[O opúsculo DOS COSTUMES DIVINOS é o LXII da EDIÇÃO ROMANA das obras de Santo Tomas de Aquino (publicada em 1570 por ordem de São Pio V).
Hoje, não mais se atribui este texto ao Doutor Angélico, sendo desconhecido o seu autor. Contudo, quem quer que o tenha escrito, é interprete fiel de sua doutrina e, por sua elevação e ingenuidade, remetem-nos ao próprio santo Tomás.]
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). A Santa Escritura nunca nos ordena e nos aconselha algo de impossível. Por essa palavra, o Senhor Jesus não nos manda fazer as próprias obras e os costumes de Deus, os quais ninguém pode atingir de maneira perfeita.
Mas nos convida a nos calcarmos neles o mais possível procurando imitá-los. Nos o podemos, com o socorro da graça, e devemos. E como diz o bispo João, nada convém mais ao homem do que imitar seu criador e executar, segundo a medida de seu poder, a obra de Deus. (Leia mais)
Deus é imutável.
A primeira perfeição dos costumes de Deus é a imutabilidade. Ele mesmo atesta pelo Profeta: “Eu sou Deus e não mudo” (Ml 3, 6), e por São Tiago: “Toda graça excelente e todo dom perfeito vem do alto e descende do Pai das luzes, no qual não há mudança nem sombra de vicissitude” (Tg 1, 17). As coisas criadas levam consigo como um vestígio dessa imutabilidade, sendo imutáveis em sua essência. E se algumas vezes envia seus anjos e algumas vezes não os envia; se às vezes retira sua graça e às vezes confere; se aqui castiga os pecados e ali os dissimula – a mudança é nas criaturas, nunca no Criador.
Enfim a imutabilidade de seus decretos, em relação aos bons e aos maus, declarar-se-á no último dia, quando dará para sempre aos bons uma recompensa superior a seus méritos e infligirá para sempre aos maus um castigo inferior a gravidade de suas faltas.
Esforcemo-nos por adquirir a estabilidade do espírito, afim de que abatidos pela adversidade ou tentados pela prosperidade, não declinemos jamais do caminho da retidão; e que possamos dizer com Jó: “Não abandonarei a justificação que comecei a fazer” (Jó 27, 6), e com São Paulo: “Porque estou certo que nem a morte nem a vida... poderá nos separar do Amor de Deus”.(Rom 8, 38-39).
Mas ai de nós, como somos inconstantes nas santas meditações, nas afeições justas, na segurança da consciência, na vontade reta. Ah, como subitamente passamos do bem para o mal, da esperança para um temor sem fundamento e do temor à esperança, da alegria a uma dor injustificável e da tristeza a uma alegria vã, do silencio à loquacidade, da gravidade à leviandade, da caridade ao rancor ou a inveja, do fervor à tibieza, da humildade à vã gloria ou ao orgulho, da mansidão à cólera, da alegria e do amor espiritual ao amor e a alegria carnal.
De sorte que jamais permanecemos um só instante no mesmo estado, a não ser, ai, como somos constantes na inconstância, na infelicidade, na ingratidão, nos defeitos espirituais, nas imperfeições, na negligencia, na leviandade, nos pensamentos e nas afeiçoes desregradas. Os próprios movimentos que agitam nossos sentidos exteriores e nossos membros mostram nossa instabilidade interior.
Portanto devemos trabalhar sem cessar para adquirir a constância da alma de modo a nos conduzir em toda ocorrência com igualdade, maturidade e mansidão.
O Bem agrada a Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus é que todo bem o agrada por natureza, em todo tempo e em todo lugar, seja nos anjos, seja nas outras criaturas: bens do corpo, como a beleza, a força, a graça, a doçura, a plenitude da maturidade natural; – bens da alma tais como a agudeza de espírito, a tenacidade da memória, a retidão da vontade, o vigor do livre arbítrio; – dons naturais, tais como ler bem, cantar bem, pregar bem, ser eloqüente, sóbrio, casto, ter modos regrados; – enfim bens da graça, que agradam a Deus acima de tudo, como a fé, a esperança, a caridade, a humildade, a paciência, a obediência, a misericórdia, a verdade, a temperança, a justiça, a prudência e a ciência.
Paralelamente, todo mal o desagrada, em toda parte e sempre, seja o que for. Tanto a justiça é inimiga da injustiça e a impureza da pureza, quanto a malícia do homem é contraria a bondade de Deus, pois ela diminui ou mesmo destrói completamente o bem divino que a graça dá à natureza.
Tudo o que é bom deve nos agradar também, sempre, em toda parte e em toda criatura. Deveríamos proteger e sustentar o bem com solicitude e resistir corajosamente àqueles que o combatem.
Deveríamos também detestar o mal de todo coração e esforçarmo-nos para lhe opor obstáculos, porque o mal é injurioso para com Deus e nocivo ao próximo; mais ainda, é um ultraje ao Criador porque põe o homem em perigo.
Mas, ai de nós, na maior parte das vezes, é o contrario que acontece. Pois se ficamos tristes se alguém é louvado, ou amado por causa de sua humildade, de sua piedade, de sua pregação, de sua devoção etc., e se procuramos diminuir seu mérito, o que mostramos? Que o bem não nos agrada.
E quando conversamos com os maledicentes e rimos com eles e nos divertimos com essas leviandades e outras faltas do mesmo gênero, o que fazemos? Atestamos que as coisas ruins não nos desagradam.
Deus prevê todas as coisas.
Outra perfeição dos costumes de Deus: prevê com prudência todas as coisas futuras, boas e más. Antes que aconteçam, as conhece e discerne o bem ou o mal que deve resultar.
Deus previu a queda do anjo e a do primeiro homem. Permitiu a tentação; sabia de antemão todo o mal que resultaria para o gênero humano, como também todo o bem, a saber, a Encarnação do Filho, pela qual o homem recebe uma gloria maior do que a anterior a queda.
Saibamos prever, também nós, nossas atitudes, nossas palavras, nossos desejos e nossas obras, o bem e o mal que pode sair de nós, o efeito do escândalo ou da edificação que repercutirá nos outros; as tentações que talvez surjam, provindas do demônio ou dos homens, dos amigos segundo a carne ou segundo o espírito, e como será preciso lhes resistir, suportá-los ou fugir; pois as setas esperadas ferem menos vivamente.
É preciso prever o que deve acontecer no momento da separação da alma e do corpo. O sofrimento do corpo, a angustia da alma e o tamanho do perigo. E a morada eterna que será a nossa: o céu ou o inferno? Com Deus ou com Satã? A imensa alegria daqueles que habitarão com o Senhor, e o infortúnio das almas reprovadas.
É desejável que tenhamos esses pensamentos sempre presentes ao espírito: Oxalá, diz Moises, que tivessem sabedoria e previssem o fim. (Dt 32,29).
Deus é paciente .
Outra perfeição dos costumes divinos, é que, por mais graves que sejam os ultrajes e indiferenças que receba de sua criatura, nunca sente ódio pela sua natureza; ao contrario, ama-a verdadeiramente e deseja seu bem com fervor, ainda que deteste o mal que está nela.
Provê as necessidades temporais dos seres sem esperar que o peçam e concede os bens espirituais àqueles que os desejam. Faz brilhar o sol sobre os bons e os maus; e chover sobre justos e injustos.
Devemos tender também para essa perfeição afim de que por mais gravemente que um homem nos tenha lesado, jamais o odiemos em sua natureza; e lhe desejemos toda espécie de bem, qualquer que seja o socorro espiritual que ele espere de nós, estejamos sempre prontos a lhe conceder sem tardar.
Mas há em Deus um ódio perfeito que devemos ter também: que o amor que temos pelo homem não nos faça amar seu pecado, assim como não devemos detestar a natureza humana porque detestamos seus vícios. Saibamos em tudo, odiar o mal e amar o ser.
Justiça de Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus é que por aquilo que vem de Deus, a malícia de um não traz detrimento ao bem de outro. Assim, a queda de Lúcifer não prejudicou ao Arcanjo Miguel; e a perfídia de Judas não diminuiu a caridade do bem aventurado Pedro.
Mas nós, miseráveis que somos, se um irmão regular se torna culpado de qualquer excesso, censuramos todo o convento e toda a ordem e mesmo todos os religiosos sem exceção pela falta de um só.
Se um de nossos inimigos nos ofende, perseguimos com ódio um grande numero de inocentes: toda a sua posteridade, seus amigos e seus familiares. Esta é uma coisa proibida pela Lei de Deus: “O filho não levará a iniqüidade do pai“ (Ez 18, 5) mas “cada um levará seu próprio fardo” (Gl 6, 5).
E quantas vezes nos acontecem, quando temos a alma angustiada, de ofendermos ao próprio Deus, que certamente não merece, e então não queremos mais nem cantar, nem estudar, nem ler, nem rezar.
Retidão de Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus é nunca omitir e desistir da misericórdia pela justiça ou a justiça pela misericórdia. Nunca, com efeito, julga ou condena sem misericórdia, nunca quando concede uma graça a justiça é ferida.
E nós, infelizes, se nos esforçamos para manter a justiça, a misericórdia se extingue em nossa alma; e se abrimos o coração à misericórdia então é a justiça que se esvai.
Mas a Escritura recomenda uma e outra ao mesmo tempo: “Que a misericórdia e a verdade jamais te abandonem” (Pr 3). E o salmista diz: “Quero cantar diante de Vós, Senhor, a misericórdia e a justiça” (Sl 100, 1).
Longanimidade de Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus: quando todos os santos às vezes e todas as criaturas gritam por vingança contra o pecador, segundo está escrito no Apocalipse (cap. VI) “Todos gritavam de uma voz forte dizendo: até quando, ó Mestre santo e verdadeiro, não fareis justiça e não reclamareis nosso sangue àqueles que habitam na terra?” – Deus, no entanto, com paciência e misericórdia, espera o pecador até a morte por piedade; nesse ultimo momento pode se arrepender de sua via má e voltar-se para Ele. Pois o Senhor infinitamente bom não pode se alegrar com a perda dos vivos.
Mas nós em nossa impaciência, antes que se termine de cavar uma fossa para o pecador, o maldizemos e pedimos justiça, quereríamos vê-lo afundar de uma vez. Reprovamos Deus por suportar tanto tempo a maldade que os justos sofrem e não queremos considerar o bem que sua Sabedoria quer tirar da própria malícia dos ímpios. Pois suportando o mau o Senhor é tão bom e tão digno de louvor quanto preservando o mundo do pecado, se lhe fosse agradável agir assim ou livrando-o inteiramente
Ser-lhe-ia fácil, com efeito, precipitar o iníquo no fundo do inferno; mas onde aparece seu poder acima de tudo é na misericórdia que o faz ter piedade do pecador e perdoá-lo.
A Liberalidade de Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus: ele comunica às criaturas todo o bem que lhe é comunicável e que elas são capazes de receber. Isso, a qualquer momento, desde que lhe dêem ocasião de dar, mesmo quando ele vê que seus dons não frutificam nelas.
Ele uniu a natureza humana e a natureza divina na pessoa do Verbo, a maior das obras. E sem falar nos seus outros dons espirituais, formou a alma humana capaz de receber a Trindade e a alimenta com a carne e o sangue de seu Filho bem amado.
Não guardou nada do que podia ser dado, o que é próprio da bondade divina. Aquilo que possui pela natureza, Deus comunicou às criatura pela Graça: a bem aventurança aos Anjos, sem que conhecessem a miséria; o poder ao coro dos Apóstolos, de sorte que tudo o que ligassem ou desligassem na terra fosse ligado ou desligado nos céus. A previsão das coisas futuras ao coro dos Profetas. A força ao coro dos Mártires. A constância, ao coro dos Confessores. E ao coro das Virgens a continência no meio das seduções da carne. Comunicou também a alguns, em particular, bens que possui por sua natureza: a Abraão a magnanimidade; a Moises a mansidão, que foi o mais manso dos homens; a José a providencia sobre o Egito; a Sansão a força; a Elias o zelo pela justiça; a Jó e a Tobias a paciência; a Elizeu o poder de ressuscitar os mortos; a Daniel a discrição do julgamento; a Samuel a fidelidade; a David a misericórdia para com seus perseguidores; a Salomão a prudência; a João Batista o amor da santidade e da verdade; a Pedro a caridade; a João a castidade; ao bem aventurado Paulo o zelo das almas e o conhecimento das coisas do Alto; a Bem aventurada Virgem a humildade. Esses se distinguiram no exercício de seu dom especial, todos possuindo também as outras virtudes.
Por nossa vez devemos dar reciprocamente nossos olhos para outro ver, nossos ouvidos para ouvir os penitentes, nossa boca para pregar e dar conselho, nossos pés para servir ao próximo e nosso coração para meditar na sua salvação; e mais ainda, tudo o que possuímos em bens espirituais ou temporais, tudo o que podemos exteriormente por nossas obras, interiormente por nossos desejos; tudo o que somos no corpo e na alma, devemos dar com generosidade a cada um dos que estão no purgatório e aos que ainda vivem e que em breve não viverão mais, a fim de que a vontade de Deus se realize neles agora e sempre.
Deus se deixa apaziguar facilmente.
Há em Deus outra perfeição que o leva a perdoar imediatamente as ofensas mais graves, as mais numerosas, desde que façamos o firme propósito de não mais cometê-las e de nos emendar de verdade.
Além disso, as esquece por causa de um único gemido do coração contrito, como diz a Escritura. E se continuamos com boa vontade, não se vinga mais tarde de nossos pecados, nem nos lança em rosto para nos confundir, nem no-los imputa para nos amar menos, nem nos afasta dele nos retirando sua familiaridade.
Mas nós que deveríamos seguir as pegadas de Deus, é a custo que consentimos em perdoar de coração uma única pequena ofensa a quem nos implora perdão. Se por acaso perdoamos, nunca mais esquecemos; gozamos com o embaraço de quem nos ofende; pouco lastimamos sua adversidade, e passamos a gostar menos dele do que antes. Se não o censuramos é certo que o excluímos de nossa intimidade e mesmo em tempos difíceis lhe recusamos nosso conselho e nosso apoio.
Ao contrario, é preciso que esqueçamos as injustiças de nossos inimigos, mesmo que não se arrependam e não se emendem – ao exemplo do Cristo que orava pelos que o crucificavam e que longe de se arrependerem, caçoavam dele. Nada nos torna tão semelhantes a Deus, diz São João Crisóstomo, do que nos deixar facilmente apaziguar e ser piedosos para com os maus e com aqueles que nos prejudicam. Pois o pico da perfeição é amar nossos inimigos e rezar por eles assim como fez o Senhor Jesus.
Misericórdia de Deus.
Outra perfeição de Deus é não exigir nada que ultrapasse nossas forças fazendo jejuns, orações, vigílias, esmolas, mortificações corporais, disciplinas, etc.
E se não conseguimos fazer obras grandes e difíceis para apagar nossos pecados, contenta-se com coisas mais humildes como as lagrimas sentidas de coração.
Foi assim que considerou as lágrimas de Ezequias e revogou a sentença de morte que mandou pelo Profeta, e concedeu-lhe mais quinze anos de vida.
Atendeu com a mesma misericórdia as lagrimas de São Pedro, quando esse ouvindo o canto do galo chorou amargamente a enorme falta de sua negação. Se acontece que alguém não possa chorar, uma só palavra vindo de um coração contrito basta para Deus. Foi assim que ao ladrão que lhe disse: “Lembra-te de mim, Senhor quando chegares ao teu reino”, respondeu-lhe Jesus: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
E se alguém perde o uso da fala, Deus aceitará plenamente os gemidos de seu coração, como está escrito: A qualquer hora que o pecador gemer esquecerei todas as suas iniqüidades.
Enfim se a doença priva um homem do uso de todos os membro e até da faculdade de gemer, diante dessa estrema fraqueza Deus se contentará com um boa e sincera vontade para perdoar as ofensas mais graves. Não exijamos pois demais seja de secular ou religioso ainda que por seu estado devesse chegar a uma maior perfeição, se ele faz fielmente o que pode fazer.
Deus é moderado em seus julgamentos.
Nos costumes de Deus há outra perfeição: não censura ninguém pelos defeitos naturais do corpo ou da alma, como a cegueira, a surdez, a deformidade dos membros, a estupidez, a falta de inteligência, de espírito, de memória, da razão, a pusilanimidade natural. Por causa desses defeitos Deus não despreza nem rejeita o homem.
Mas imputa gravemente os defeitos espirituais que são fáceis de vencer com o socorro da graça com: orgulhar-se de ter certos dons, desejar as coisas supérfluas, entristecer-se com o progresso dos justos, gozar com suas aflições, detestar as boas obras ou pôr-lhes obstáculo; denegrir o próximo, diminuir sua boa reputação; ser teimoso em suas preferências e nunca renunciar as suas opiniões; agradar aos homens; odiar a correção, amar a adulação; procurar consolos estranhos, manter afeições carnais.
Do mesmo modo não devemos nunca desprezar os que não tem saúde, força, beleza, eloqüência, graça na conversação – dons que ninguém tem por si mesmo. Demos graças a Deus por aqueles que os possuem e sejamos pacientes com os outros e procuremos suprir na medida de nossas forças tudo que lhes falta.
Generosidade de Deus.
Há outra perfeição nos costumes de Deus que o leva a conceder sua graça com extrema liberalidade segundo a vocação de cada um; como está no Evangelho: “a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um só, a cada qual segundo a sua capacidade” (Mt 25, 15).
Quanto mais o coração do homem é dilatado pelo amor de Deus e do próximo, mais suas meditações, suas orações ardentes, seus justos desejos, sua humildade e sua generosidade abrem sua alma para a graça – mais elevada e maior é a graça que Deus todo poderoso lhe confere. E na mesma medida em que ele procura conservá-la e com ela louvar a Deus e a utilizar para o bem de todos, na mesma medida se dispõe para receber mais abundantes efusões de graça nesse mundo e gloria no Paraíso.
Dilatemos, pois, nosso coração e o preparemos para freqüentes desejos, para que Deus que é “Cheio de misericórdia para com os que o invocam” possa derramar sua graça sobre nós segundo sua magnificência.
Mas aquele que está encarregado de dispensar os bens espirituais pela pregação e pelos conselhos tenha o maior cuidado para não jogar aos cães as coisas santas e de não dar pérolas aos porcos.
“Que o dia anuncie ao dia a palavra e a noite manifeste à noite a ciência.” (Sl 18, 3); o que significa que é preciso dar as coisas mais perfeitas aos perfeitos e as menos perfeitas aos imperfeitos, como convém a um dispensador fiel. Foi assim que São Paulo anunciou Jesus aos imperfeitos e Jesus crucificado, mas só desvendou aos perfeitos o mistério da sabedoria (1Cor 2).
Discernimento de Deus.
Outro costume de Deus: “A todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido; e ao que muito cofiaram, mais ainda lhe será exigido” (Lc 12, 48).
Daquele que foi cumulado de bens temporais Deus exige abundantes esmolas e do que recebeu uma boa saúde e força, mais jejuns, vigílias, orações peregrinações e boas obras.
Daquele que foi perdoado grande numero de pecados ou pecados mais graves e daquele que foi preservado, espera um amor mais generoso e mais dignos frutos de penitencia. Daquele a quem foi concedido excelentes virtudes, dons naturais de espírito, de inteligência, de memória, de vontade mais perfeitos e a quem proveu com dons espirituais mais numerosos e mais elevados, como a devoção, consciência segura, a alegria espiritual, uma firme e universal confiança, a sabedoria nos discursos, a procura perseverante da perfeição, a diligência no bem, a pureza de intenção, o zelo das almas, o fervor na oração, Deus exige com todo direito maiores ações de graças.
E daqueles a quem Deus em sua benignidade admite mais vezes e de uma maneira mais intima no conhecimento de sua bondade, de sua eternidade, de sua imensidade, de sua onipotência, de sua liberalidade, de sua caridade, de sua sabedoria, de sua misericórdia, de sua paciência, de sua humildade, de sua suavidade e de sua nobreza espera um louvor mais abundante, mais freqüente e mais fervoroso. Daquele a quem ilumina na procura e no conhecimento de uma mais alta perfeição, Deus mais exige afim de que se exercite efetivamente e progrida cada vez mais. É preciso que com suas palavras, seus exemplos, suas preces e seus desejos levem, tanto quanto for possível, ao conhecimento e a pratica da perfeição a quem julgar capaz.
Cuidemos, pois, para que no dia da prestação de contas possamos dar a Deus com lucro cada um dos dons que nos foi confiado, temendo que ele ordene no-los tirar e nos lançar miseravelmente nas trevas exteriores com o servidor preguiçoso que embrulhou e escondeu o talento do Senhor.
Julgamento justo de Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus é não julgar os atos humanos por sua aparência externa, mas discernir por sua imensa e inefável sabedoria todas as intenções dos corações. E é segundo a intenção com que agem que Deus concede às obras punição grave ou excelente recompensa.
Então, não julguemos também nós apenas pelo testemunho de nossos sentidos, pelo que vemos ou ouvimos.
Mostre-nos os homens um rosto afável ou severo, falem com doçura ou rudeza, dêem-nos ou não presentes, em qualquer circunstancia estejamos atentos não apenas ao que fazem mas à intenção com que fazem para agirmos de acordo com as conseqüências.
Pois nos é mais útil suportar as palavras ásperas de um verdadeiro amigo que se propõe nos corrigir do que escutar a fala doce e lisonjeira daqueles que não nos amam verdadeiramente e cujo único fim é nos agradar. “Melhores são as feridas que nos fazem aqueles que nos amam”, diz Salomão, “do que os beijos mentirosos dos que nos odeiam. “
Veracidade de Deus.
Outra perfeição dos costumes divinos: Deus é verídico em suas promessas. Segundo seu próprio testemunho é mais fácil passar a terra e o céu do que uma só de suas palavras mudar ou deixar de ser verdade.
Pois Jesus não fala nunca em vão, como nós fazemos, mas cada uma das palavras que preferiu no tempo, foi dita por sua sabedoria desde toda eternidade.
Assim como realizou, vindo entre nós, as obscuras predições dos profetas no que toca a sua Encarnação, Natividade, Paixão, Ressurreição, Ascensão e a missão do Espírito Santo, assim realizará a Ressurreição geral que prometeu e o Julgamento futuro. Manterá o que prometeu aos Pobres, quando no ultimo dia, os elevará sobre doze tronos para julgar as doze tribos de Israel e o que prometeu aos que choram quando ele próprio os consolará como uma mãe consola seus filhos. Manterá o que prometeu aos humildes, pois os exaltará na medida em que foram abaixados e desprezados e o que prometeu aos soberbos quando os humilhará tanto quanto se glorificaram. E manterá a promessa que fez aos oprimidos quando, sob o comando de seu Pai, pisar o pescoço dos opressores.
“Pois Deus é fiel a todas as suas palavras; e poderoso para cumprir o que promete”.
Sejamos verídicos, nós também. Primeiramente, mantenhamos fielmente as promessas do batismo feitas por nossos padrinhos em nosso nome e que nos obriga a perseverar na fé católica, a renunciar ao diabo e a suas pompas, a guardar os dez mandamentos. Assim também os votos que pudemos fazer mais tarde espontaneamente: votos de obediência, de continência, de abstinência, de religião etc. Sejamos verídicos nas relações com o próximo. Que nossa palavra seja sim, sim, não, não; isto é, que nosso coração esteja sempre em nossa boca. Sejamos fiéis às nossas promessas; e se devemos o que quer que seja a um vivo ou a um morto, livremo-nos sem tardar de nossa divida. Pois Deus exigirá a verdade e castigará severamente os que a desprezam.
Ah! Ah! Como é odiosa aos homens essa tão excelente verdade pela qual a salvação chega para todos. Ora, o que odeia a verdade odeia o Cristo. Detestam a verdade, traem-na. E não somente trai a verdade aquele que diz a mentira como verdade, diz são João Crisostomo, mas a trai também o que não a diz livremente, pois é preciso dizê-la livremente; e aquele que não a defende corajosamente, pois é preciso defende-la com coragem.
Deus não faz acepção das pessoas.
Outra perfeição dos costumes de Deus é não fazer acepção das pessoas (At 10). Na antiga Lei, não foram homens ilustres e poderosos, mas desconhecidos como Moises, Josué, Gedeão que estabeleceu Juízes de seu Povo.
Mais tarde, escolheu para reinar homens de origem humilde como Saul filho de Cis e Davi o menor dos irmãos e que apascentava o rebanho
Quando fundou sua Igreja não foram os homens nobres e de grande saber, mas simples pescadores que constituiu Príncipes sobre toda a terra, lhes confiando o governo da Igreja. Como diz o Apostolo, “escolheu o que era insensato aos olhos do mundo para confundir os sábios” (1Cor 1). Hoje mesmo, na distribuição de suas graças, Deus não considera nem o poder, nem a força, nem a riqueza, nem a beleza corporal. “Mas aquele que lhe é agradável, de qualquer nação, quem o tema e faça as obras da justiça” (At 10).
Não são somente os homens belos, ricos, ilustres que o Senhor chama para a vida eterna. Mas também os pobres, os cegos, os cochos, os enfermos que empurra para entrar. E, sobretudo pessoas de condição humilde que progridem na Igreja de Deus e abundam em graças espirituais.
No ultimo Julgamento não levará em conta a pessoa dos reis e dos príncipes. Julgará com perfeita equidade os grandes e os pequenos e os glorificará unicamente segundo o grau de humildade e de caridade deles
Guardemo-nos de fazer acepção das pessoas. É preciso, como diz são Gregório, honrar o homem porque é homem e feito a imagem de Deus e não pelo que o envolve como as riquezas, as roupas preciosas, o poder, a nobreza do nome, a quantidade de amigos e de parentes. Na Escritura, a acepção de pessoas é reputada como uma grande imperfeição. Que jamais se ouça um pregador louvar em seus sermões a vida dos ricos e dos grandes que tem sua consolação nesta terra; nem reprovar sem razão a vida pobres e afligidos que gemem aqui na terra.
Também não agrada a Deus aqueles que distribuem esmola fazendo acepção de pessoas. Que a esmola seja mais abundante onde a miséria é maior e que os que progridem no bem sejam ajudados com um maior socorro. Em qualquer circunstância, no entanto, é preciso agir segundo o ensinamento do Apostolo (Rom 13): “Dai a cada homem o que lhe é devido: ao que devemos temor, tememos; ao que devemos honrar honremos”; a quem devemos amar, amemos; a quem familiaridade, familiaridade, segundo o grau de santidade e a dignidade de cada um.
O Cuidado de Deus pelas criaturas.
Outra perfeição dos costumes de Deus é o cuidado que tem por todas as criaturas. Não se vende dois passarinhos por um dinheiro? E de nenhum Deus esquece. Conserva todos os vivos no ser e lhes supre toda necessidade. Cuida da matéria inerte, das ervas e das árvores para que se alimentem e de todos os animais pequenos e grandes que vivem na terra, no ar ou nas águas.
Mas sobretudo cuida dos homens, criados a sua imagem e semelhança. Ele os fez membros de seu Filho bem amado e templos do Espírito Santo. Deu a cada homem um anjo para velar por ele. Vivifica-os na Carne e no precioso Sangue de seu Filho único. Provê às necessidades de todos e, coisa admirável, às necessidades temporais dos pecadores, seus inimigos, mais abundantemente ainda do que aos que são seus amigos.
Toma cuidado das almas do Purgatório permitindo que sejam socorridas pelos desejos da Igreja triunfante, pelos sufrágios da Igreja militante e pelos oblações dos padres, mesmo quando esses o oferecem indignamente e merecem eles mesmos serem condenados.
Se bem que as orações, as esmolas, os jejuns, as peregrinações realizadas fora da caridade não sejam suficientes para apagar os próprios pecados daqueles que os praticam, no entanto é permitido crer piedosamente que tais obras oferecidas pelas almas do purgatório podem lhes obter, por um efeito da benignidade divina, algum alívio e mesmo a remissão de suas penas, em razão dos méritos que tiveram aqui na terra.
Cuidemos, nós também, das criaturas segundo a ordem querida por Deus, temendo que no dia do Julgamento venham testemunhar contra nós.
Cuidemos de todos os homens, assumindo intimamente suas alegrias e suas penas, procurando tirá-los da iniqüidade e reconfortando-os no Senhor por nossos desejos, nossas orações e nossos bons exemplos.
Cuidemos das almas do Purgatório, aplicando-nos em aliviar suas penas com obras de misericórdia.
Cuidemos dos Anjos, afim de que não se sintam frustrados, por nossa culpa, da alegria que devem receber pelos progressos que, graças aos seus bons ofícios e a sua proteção, fazemos no bem.
Enfim, e acima de tudo cuidemos carinhosamente do próprio Deus, fazendo em toda parte e sempre o que ele mais deseja que façamos, e a que ele mais particularmente nos destinou.
Deus ignora a perturbação.
Há outra perfeição nos costumes divinos: nada o perturba. Quando às vezes a Escritura fala de sua cólera, de seu furor, quer somente o mostrar vingando-se do pecado ou tirando com justiça a graça da criatura.
Mas Deus mesmo é inteiramente impassível; ele não tem contrario. Sua simplicidade é tão perfeita, goza em sua própria natureza tal felicidade, tão grande alegria que perturbação alguma, jamais o atinge.
Devemos, então, tanto quanto possível, fugir de tudo o que nos perturba, pois a graça não permanece em uma alma agitada.
Mas para guardar a paz interior, é preciso se ocupar veementemente de Deus. É preciso que o amor, forte como a morte, realize em nós a obra da morte afim de que vendo as ações de quem nos rodeia, não a vejamos, e ouvindo as palavras que possam nos prejudicar ou que são ditas contra nós, não as ouçamos e nosso coração não se ocupe com essas coisas. Sejamos a exemplo de Davi cegos, surdos e mudos e como homens insensíveis. Ego tanquam surdus... et sicut mutus (Sl 37,14).
Entreguemo-nos fielmente as coisas de Deus e deixemos os homens à sua própria consciência, ao julgamento de seus superiores e à ultima justiça de Deus que disse “A vingança me pertence e lhes farei no tempo oportuno segundo suas obras”. Cuidemo-nos para não perturbar os outros, temendo o retorno também de perturbação, como costuma acontecer e que nossa consciência não seja atormentada.
Desinteresse de Deus.
Outra perfeição dos costumes de Deus é ter feito e disposto tudo ignorando qualquer pensamento de interesse. Considerou unicamente a abundância de sua eterna e imensa bondade e ordenou tudo para o maior bem da criatura angélica e humana. Na criação e na conservação dos céus e de tudo que encerra, não propôs nenhuma vantagem para si mesmo mas para os homens e os anjos. Ordenando entre as criaturas o bom tempo ou as intempéries, a fome ou a prosperidade, a saúde ou as epidemias, tudo fez para os homens. Seja lhes conferindo ou lhes retirando a Graça, dando um ser vigoroso ou débil, pobre ou rico, fazendo-os viver ou morrer, permitindo aos bons ou aos maus de reinar, de socorrer ou de afligir os pobres, de julgar com equidade ou ofender a justiça – Deus faz tudo, ordena tudo, permite tudo por causa de sua infinita bondade em vista do bem comum dos homens.
Do mesmo modo, seja pura nossa intenção em nossos desejos, orações, jejuns, esmola, em todos os nossos atos, em todas as nossas palavras, em tudo que suportamos da parte de Deus.
Sem visar nosso interesse, sem procurar agradar aos homens sem medo de lhes desagradar, sem mesmo ter a intenção do que podemos receber de graça no tempo presente e de glória no tempo futuro, devemos somente considerar a admirável bondade de Deus, agir puramente e antes de tudo por ele e em segundo lugar pela salvação do próximo.
Quanto mais nossa intenção for pura e fortemente dirigida para Deus, menos vamos pensar em nossa própria utilidade e mesmo na dos homens – mais nossas obras serão agradáveis a Deus e proveitosas para todos. Mas, o quanto perderão do valor para Deus e para a universalidade dos seres se vemos nelas outra coisa que não seja a pura bondade do Senhor.
“Com sua pá separará o grão da palha”, diz o Evangelho (Mt 3). Sua sabedoria dividirá o puro do impuro, guardará somente o trigo em seus celeiros e queimará a palha, quer dizer, só recompensará com o céu e com o bem de todos o que tiver tido uma intenção pura, ao fazer, omitir ou sofrer por ele. “O Senhor me fará justiça”, diz Davi, “segundo a pureza de minhas mãos diante de seus olhos” (Sl 17).
Deus faz bem todas as coisas.
Nos costumes de Deus há outra perfeição em virtude da qual todas as suas obras são excelentes.
O céu e a terra, os Anjos e os homens e todas as outras criaturas são tão perfeitas que não se poderia pensar em fazer melhor.
Soberanamente perfeita é, sobretudo, a Obra da Redenção, pois somente Deus, no céu ou na terra, a poderia realizar.
“Levou a prudência a seu cume quando venceu o diabo pelo madeiro com o qual aquele tinha triunfado” dissimulando até o fim o poder divino debaixo da fragilidade humana. “Porque se os demônios o tivessem reconhecido, diz o Apostolo (1Cor 2), nunca teriam crucificado O Senhor da gloria”, isto é não teriam empurrado os judeus para o crucificarem.
E tudo que Deus faz hoje: castigando os pecados ou os escondendo por causa da penitencia, conferido suas graças aos eleitos ou as retirando, comportando-se familiarmente com a alma fiel ou como um estrangeiro – se o ar é frio ou quente, se chove, se venta, esteja seco ou úmido, abundem os frutos da terra ou apodreçam – não seria possível que fosse melhor para o momento porque a imensa sabedoria de Deus produz pela caridade e benignidade extrema cada coisa no tempo conveniente.
Realizará perfeitamente também a obra da remuneração, quando atribuir a cada pecado e a cada membro que servir de instrumento à iniqüidade seu justo castigo, segundo a quantidade e a gravidade das faltas cometidas; e recompensar com justiça cada ato de boa vontade, cada palavra, cada exemplo em razão da intensidade do amor sobrenatural que os tiver produzido.
Devemos então, nós também, ter todo o cuidado em realizar o melhor possível cada uma de nossas ações. Façamos pela virtude de Nosso Senhor Jesus Cristo, unidos aos desejos da Igreja triunfante e militante, em nome de nosso Criador, como se nossa salvação e o interesse de Deus e da universalidade dos seres dependessem de uma só ação que fizéssemos, como se nunca mais recomeçaríamos um ato semelhante ou que não devêssemos fazer mais nada depois disso.
Pois cada vez que em nossas ações se introduz um pensamento estranho, uma solicitude para com outro objeto, o espírito se distrai do que está fazendo. Por exemplo, quando estamos rezando e nesse momento pensamos em escrever ou fazer qualquer outro trabalho, nossa atenção na oração diminui e logo deixamos o que tínhamos começado.
Benignidade de Deus.
Nos costumes de Deus há outra perfeição que o faz não julgar nenhum homem segundo sua maldade ou sua justiça passada ou futura, mas como se apresenta sua alma.
Assim não condenou Paulo por causa de sua maldade anterior, nem salvou Judas par causa de sua justiça passada.
Mas nós, miseráveis, qualquer que seja o progresso que alguém faça em suas virtudes ou santidade, não deixamos de nos lembrar de sua injustiça de antigamente. No entretanto se o justo se desvia do caminho da justiça um momento qualquer, mesmo que seja uma vez, mesmo que se arrependa, não nos lembramos mais de sua santidade.
Deus também não pune nunca duas vezes pela mesma falta se o primeiro castigo é suficiente e se a correção é seguida da pena.
E nós, miseráveis que somos, infligimos, se estiver em nosso poder, cem castigos dos mais terríveis por uma só injuria que nos é feita.
A Alma deve se conformar a Deus.
A alma fiel deve se esforçar a se conformar o mais possível aos costumes divinos de que acabamos de falar. Pois, quanto mais for conforme ao seu Criador nesse século, mas lhe será semelhante na vida futura. E quanto mais lhe for semelhante, maior será sua beatitude, maior gloria dará a Deus e será útil a toda criatura.
Desde agora alegre-se alma fiel pois possuirá esses costumes na vida eterna, Quando seremos semelhantes a Deus e o veremos tal como ele é.
Oração.
Ó dulcíssimo Jesus que, antes de o desejarmos, imprimistes vossa imagem em nossa alma, nós vos pedimos em nome de tudo o que sois e por tudo o que sois, dignai-vos também imprimir misericordiosamente em nós vossos costumes divinos, a fim de que, para nós, não seja perdido vosso trabalho, e que nossa vida não seja vã ou entregue ao perigo.
Não podemos imitar Deus em todas as coisas.
Em Deus há outras perfeições que são inimitáveis e que só podemos admirar. Assim: somente Ele conhece os segredos dos corações; conhece a si mesmo e ama a si mesmo perfeitamente; somente ele goza plenamente de si mesmo e acha em si o louvor que lhe convém; somente ele se basta e não tem necessidade de nada fora de si.
É o único de onde todo bem procede, o único em que consiste a beatitude de todos. Eterno, incriado habita sozinho em uma luz inacessível. Somente ele pode fazer qualquer coisa do nada; somente ele conserva todas as coisas no ser. Somente ele perdoa os pecados. Somente ele sabe a hora do Julgamento. Somente ele conhece o numero dos eleitos. Bendito seja Deus. Amém.
Tradução Anna Luiza Fleichman (a partir da tradução francesa, de Raissa Maritain)