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Desobedecemos a Nosso Senhor ao chamar o sacerdote de "Padre" (Pai)?

Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

Os protestantes, frequentemente, admoestam a nós, católicos, por desobedecer ao mandamento de Nosso Senhor ao chamar o sacerdote de “Padre” (Pai). Eles têm razão? Nós, de fato, estamos desobedecendo?

Os protestantes costumam citar as Escrituras, mas, frequentemente, retirando as palavras de seu contexto e eliminando qualquer referência a outros textos – mas são esse contexto e essas referências que iluminam o verdadeiro sentido das expressões, um sentido que já havia sido confirmado, muitos séculos antes de Lutero, pela leitura e compreensão da Igreja Católica acerca delas.

No Evangelho de São Mateus (Mt. 23:8-10), de fato, lemos que Nosso Senhor disse: “Mas vós não façais chamar rabi, porque um só é vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. A ninguém chameis pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, o que está nos céus. Nem façais que vos chamem mestres, porque um só é vosso Mestre, o Cristo”

Como Nosso Senhor não parece fazer nenhuma exceção, essas palavras demandariam que absolutamente ninguém poderia ser chamado de pai, professor ou mestre. Portanto, se as entendermos literalmente, seria proibido usar esses termos até para os que nos deram a vida, ou que nos ensinaram na escola… Ainda assim, Ele mesmo, na Palavra de Deus, usou esses termos para se referir a alguns homens nas Escrituras que Ele inspirou.

Ele usou o termo “pai” em referência a nossos pais biológicos quando revelou e, após, confirmou os mandamentos (Ex. 20:12, Lc 18:20). Mas também foi abundantemente usado em referência a relações que vão além da geração puramente biológica.

O profeta Eliseu usou o termo em um sentido espiritual, clamando a Elias quando este foi levado ao céu numa carruagem de fogo: “Eliseu o via e clamava: Meu pai, meu pai, carro de Israel e seu condutor” (II Reis, 2:12)

Ele é usado quando alguém se dirige a uma pessoa digna de respeito especial, como quando o homem rico clama a Abraão da sua condenação no inferno: “Gritando, disse: Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta do seu dedo, para refrescar minha língua, pois sou atormentado nesta chama” (Lc. 16:24)

Ele é aplicado aos nossos anciões, mesmo quando eles nos perseguem, como Estêvão fez quando se dirigia àqueles que o condenavam: “Varões irmãos e pais, ouvi” (Atos, 7:2)

Ele é aplicado àqueles que detém o cuidado temporal sobre outros, como o patriarca José fez no Egito: “Não foi por vosso conselho que fui mandado aqui, mas por vontade de Deus, o qual me tornou como pai do faraó, senhor de toda a sua casa e príncipe em toda a terra do Egito” (Gen., 45:8)

Os Apóstolos consideravam-se pais espirituais de seus discípulos e chamavam-nos de filhos, e São Paulo se gloria dessa paternidade espiritual: “Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas admoesto-os como a meus filhos caríssimos. De fato, ainda que tenhais dez mil preceptores em Cristo, não tendes todavia muitos pais, pois fui eu que vos gerei em Jesus Cristo por meio do Evangelho” (I Coríntios, 4:14-15)

Portanto, é evidente que Nosso Senhor não nos proíbe usar o termo “pai” nesses sentidos, que a Palavra de Deus usou abundantemente na Escritura inspirada. Ele Se expressa de maneira incisiva, numa hipérbole, para condenar aqueles que buscam títulos especiais e honrarias, buscando exaltar a si mesmos como acima dos outros.

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