Skip to content

Posso fazer uma tatuagem?

Posso fazer tatuagem, já que surgiram tecnologias para removê-las de modo simples, barato e indolor?

 

Fazer tatuagem não é um ato pecaminoso em si mesmo, mas também não é um ato moralmente neutro. Em todo caso, não é a facilidade de remoção a condição fundamental para determinar a sua moralidade. A “moralidade” de um ato consiste na relação deste com a lei moral, que é, em última instância, a lei de Deus. Ela pode ser determinada considerando o objeto da ação (o que se faz), juntamente com o fim desejado por quem desempenha a ação, as circunstâncias em que ela se realiza, e como esses três fatores se relacionam com a lei moral, seja quando está em conformidade com ela (neste caso, a ação é moralmente boa) ou quando se lhe é oposta (a ação é moralmente má, um pecado).

Pois bem, primeiramente, o objeto: o que é uma tatuagem? Tatuagem é uma “marca ou desenho permanente feito no corpo por meio da introdução de pigmento na pele” (Enciclopédia Britannica). A tatuagem tem sido usada no mundo em diferentes períodos históricos por razões distintas. Havia sido praticamente erradicada do mundo ocidental até ter sido redescoberta nos últimos séculos pelo contato com índios americanos e polinésios, porém mesmo então era usada quase exclusivamente pelas camadas marginais e menos respeitáveis da sociedade. Hoje, todavia, desde os anos 1990, a tatuagem parece ter se tornado uma moda, chegando até a ser “respeitável”.

Não obstante as tatuagens terem sido proibidas na Bíblia (Lv 19,28), foram-no porque representavam a profissão de superstições cananitas e cultos pagãos. Em si mesma, enquanto simples marca no corpo, a tatuagem não é pecaminosa, pois não transgride um mandamento divino, tampouco um bem humano ou ensinamento da Igreja. No entanto, pode se tornar pecaminosa devido à sua circunstância, por exemplo: o custo de uma tatuagem pode ser excessivo em relação ao ganho de uma pessoa; a tatuagem pode deixar cicatrizes se removidas posteriormente; a imagem tatuada pode ser imoral ou obscena e até mesmo blasfema ou satânica; ela pode cobrir uma parte muito grande do corpo, desfigurando-o, ou pode ser feita em uma parte imodesta do corpo.

Isso nos leva a considerar o fator mais importante na avaliação da moralidade de uma tatuagem: a razão para fazê-la.

Em algumas culturas, fazia-se tatuagem para receber proteção mágica contra algum mal, ou para assinalar o grau, status ou pertencimento do tatuado a um grupo, ou até como simples ornamento corporal. Os antigos romanos tatuavam criminosos e escravos e, no século XIX, condenados americanos em liberdade e desertores do exército inglês eram identificados com tatuagens. Os cristãos coptas tatuavam crucifixos em suas testas e dedos como uma profissão de fé contra o invasor islâmico. Alguns peregrinos medievais faziam o mesmo, para dar testemunho do término de sua jornada de devoção.

Hoje, contudo, a aparente onipresença das tatuagens provém de motivos muito distintos: uma adesão irrefletida a tendências e modas; imaturidade e imprudência; um espírito de desobediência ou rebelião contra as autoridades ou convenções sociais. Muitas vezes, faz-se tatuagem por pressão dos colegas ou por desejo de ir contra a sociedade, por tédio ou busca de novidades, por desejo de chamar atenção, por vaidade e ostentação, por narcisismo, por um espírito de exibicionismo que pode até revelar um desequilíbrio psicológico mais grave. Todos esses atos podem ser pecaminosos em diferentes graus.

Demais, temos o dever de respeitar e cuidar do nosso corpo, que nos foi dado por Deus e transformado pela graça em templo do Altíssimo. "Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habi­ta em vós, o qual recebes­tes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo. (1Cor 6,19). Qualquer alteração ou desfiguração desnecessária e injustificada do corpo é – também aqui, com diferente graus de culpabilidade – uma violação da verdade, do nosso dever de bem cuidá-lo.

Por fim, tatuar-se é um modo de se identificar com uma cultura e seus valores. Ceder ao movimento moderno das tatuagens é um modo de acomodar-se à vida do mundo, à cultura anticristã e a um modo de vida esvaziado de valores cristãos. Como disse São Paulo "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito" (Rm 12,2). Somos católicos, estamos no mundo mas não pertencemos ao mundo, não devemos imitá-lo. Só Nosso Senhor deve ser a luz e o guia de nossas ações, e não as modas e mentalidades mundanas.

AdaptiveThemes