Nota da Permanência: O Padre Denis Puga proferiu esse sermão, de enorme atualidade, na segunda-feira, 9 de novembro de 2020 na Igreja Saint-Nicolas-du-Chardonnet em Paris. A França acabava de proibir a assistência a Missa.
Caríssimos fiéis,
Eis que os senhores estão novamente impossibilitados de seguir os ofícios da Igreja, a não ser através de uma tela. É uma forma de perseguição, já que não se deve acreditar que exista uma intenção boa por trás de tudo isso. Festejamos hoje a consagração da Catedral de São-João-de-Latrão, em Roma, que é a catedral do Papa. Todas as igrejas do mundo dependem desta igreja, todas as igrejas são consagradas e, portanto, pertencem a Deus e ao culto de Deus. Não se tem o direito de privar os católicos de seus edifícios porque pertencem a eles. A liberdade de culto dos católicos é um direito fundamental. Em um momento em que ouvimos falar tanto sobre direitos humanos, eis um direito humano fundamental, o direito de praticar publica e socialmente a religião verdadeira. Esse direito é inalienável, ninguém pode tirá-lo de nós. Não há intenções boas por trás dessas proibições. Quem teria nos dito no início deste ano de 2020, quando nos desejavamos um feliz ano novo, que nos veríamos privados da missa, privados do santo sacrifício da missa? Teríamos certamente respondido: “Não, que exagero! Não estamos em um país comunista, não estamos na China de Mao Tse Tung ou na União Soviética de Stalin!" No entanto, eis-nos aqui privados da missa por mais um mês, sim... Por decisão do Estado, que finalmente se colocou no lugar de Deus, os fiéis não podem mais participar.
Um falso pretexto de saúde
Não há uma intenção justa, e que não nos aleguem o pretexto da saúde, porque não é por causa da saúde. A prova, caríssimos fiéis, é que este confinamento que se supunha ser mais “soft”, como hoje se diz, este confinamento fecha as igrejas, ou seja, proíbe o culto aos fiéis. Ora, verifica-se que se trata de uma decisão de governo, posto que o famoso Conselho Científico -- do qual muitas vezes já nos queixamos -- nas suas recomendações dadas no último mês, declarara que, em caso de reconfinamento, não seria necessário fechar igrejas, nem mesmo proibir, parar o culto público.
Qual é a intenção, então? Por que o governo foi além dessa determinação [do Conselho Científico]? Os senhores sabem que o Conselho de Estado indeferiu as ações de associações que, assim como fizeram no primeiro semestre do ano, recorreram da decisão. Elas haviam ganho o recurso na ocasião, mas agora o Conselho de Estado indeferiu o recurso impetrado por associações como o Civitas e outras -- a Fraternidade São Pio X estava ligada a elas. Aqui está um bom combate: a luta pela liberdade da Missa honra a associação Civitas e as demais. Alguns bispos talvez estejam começando a acordar, não é fácil acordá-los, mas alguns começaram a acordar.
Hipocrisia e dissimulação
Por detrás de tudo isso, não há uma intenção sanitária; é algo muito misterioso, é global. Vou dar um exemplo -- é quase risível -- de algo que não aconteceu aqui, mas na Inglaterra. Os senhores sabem que eles também têm um confinamento e que, entre as medidas desse confinamento, é proibido, exceto por motivos graves, deixar o país, viajar para outros países. Ora, na Câmara dos Comuns, semana passada, muito seriamente, o Ministro da Saúde britânico respondeu, após ser perguntado por um deputado, que o fato de se querer viajar para realizar suicídio assistido era motivo suficiente para poder passar a fronteira. Isso era motivo suficiente! E a saúde, e o desejo de salvar vidas humanas? Por enquanto, a lei ainda proíbe o suicídio assistido na Inglaterra.
Já disse aos senhores o que está ocorrendo com relação ao aborto hoje em dia. De mansinho, enquanto todos estão preocupados com o confinamento, leis permissivas se multiplicam: vão aumentar a autorização do aborto para quatorze semanas, vão retirar a cláusula de consciência dos médicos que existia desde 1974. Não, não, não é a saúde que está por trás de tudo isso. E se de fato existem vítimas dessa doença, o que não se pode negar, não estamos enfrentando a peste. Quantos negócios vão morrer! Todos nós conhecemos pessoas que ficaram doentes, talvez até algumas que morreram, por outro lado, também conhecemos pessoas que perderam o emprego, que se encontram em situações econômicas dramáticas: é outra forma de morte. Sabemos que quando houve a crise de 1929 com toda a bagunça do desemprego, houve um aumento considerável dos suicídios. Pensem nesses pais que se veem tendo que alimentar uma família e que se inquietam com seu trabalho. Oh, promete-se muitas coisas, mas quem virá ajudá-los?
Um tempo de perseguição
Este é um tempo de perseguição, não esperávamos que isso acontecesse, mas está chegando e sabemos quem está por detrás de tudo: aqueles que lutam contra a Igreja Católica, contra toda forma de religião, contra todo culto prestado a Deus, porque não o suportam. Ontem, caríssimos fiéis, vimos a igreja ser cercada por forças policiais com um ônibus na entrada e policiais impedindo a entrada ou saída. O que é que nós fizemos? Os vizinhos do bairro,sem dúvida se perguntaram: "Deve estar havendo um ataque terrorista na igreja de Saint-Nicolas-du-Chardonnet para haver tantos policiais!" “Se nos tivessem perguntado, responderíamos: “Não, não é isso, mas algo muito mais sério: nós ousamos celebrar a missa!" Pronto ... percebem aonde chegamos? Claro que, como os senhores sabem, foram os vizinhos, nossos gentis vizinhos, que tiveram o prazer malicioso de nos denunciar para a prefeitura ou para a mídia. Rezemos por eles, tanto pior para eles. Não temos medo de nossa fé. Creio que são, sem dúvida, os dignos sucessores daqueles que nos anos 1940 a 1945 denunciavam os judeus em seus bairros.
Devemos defender nossas igrejas
Falam-nos de um confinamento que vai durar, o estado de urgência sanitária vai durar pelo menos até fevereiro e os médicos que invadem os aparelhos de televisão vão pedindo cada vez mais, como se fosse da sua competência. Portanto, temos que nos preparar para um período difícil, um longo período, um período de resistência, meus irmãos, talvez seja uma segunda luta pela Missa que se abre agora, porque os católicos não devem ser ovelhas. Devemos defender nossas igrejas, devemos defender este direito de dizer missa publicamente. Nesses dias existem iniciativas, pessoas que espontaneamente foram rezar em frente às catedrais que estavam fechadas, é muito bom, devemos continuar nesta direção, senão a Igreja morre. A Igreja morre não pela perseguição dos inimigos, mas pela fraqueza dos cristãos.
Vamos orar em nossas igrejas abertas
Sim, este é um segundo combate e talvez o mais importante. Não percamos a coragem, vamos agarrar-nos às nossas igrejas. Quando elas estiverem abertas, saibam que os senhores sempre têm a possibilidade de entrar nelas, mesmo a caminho de suas atividades profissionais, ao fazerem compras, para suas visitas médicas, se passarem em frente a uma igreja, podem entrar lá para rezar. Aproveitem, caríssimos fiéis, há graças especiais relacionadas à oração em um lugar consagrado, porque, no dia da consagração da igreja, o bispo faz orações especiais por aqueles que virão se santificar pela oração nessas igrejas. Não deixemos essas graças escaparem, não escutemos aqueles que, mesmo no governo, dizem: "De qualquer forma, os católicos têm a possibilidade de rezar em qualquer lugar." Não, preocupemo-nos com as nossas igrejas, mesmo que tenham sido roubadas pela Revolução, de modo que só temos o uso e não mais a propriedade das mesmas; essas igrejas que, no entanto, foram construídas com o dinheiro dos católicos, não com o do Estado. Essas igrejas, nós as temos, e não as abandonaremos.
Aqueles que conduzirem o combate serão abençoados
A consagração da catedral de São-João-de-Latrão, a primeira catedral do mundo, pouco antes de Constantino, pelo Papa Silvestre, foi o sinal do triunfo da realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todas as igrejas, assim como Saint-Nicolas-du-Chardonnet, foram consagradas e manifestam a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela sua existência, pela sua vida. Portanto, não vamos abandoná-las e lutemos para que não sejam profanadas, mas sempre usadas para o verdadeiro culto rendido a Deus. Quem conduzir esse combate será abençoado: leigos, padres, o que for. Todos os católicos que liderarem esta luta terão que sofrer, porque sempre sofremos ao querer defender a missa, porque é a Cruz e o católico é um cruzado, mas os senhores não imaginam as bênçãos de Deus que descerão sobre eles, sobre suas famílias. Peçamos isso à Virgem Maria que foi o primeiro edifício consagrado a Jesus, pois é no seu seio que Jesus se encarnou e por isso Deus a fez tão santa, tão pura, sem mácula, sem pecado original. Peçamos a Ele que nos dê o amor pela Igreja, o amor por nossas igrejas, e lutemos por elas. Sim, devemos empreender um grande movimento de resistência, fiéis às leis de Deus, às leis da Igreja, mas um verdadeiro combate.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Que assim seja.