava até de manhã.

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