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Introdução ao décimo domingo de Pentecostes

“Todo o que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha será exaltado” (Evangelho)

 

Paramentos verdes

 

A liturgia deste domingo procura inculcar no espírito dos fiéis o sentido justo da humildade cristã, que consiste em atribuir a Deus todo o bem verdadeiro e toda a santidade. Porque os nossos atos, com efeito, só poderão ser sobrenaturais, isto é, santos, se procederem do Espírito que Jesus enviou aos apóstolos no dia de Pentecostes, e que não cessa de conceder àqueles que humildemente lho pedem. Pelo que a obra da nossa santificação é inteiramente impossível, se tentarmos realizá-la sozinhos. É necessário reconhecer a nossa incapacidade, as nossas más tendências, toda esta gama de coisas mínimas e imponderáveis que não vemos e nos fazem apalpar tristemente a lama original da nossa natureza; é necessário, digo, reconhecer tudo isto, ser humildes, então, para sentirmos a necessidade de pedir e Deus ter ocasião de nos dar. Porque Deus conhece de longe os orgulhosos e vê de perto os humildes. O orgulho é, portanto, o maior inimigo das almas.

A Igreja desenvolve este pensamento, de modo tristemente realístico, nas lições do Breviário. Atália, depois de ter cometido os mais graves atentados contra o Deus de Jacó, de Abraão e dos Profetas e de ter levado o seu arrojo e o seu orgulho ao ponto de levantar no átrio do templo um altar a Baal, foi lançada por uma janela do seu palácio à rua e devorada pelos cães. E Joás, um pobre órfão, descendente de Davi, mas perseguido pela fúria de Atália, que procurava extinguir toda a família real para melhor assegurar a impunidade dos seus desvarios, foi alçado ao poder com 7 anos apenas e dele deixou a Escritura este belo elogio: “Joás praticou o que era justo diante de Deus”. É que há duas classes de homens, conforme diz Pascal: “Os santos que se julgam réus de todos os crimes e os pecadores que não encontram em si culpa alguma. Os primeiros são humildes e Deus glorifica-os; os segundos são orgulhosos e Deus abate-os e castiga-os”. “Deus, diz S. João Crisóstomo, verbera o orgulhoso. Ele submergiu o mundo, queimou Sodoma, destruiu o exército dos egípcios, porque, não tenhamos dúvida, foi Deus que feriu todos estes povos. Mas, direis vós, Deus é bom e é Pai. É, sem dúvida. Todavia, isto não são palavras vazias, mas fatos que não podemos negar. Ou não foi punido o rico que desprezou Lázaro? E as virgens loucas não foram repudiadas pelo esposo? O Senhor diz que sim! Ora pelo que o Senhor disse e fez no passado podemos prever o que fará no futuro. Tenhamos, portanto, sempre diante de nós o rio de fogo, as cadeias que rolam, as trevas, o ranger dos dentes e o verme que dilacera e que rói. Será o modo mais eficaz de cultivarmos a humildade que nos faz dizer com a Igreja: “Clamei pelo Senhor e Ele ouviu-me” (Intróito).

Defendei-me, Senhor, como a pupila dos olhos. Vós vedes, Senhor, o que é reto e justo (Gradual). Ao Senhor elevei a minha alma e n’Ele coloquei a minha esperança. Não me torneis, Senhor, objeto de irrisão para aqueles que me querem mal.

Meditemos, além disso, na grande lição do Evangelho, do fariseu e do publicano.

 

Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.

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